7 Os dois lados da parede

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Alicia

Me arrastei para a poltrona, minhas pernas tremiam, os músculos sem uso durante muito tempo em que estive presa naquela pequena casa, agora se retesavam, implorando que a dor parasse. Mordi a gola de minha camisa apertando os olhos tentando inutilmente afastar a dor que me consumia.

Não consegui forças para subir na poltrona, apenas apoiei minha cabeça, e abracei minhas pernas virando uma bola de dor. Gemi, sem conseguir me controlar, sem conseguir ignorar meus dentes batendo, ou o sangue entre minhas pernas. A ardência que subia de meu centro até os ouvidos. Eu estivera sobre a mesa, ameaçada com sua arma, calada com seu cinto, impedida de me debater por seus braços, e seu corpo, o dobro do meu, me aprisionando contra o móvel por, pelo que me pareceu, horas... Só me lembrei que ainda estava viva graças a dor

Fechei os olhos, e ouvi as batidas, leves, sutis, mas eram batidas.

Tentei me arrastar, mas não consegui mais, minha cabeça pendeu para o lado sem forças.

Alguns minutos depois, as batidas recomeçaram. Com os olhos fechados, reconheci cada símbolo, como se estivesse escrito. "Quem é você? O que quer de mim?" em português.

Juntei minhas forças, me ajoelhei e engatinhei até a parede. Não consegui bater, minhas mãos não tinham coordenação, estava fraca e machucada demais. Bati a mão contra a parede, somente para mostrar que eu estava ali. ⸻ Will... ⸻ sussurrei sem fôlego ⸻ Will! ⸻  chorei baixinho.

Fechei os olhos, sabia que ele não conseguiria me ouvir, mas alguém ouviu...

Fui arrancada do chão pelos cabelos, até ficar de joelhos ⸻ O que pensa que está fazendo Desgraçada? Tentando pedir ajuda?⸻  riu ele me erguendo ⸻ Ninguém virá por você, estorvo! Ninguém se arriscaria por uma coisa como você.

Ele sorriu quando socou meu estômago, fazendo sangue saltar de mim, preso em minha garganta.

Já não sabia o que eram lágrimas, ou sangue escorrendo por mim, mas quando o segundo soco veio, usei o ar saindo de mim para gritar, gritar o mais alto que pude. Gritar o nome dele, e ser erguida do chão, pelos cabelos.

Fechei os olhos, e pedi para morrer, sem conseguir contar quantas vezes naquele dia, eu pedira aquilo a Deus.

*****

Will

O grito foi tão agudo, que poderia ter despertado a vila inteira. Eu não conhecia aquela voz, mas ela me conhecia. Isso foi o suficiente para ativar minha curiosidade.

Empunhei a faca que havia roubado de Miguel, abri a porta e saí para o piso de madeira. Parei em frente a porta, e a chutei. Ela rangeu, mas não abriu, antes que pudesse chuta-la com mais força, fui agarrado por trás, por Miguel. ⸻ O que o senhor está fazendo? Pare!

Ele ainda não estava totalmente sóbrio e foi fácil me livrar dele.

Empurrei-o e tomei fôlego, para acertar a porta com toda a força usando minha perna direita. Dessa vez, a madeira explodiu próximo a fechadura, e entrei, vendo um velho nojento segurando o corpo de uma garota, coberta de sangue, vestindo apenas uma camisa que um dia fora branca.

Ergui a faca ⸻ A brincadeira acabou! Solte a garota agora velho, ou vou rasgar sua garganta de orelha a orelha.

Ele sorriu ⸻ Então é a você que ela deseja boa noite com essas batidas ridículas?

Ignorei o que ele disse, e avancei para dentro da casa, com Miguel parado as minhas costas. ⸻ Solte, e se afaste, agora! ⸻ falei baixo, encarando-o.

AlgozOnde histórias criam vida. Descubra agora