28. A capa preta

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Junto com Raul Seixas, Paulo Coelho fundou a Sociedade Alternativa, uma linha também baseada nos escritos de Crowley.

Por mostrar o lado negro do oculto, Crowley foi considerado pela BBC um dos 100 britânicos mais influentes do século XX. Dividiu com Marilyn Monroe a capa do álbum Sargeant Peppers dos Beatles. Foi citado em músicas por David Bowie e Ozzy Osbourne . Inspirou fortemente Jimmy Page, do Led Zeppelin, que adquiriu sua mansão em Boleskine, no Lago Ness, Escócia.

Inteligente e dedicado, Crowley decodificou diferentes escritos, praticou montanhismo de altitude e viajou pelo mundo. Era muito influente, estudou em Cambridge, foi amigo de Fernando Pessoa e conselheiro de Winston Churchill. Por seus conhecimentos, foi chamado para interrogar o também ocultista e oficial nazista Rudolf Hess pelo serviço britânico de inteligência durante a 2ª Guerra Mundial.

Egocêntrico, bissexual libertino, misógino e pedófilo, crítico das relações sociais e com alguns estranhos preconceitos raciais, o autointitulado Megatherion ou Besta 666 se tornou viciado em heroína. Era voltado a estranhas práticas rituais, as quais não se pode dizer que respeitavam as pessoas.

Pertenceu à Golden Dawn, Ordem Hermética da Aurora Dourada de Londres. Expulso, de lá saiu para fundar uma seita chamada Thelema ou Ordem do Templo do Oriente, com uma loja na cidade de Cefalu, Sicília. Execrado pela imprensa britânica após a morte de um discípulo por intoxicação, foi expulso da Itália por Benito Mussolini em 1923. Foi considerado pela imprensa à época como "abominável", "blasfemo", horrível", "repugnante" e "o pior sujeito do mundo".

Morreu pobre e suas cinzas foram espalhadas em lugar indefinido. Vi pela Internet que a velha casa em Cefalu hoje está em ruínas e a de Boleskine pegou fogo em 2012. Por uma estranha coincidência estive perto de ambas.

Posso dizer que em ambas estava bastante triste, se é que isso guarda alguma relação.

Essa e outras coincidências me incomodavam profundamente. Sempre o evitei. Talvez por questões religiosas, talvez por crenças em espíritos e energias de baixa vibração. Mas quanto mais o evitava, mais seu nome e imagem me apareciam.

Há cerca de vinte anos, uma vidente sem me conhecer e sem eu falar nada, assim que me viu perguntou o que era aquele ente de capa preta atrás de mim. Sabia quem era e perguntei como poderia me proteger. A resposta estava na espada do Arcanjo Michael, ou São Miguel.

Por via das dúvidas, um amigo ligado à Eubiose, sugeriu nessas horas pronunciar os versos conjuratórios "Kodoish Kodoish Kodoish Adonai Tsebayoth", ou Santo Santo Santo, Senhor Deus do Universo.

Sem uma conclusão definitiva sobre a questão perdi o medo de falar no assunto, achando melhor estudar do que cegamente evitar. Pode existir alguma coisa em outros planos cuja polaridade se alinhe com essas correntes, e que seja até possível obter sucesso material no curto prazo, às expensas não sei de que. Desconfio de personagens ilustres que, ligados a essas ou outras formas-pensamento ou egrégoras cujas finalidades são discutíveis, alçaram altos vôos em suas vidas profissionais.

Pessoas como eu, ávidas por uma orientação nos tempos difíceis, podem se tornar alvos fáceis para tal informação. Sabia disso e desconfiava de falsos profetas que induzem a estados de transe e lavagem cerebral. Mas fato é que esse apelo é muitíssimo acessível, especialmente aos que fazem uso de drogas alucinógenas e outras formas correlatas de inspiração. Talvez o maior perigo resida no principal mote da chamada magia negra, que prefiro chamar de manipulação. No misticismo, no ocultismo e até na psicologia e religião deve haver uma boa tomada de consciência sobre o poder da vontade e as forças que ele pode mobilizar. Fala-se que querendo tudo é possível mas é preciso respeito ao livre arbítrio individual e responsabilidade pelo nível de informação passada adiante.

Crowley escreveu às vezes como um ateu, às vezes como um monoteísta, e em outros como um politeísta. O maior objetivo do mago era fundir-se com um poder superior ligado às fontes do universo, ainda que ele não se preocupe em definir esse poder consistentemente. Às vezes ele pode ser chamado de Deus, às vezes de Um, às vezes como uma deusa e às vezes como o próprio Sagrado Anjo Guardião ou Eu Superior. Em última análise, pode se contentar com a natureza da divindade permanecendo um mistério.

Revisões mais recentes dizem que Crowley não adorava aquilo em que não acreditava; ele não acreditava na figura que a Igreja define como "Satã". Diabo seria o nome dado a qualquer deus de que o crente desgoste ou tenha medo. Ele se interessava bastante pelo processo histórico segundo o qual as autoridades religiosas puseram a realização sexual na esfera do diabo - e, com o sexo, também as mulheres. As crenças de Crowley podem também ser vistas como positivas, libertadoras e espirituais

Isso merece, no mínimo, uma reflexão.

O britânico correu o mundo atrás de conhecimento espiritual e se rebelou contra as convenções. Amante insaciável, buscou a união entre sexo e misticismo. Viciado em heroína, foi espião em duas guerras. Tinha um irresistível carisma e talento para o relacionamento social. Escritor, artista e ensaísta, como aventureiro e, para alguns, guia espiritual, reviveu algo cujas raízes são muito antigas.

Estava muito à frente do seu tempo e muito expôs sobre a humanidade.

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