No dia seguinte parti de Cardiff em direção ao litoral norte de Cornwall.
No caminho, passei por uma pequena cidade chamada Boscastle. Ali havia um lugar que há muito tempo queria visitar: o Museu da Bruxaria e Magia.
Parei carro em um estacionamento, andei um pouco e comprei o ingresso. Entrei. Aquilo era um pouco da Sombra que queria ver. Sempre tive uma certa atração pelo tema, principalmente por conta da perseguição que principalmente mulheres sofreram por causa de suas crenças e atividades.
Muitas feiticeiras queriam curar as pessoas. Outras, interferir na vontade alheia. Algumas, fazer mal a alguém. Vi tudo aquilo sem querer criticar, apenas pela curiosidade.
A energia do local não me afetava de nenhum jeito. Pelo contrário, achei tudo uma exposição a turistas, com limitado contexto histórico e uma certa cacofonia de temas.
Vai ver que as bruxas são mesmo assim. Elas não se preocupavam com registros.
Um deles saiu de lá em 1998. Exceção à regra, era particularmente interessante.
Por um bom tempo restos da feiticeira Joan Wytte, morta havia 185 anos, estiveram expostos de forma humilhante diante de um caixão. Crianças olhavam com desdém enquanto o tocavam. Seu apelido era a Fada Lutadora de Bodmin Town, por conta de seu tamanho e ataques violentos.
Um números de fenômenos poltergeist levaram o curador do museu a chamar uma bruxa que morava em Land's End. Cassandra Latham, a primeira bruxa profissional full-time da Grã-Bretanha moderna, disse ter contatado Wytte em um ritual e recomendado um enterro digno, perto da floresta, na noite de Halloween. Seus restos foram colocados em um cesto com lã, uma garrafa de brandy, um cachimbo de barro com tabaco e algumas ervas mágicas para auxiliá-la no caminho.
O local é desconhecido e Wytte não será mais contatada, podendo contudo voltar "à hora que quiser".
Wytte, como a maior parte das bruxas apresentadas no museu, eram velhas e feias. Provavelmente era assim mesmo, já que eram pobres e se morria cedo naquela época. Uma dita feiticeira era uma pessoa com razoável conhecimento, coragem e reclusão, sem interesse algum em agradar homens que não admitiam qualquer forma de insurgência.
O estereótipo permaneceu por muito tempo, sendo apenas revisto após os movimentos contraculturais feministas.
Hoje as Wiccans aparecem por todo lugar, bonitas e maquiadas. Elas agradam os homens, que aceitam - um pouquinho mais - sua autonomia.
As religiões ainda as condenam. Muitos dizem que elas se casaram com Satã.
É dificílimo se contrapor à força dos arquétipos. Se você por um acaso estiver enfrentando dificuldades em sua vida, lembre-se disso. Pense no que você deseja e reflita sobre o que você oferece em troca.
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Nas trilhas de Avalon
Non-FictionUm mergulho nas lendas arturianas e na tradição esotérica ocidental. Com Dion Fortune, Santo Antônio de Pádua, Aleister Crowley, Joan Wytte, Johann von Goethe, Hermann Hesse, Fernando Pessoa, Rowena Cade e Billy Howlins, William Butler Yeats, John...