96. A Igreja do Graal

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Glastonbury é por muitos considerada o local da Igreja do Graal.

No século XII a Europa era uma profícua mistura de culturas: cristã, celta, gnóstica, hermética e sufi se misturavam e interagiam em interessantes combinações. O Graal, de certa forma, simboliza e potencializa essas misturas.

O ritual da Igreja Celta lembra, em muitos aspectos, a Eucaristia católica. Até o final do peimeiro milênio o rito da missa eucarística não estava ainda definido como é hoje. Tratava-se de uma refeição que expressava a solidariedade e a comunhão de um grupo somente. Ao final do século XII elementos como a Elevação da Hóstia e o soar dos sinos se tornaram conhecidos, com cenas intensas e dramáticas que envolviam incenso, velas e roupagens. Nem todos acreditavam na transmutação ou real presença do Cristo, e de que vinho e pão fossem seus sangue e corpo. Isso só se tornou doutrina oficial após o Quarto Concílio de Latão, em 1215, reforçando o poder papal e considerando qualquer desvio um crime punível.

As culturas pagãs eram muito ricas, com foco bastante feminino. Uma das principais deusas celtas é Mor Rigan, Alta Rainha de Danaan, raça mitológica de onde derivaram os ensinamentos dos druidas e bardos. Os druidas que caminhavam pela Bretanha eram comparados a outros mestres das artes antigas, como os brâmanes indus ou os magos persas. Autores sugerem que o nome druida venha do grego para carvalho, e que ensinavam um sistema pitagórico que descrevia o formato da Terra, a órbita das estrelas e o que os deuses pretendiam com tudo isso. Grandes monumentos como os de Avebury e Stonehenge são atribuídos aos druidas. Outra figura que lhe deu continuidade é a de Brigit, a Noiva (Bride), tornando-se uma santa cristã. Essa cultura de alguma forma tinha a noção da vinda do Cristo e os mistérios da Noiva eram conhecidos por todo o Mediterrâneo, até a Terra Santa, podendo inclusive ter influenciado na escrita do Novo Testamento. Essa era a razão das alegadas primeiras missões até a Bretanha. A chamada Igreja Celta foi o resultado da fusão desses credos, com muitos sacerdotes atuando também como druidas. Não há disputas entre os sacerdotes do Filho (Son) e os sacerdotes do Sol (Sun). O caldeirão era o símbolo divino feminino irlandês, equilibrado com o símbolo masculino da espada de Cristo. Essa combinação de influências está presente nas lendas arturianas e na atmosfera de Glastonbury.

A mística em torno de Glastonbury pode ser descrita por três caminhos ou raios coloridos: o laranja do conhecimento mágico ou hermético, o verde do poder dos elementos e o púrpura da devoção mística. Neste último se situa o mito do Graal, vaso da força de Cristo. A Igreja do Graal é construída pelo pensamento eterno no coração de cada homem; cada homem é seu próprio sacerdote e eleva-se invocando a chama do fogo do Espírito Santo. O Caminho do Graal é também uma maneira de subir pelos planos cabalísticos pelo Caminho do Meio, chegando primeiro ao Sol-Filho-Tiphareth e depois ao Topo-Pai- Kether. Dessa forma, seria o cálice - e não a cruz - o símbolo sagrado que poderia receber a influência divina do Espírito Santo. Fiel aos princípios da igreja original dos primeiros celtas, a Igreja do Graal encorajou a autonomia de cada indivíduo, homem ou mulher, que busca a Deus.

Na Mística Avalon, os mitos arturianos de Artur, Excalibur, Graal, Morgan le Fey, José de Arimatéia e o Espinho Sagrado dificilmente se relacionam em uma único relato historicamente crível, mas mesmo assim criam passagens eloquentes, de grande força, evocando conceitos como os do Caminho Interno do autoconhecimento e da Igreja Invisível da consciência coletiva criada ao longo de muitos anos, numa atmosfera mental que envolve determinados lugares considerados sagrados.

Tais egrégoras são extremamente importantes para manter uma coesão de pensamentos para a evolução de nossa civilização.

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