54. A Cidade Espanhola

14 0 0
                                    


Não aguentei.

Fugi de Edimburgo e voltei para Whitley Bay.

Três horas de carro, está valendo. Vim dormir perto da Cidade Espanhola, litoral de Newcastle upon Tyne, nordeste da Inglaterra.

Fazem mais de vinte anos que morei na região, mas perdi a conta das noites em que sonhei que ainda estava lá. Aquela praia era muito especial, ia quase todo final de semana, fizesse calor ou frio.

Lembro como ontem dos primeiros dias, quando fui convidado para um piquenique na praia de Cullercoats. Falésias, areia branca e pedras, gaivotas, água fria, muito bonita. No meio, uma igreja feita de pedra, daquelas bem pontudas. Sanduíches de atum e bate-bola. Era rugby, esporte que mostra quão descoordenado um tiozão neófito pode ser diante de uma garotada experiente na casa dos vinte.

A praia começa nas ruínas do Priorado de Tynemouth, numa falésia ao lado da foz espraiada do rio. Termina uns cinco quilômetros adiante, numa vilinha chamada Whitley Bay, com vista para o farol de Blyth. Lugar povão, onde ainda se come fish and chips embrulhado em papel de jornal.

Ali está a Spanish City, prédio de 1910, salão de baile que dez anos depois se tornou um parquinho de diversões.

Passei por lá em 1997. O local era bastante decadente, caindo aos pedaços, mas ainda com o antigo glamour dos brinquedos, luzes, barulho e agito.

No início da década de 1960 um menino de Blyth passeava sempre por lá. Sempre imaginei a cena dele extasiado diante de tudo aquilo.

Voltei até lá agora, querendo rever o parquinho. Soube que ele fechou em 2010, dando lugar a um sóbrio restaurante. As luzes, o barulho, a sujeira e a bagunça se foram para sempre. O menino também.

Tinha sido lá, debaixo da cúpula branca da Cidade Espanhola, que ele assistiu pela primeira vez um show de rock. Crescido homenageou o lugar comparando-o aos célebres parquinhos americanos de Steeplechase, Palisades e Rockaway.

Nenhum deles existe mais.


Nas trilhas de AvalonOnde histórias criam vida. Descubra agora