18 Maldita culpa?

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Will

Fiz Gael pagar pelos livros depois que soube que ele havia ganho três rodadas daquele jogo imbecil da parede. Passou a noite enfiando seu pau em buracos sem saber o que havia do outro lado, eu nunca entenderia aquela lógica. Nunca entenderia ele.

Já era perto das três da manhã quando estacionei em frente as escadas que levavam a nossas casas. Sua cara estava tão torta que não sabia se era sono ou as bebidas a que ele cheirava.

⸻ Vai estar no treinamento amanhã? ⸻ perguntei, enquanto ajudava-o a chegar a sua porta.

⸻ Apenas de manhã. Tirarei a tarde para me organizar para a viagem. ⸻ disse ele aos tropeços, e com a fala enrolada

Abri a porta para ele, arrancando a chave de sua mão. Ele entrou indo direto ao sofá, quase se arrastando.

⸻ Tudo bem, vou me organizar para dizer o que é preciso de manhã. Agora vá dormir. E não se atrase.

Sua cabeça apenas balançou quando ele resmungou. Joguei a chave para ele e caminhei para a minha porta, me lembrando que minha chave, estava com Alicia. Olhei para o carro de Gael como uma possibilidade, mas coloquei a mão na fechadura, e para a minha surpresa a porta estava aberta. As luzes estavam apagadas, então tentei fazer o minimo de barulho possível. Coloquei os livros embaixo de minha mochila e me deitei depois de tirar as botas. Estava com o cheiro dela, imundo, e os arranhões ardiam sob minha camiseta suada. Mas não queria perder mais tempo de sono. Dormiria por lá, se não fossem os treinamentos. Eu nem me lembrava qual tinha sido a última vez em que me deitara em uma boa cama, e com um belo corpo sobre mim, nem tampouco imaginava quando isso aconteceria por uma noite inteira novamente.

Me virei, deitando de lado naquele sofá pequeno demais para para ser plenamente confortável, mas  fechei os olhos, e dormi por cerca de uma hora. Quando acordei, ela já estava sentada a mesa, me olhando com aqueles grandes olhos sem cor definida, inchados, a ponta de seu nariz também estava vermelha. Um semblante que eu conhecia muito bem. E também sabia ignorar como ninguém.

⸻ Bom dia. ⸻ falei baixo, me levantando para ir até o banheiro. Ela apenas me acompanhou com os olhos sem dizer nada.

Tomei um banho rápido, colocando uma roupa que já me aguardava ali, e saí, abrindo a geladeira, a procura de qualquer coisa. Juntei pedaços de carne de frango com feijões cozidos, colocando molho sobre tudo, e fui para a mesa. Me sentei em sua frente e comecei a comer.

⸻ Por que acordou tão cedo? ⸻ falei entre garfadas.

Ela comprimiu os lábios chorando abertamente agora ⸻ Gentileza a sua de achar que eu dormi.

Ergui os olhos para ela sem entender aquele tom, mas achando bem divertido ao mesmo tempo.

⸻ Não sabia que mandava em seu sono.

⸻ Eu fiquei esperando você. ⸻ sua voz saiu entre soluços.

⸻ Não pedi que fizesse isso. ⸻ dei de ombros ⸻ Nem nunca pedirei. Dei a chave a você para que fizesse o que desejasse. Não serei sua babá o tempo todo. E você não pode exigir nada de mim. ⸻ falei calmamente e baixo, estava na expectativa de que Miguel se atrasasse apenas para acordá-lo de algum jeito doloroso e humilhante.

Ela baixou os olhos, limpando o rosto com as costas da mão. ⸻ Eu achei que, achei que você voltaria para casa com Miguel, que eu te contaria o que descobri.

Ergui os olhos para ela ⸻ O que você descobriu?

Sua feição de fúria não mudou quando ela começou a falar ⸻ Descobri que pelo menos deste lado da vila, as pessoas estão trocando a gratidão por revolta, como você disse. Conheci uma família onde a filha foi mandada para um dos bordéis, e o marido, é obrigado a vigiar o portão oeste por horas sem conta.

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