114. As duas fontes

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Fui depois atrás das águas.

Berachah está cercada de lugares mágicos. Em frente, a fonte vermelha. Atrás, a fonte branca. Ao lado, a pousada Berachah no terreno de Chalice Orchard, casa e templo de Dione-Violet. Acima, a trilha para o imponente Tor.

Perto do Tor existem duas fontes muito conhecidas. Uma delas é a nascente vermelha do Chalice Well. A outra, fonte branca, se chama White Spring e pertence a uma propriedade privada. Ambas se encontram ao lado da Well House Lane, estrada até o Tor.

O par vermelho e branco contrasta como macho e fêmea, ou como os saxões e britânicos das batalhas arturianas. Brotando lado a lado, as águas vêm de lugares distintos; uma é rica em óxido de ferro e a outra em carbonato de cálcio. Ambas, dizem, vêm do Outro Mundo que existe abaixo da montanha.

Um dos poços mais antigos da Grã-Bretanha, Chalice Well se situa entre o Tor e Chalice Hill e teria sido construído pelos druidas. Símbolo do aspecto feminino da divindade, tem como par a White Spring. É um destino popular para os peregrinos de todos os credos, em especial aqueles que buscam o feminino divino. O local teria sido também onde José de Arimatéia colocou o Santo Graal. O vermelho da água representa o sangue de Cristo e os pregos de ferro enferrujado usados na Crucificação.

Cercado por belos jardins e pomares, nele o visitante pode experimentar a tranquilidade de um local considerado sagrado. Por mais de dois mil anos este tem sido um lugar onde as pessoas se reúnem para beber as águas e encontrar consolo, paz e inspiração. O poço está em uso praticamente constante há pelo menos dois mil anos, mesmo durante a seca. Óxidos de ferro dão à água uma tonalidade avermelhada, que acreditam ter qualidades curativas. A gestão é feita por uma entidade fundada pelo ocultista Wellesley Tudor Pole em 1959. Eventos frequentes são realizados nos terrenos de Chalice Well, incluindo celebrações anuais para os solstícios de inverno e verão, Dia Mundial da Paz, Páscoa, Michaelmas (dia de São Miguel) e Samhain (Halloween).

Os poços frequentemente aparecem na mitologia galesa e irlandesa como portais para o mundo espiritual. A sobreposição dos mundos - interno e externo - é representada pela cobertura de Chalice Well, projetada por Frederick Bligh Bond em 1919. Os dois círculos interligados constituem o símbolo conhecido como Vesica Piscis. No desenho da tampa do poço, uma lança ou espada bifurca esses dois círculos, uma possível referência a Excalibur, a espada do lendário Rei Artur, que alguns acreditavam ser enterrada na vizinha Abadia de Glastonbury. Folhagens representam o Espinho Sagrado. O desenho da Vesica é típico de muitos diagramas primitivos, representando a verdade espiritual por meio da geometria, sistema mais intelectual e mais puro concebido pela mente. Assim, a verdade é "eaeonial" ou eterna, e a geometria é sua melhor intérprete.

Já a Fonte Branca fica em um templo em estilo vitoriano construído em gratidão ao dom da água pura. Sem janelas, a luz externa só entra por uma portão na frente. Cavernoso e escuro,  iluminado por velas, seu misterioso permanece. Oferece um contraste maravilhoso para os jardins ensolarados de Chalice Well onde está a Fonte Vermelha. O interior é constituído por três abóbadas abobadadas de cinco metros de altura, com belos pisos curvados - como o casco de um barco atracado no portal para o Outro Mundo. Com sua temperatura constante e o som da água perpetuamente fluente, é um espaço único e sagrado. Uma série de piscinas foi construída de acordo com os princípios da geometria sagrada, e santuários simples em honra das antigas energias e espíritos de Avalon foram criados dentro do templo. A Ley Line de Michael flui através deste lugar, que honra Brigid como guardiã, Nossa Senhora de Avalon. A Rainha das Fadas faz sua presença neste espaço sagrado através de chamas de velas e lamparinas, protegidas pelas salamandras, os elementais de fogo. A chama de Brigid foi mantida acesa por suas irmãs durante mil anos, abrangendo os tempos druídico e cristão. Até onde se sabe, tal chama foi extinta em 1220 por ordem de um bispo; outras fontes sugerem que ela foi perdida na Reforma de Henrique VIII. Em 1807, a ordem das irmãs Brigidinas foi reformada dentro da igreja católica romana. Em 1993, as irmãs da ordem reacenderam a chama de Brigid e a mantêm em seu mosteiro em Kildare, Irlanda. A chama se tornou-se um farol para os direitos humanos. Reunir-se nos dias 1 e 2 de fevereiro em Glastonbury em torno do fogo de Brigid tornou-se uma tradição, símbolo do amor divino no coração de uma nova comunidade, um modo de vida tribal celta, uma expressão da inspiração, de amor pela justiça, de generosidade e de poderes mágicos em profunda conexão com a roda das estações.  Ali se reúnem peregrinos e companheiros da Fonte, homens e mulheres que dedicam seu tempo e experiência por livre vontade, que criaram o templo e continuam a cuidar dele, inspirados e grandemente ajudados pelas bênçãos do espírito. De acordo com o senso de sagrado na White Spring, não há cobrança ou expectativa de doação, e ninguém é pago.

Em minha sala de trabalho guardo - com orgulho, carinho e respeito - as águas dessas duas fontes. 



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