66. Deus, não Sorte

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De Edimburgo, Escócia, parti para Cardiff, no País de Gales.

Compromissos profissionais me deram essa oportunidade única. Lá no sudoeste britânico, seguiria os passos de minha curiosidade e intuição, percorrendo não só as trilhas das lendas arturianas como também - e por que não dizer principalmente - as pegadas de Violet Mary Firth.

Mais conhecida como Dion Fortune (1890-1946), Violet é uma das autoras mais influentes em minha vida. Feminista, cristã e revolucionária, seus trabalhos envolvem mística, psicanálise e sociologia. Seu trabalho - ficção e não-ficção - é um dos pilares dos estudos esotéricos ocidentais no século XX. Seu nome é significa "Deus, não sorte", adaptação do mote de sua família e adotada como seu lema mágico durante seu envolvimento com a Aurora Dourada ou Golden Dawn. Reconhecida como uma das figuras mais luminosas e significativas do pensamento esotérico do século XX, dedicou a sua vida ao renascimento da Tradição de Mistérios do Ocidente. Seu slogan era: "Eu desejo saber para servir".

Ela tinha profundo conhecimento esotérico e uma abordagem clara, sem apelar para absurdos. Isso fez dela uma das mais acessíveis ocultistas e escritores do século XX. Contudo, as convenções dos segredos considerados ocultos a impediam de ser explícita sobre os detalhes práticos da magia, exceto no trabalho de ficção. Assim, ela produziu livros que, quando lidos por pessoas sensíveis, têm o mesmo efeito de uma iniciação ritual. O ritual é frequentemente usado no ocultismo hermético, porque fornece o elo essencial entre os mundos internos, alcançado pela visualização até dentro do próprio plano físico. No ritual se utilizam a concentração, a construção de imagens, o movimento físico e a simbologia, luz de velas, cantos, essências, vestidos e espíritos invocados. Resolveu passar da mediunidade para o ritual afirmando que para um trabalho esotérico é preciso trabalhar com as condições da área em que vive. No Ocidente movimentado e barulhento é muito mais difícil se concentrar do que no Oriente, razão pela qual o ritual foi usado como uma ferramenta de meditação em ação.

Nascida pelo nome de Violet Mary Firth no dia 6 de dezembro de 1890, no País de Gales, Reino Unido, seu pai era advogado e sua mãe uma médica inspirada na Ciência Cristã. A mãe de Violet achava que a alma de sua filha foi alterada no nascimento. Quando Violet tinha 4 anos, começou a ter visões e memórias de uma antiga civilização, chamada Atlântida. Ela acreditava que tinha sido uma sacerdotisa do templo lá em uma antiga vida.

Altamente imaginativa e hipersensível, Violet era também muito independente. Aos 23 anos, ela era uma das psicanalistas mais bem pagas de Londres. Embora primeiro tenha se concentrado em Freud, rapidamente mudou para Jung concordando que os místicos sabiam mais sobre os segredos da vida do que os cientistas jamais saberiam.

Enquanto trabalhava em uma clínica, frequentava a Sociedade Teosófica e percebeu que a psicologia sozinha não era suficiente para ajudar seus clientes. Em 1930 escreveu um livro chamado Autodefesa Psíquica, advertindo para o uso indevido de poderes ocultos e aconselhando sobre como se defender. Por este, a aura se danifica de dentro para fora por reações instintivas ou emocionais de medo ou desejo; quando se controlam essas reações a aura será impenetrável e o ataque retornará ao remetente.

Seguindo o ditado - "quando o aluno estiver pronto, o mestre aparecerá" - no final da Primeira Guerra Violet conheceu o Dr. Theodore Moriarty, maçom, mágico solista e ocultista, com especial interesse em psicologia e cura. Ele estava convencido de que doenças ou doenças mentais só poderiam ser explicadas pela investigação de vidas passadas. Moriarty dizia ler a aura, projetar seu corpo astral e fazer com que objetos de um local desconhecido aparecessem em seu quarto. Sabia como o universo funcionava e se lembrava de vidas anteriores como sacerdote no Egito e na Atlântida. Tinha uma forte crença na astrologia e sabia como lidar com entidades ou formas de pensamento, absorvendo sua energia em sua própria aura. Moriarty treinou Violet até que tivesse conhecimento suficiente da Tradição Ocidental. Mais tarde lhe dedica o romance "Os Segredos do Doutor Taverner", reconhecendo a maior dívida de sua vida.

Entre 1916 e 1919 serviu no Exército Britânico, onde começou a desenvolver visões astrais. Buscou explicações na Teosofia e ficou obcecada com a necessidade de contatar os Mestres. Logo depois, num sonho se viu em um planalto no Himalaia, ajoelhando-se diante dos pés de dois Mestres - Jesus, o Senhor da Compaixão e outro, vestido com um manto de azul índigo escuro que ela não reconheceu mas sentia possuir grande força intelectual. Pediu para entrar em seu serviço e pouco depois começou a receber idéias que nunca lhe haviam chegado antes e que agora se formulavam em sua mente. Seu canal de comunicação estava aberto.

Em 1919, Violet ingressou na Ordem Hermética da Aurora Dourada ou Golden Dawn, em cuja cerimônia de iniciação mudou seu nome para Dion Fortune. Ali Maiya Tranchell-Hayes a treinou em magia ritual e mediunidade de transe, mostrando-lhe diversas tradições antigas como o hermetismo e o cabalismo, bem como obras como O Livro de Enoch, a Chave de Salomão e O Livro de Abramelin, o Mago.

Em 1920 escreveu A Filosofia Esotérica do Amor e do Matrimônio, sobre o conceito de sexo e polaridade sexual. Este livro foi logo seguido por Ocultismo Seguro, onde adverte para os perigos da ciência oculta. Esses livros levaram ao rompimento com a Golden Dawn, quando a líder Moina Mathers achava que Dion estava abrindo os segredos da Ordem. Em 1924 formou sua própria sociedade secreta, a Comunidade da Luz Interior em Glastonbury.

Em 1927 se casou com o médico Thomas Penry Evans, que embora fosse médico ela nele reconheceu um sacerdote de vidas passadas, uma espécie de Merlin. Juntos mudaram o nome da Comunidade para Fraternidade da Luz Interior, com uma escola em Queensborough Terrace Londres (apelidada de 3QT), baseada na Doutrina Cósmica, na Qabalah Ocidental e nos arquétipos arturianos. Após a morte de Dion, o grupo mudou o nome para Sociedade da Luz Interior, que se distanciou de seus livros - exceto a Doutrina Cósmica e a Cabala Mística. Para se evitar um culto pessoal, foram destruídas quase todas as suas fotografias, diários, objetos pessoais e cartas, numa cerimônia hoje considerada vergonhosa.

Informações sobre o trabalho interior e sobre a própria Dion são mantidas em segredo. Não há conversas com pessoas de fora da sociedade. Acabei descobrindo isso quando quis visitar a sede da organização em Londres quinze anos atrás. A casa estava fechada.

Havia desistido de procurá-la, mas parecia que ela estava me chamando.

Não pude dizer não.

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