15 Uma dose de alívio

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Will

Arrumei as poucas peças de roupas em uma mochila, junto com os vestidos surrados e o livro de Alicia, não havia muito a ser levado. Enfiei o resto dos curativos em um dos bolsos da frente na bolsa. Aquilo poderia ser útil.

Miguel fazia a mesma coisa na casa dele, e Alicia estava sentada no sofá, segurando uma de minhas camisas sobre o corte no pescoço.

Joguei a mochila sobre a mesa e me abaixei em sua frente, segurando sua mão, afastando-a de seu pescoço e revelando o ferimento.

⸻ Não está mais sangrando. ⸻ falei calmamente.

Ela continuou me encarando. ⸻ Pode fazer um curativo para mim? Ainda dói.

⸻ Não tenho nada grande o suficiente para cobrir isso. ⸻ me levantei, e peguei a bolsa, para tirar de lá quatro curativos pequenos. ⸻ Posso tentar com isso aqui.

Ela assentiu, não tinha expressão, não tinha sequer raiva ou dor em seus olhos.

Abri os curativos um a um, colocando-os espaçadamente na vertical. O resultado final era quase como uma costura malfeita.

⸻ Não foi profundo, se fosse, me ofereceria para costura-la. ⸻ joguei os papéis para o lado no sofá. ⸻ Por que não aceitou a oferta dele? Ficaria na fortaleza, certamente um lugar muito mais confortável que essas taperas de soldados.

⸻ Não me importo com conforto.

Sorri, mentirosa. Não era essa a razão. ⸻ Quer tanto assim me tomar para você?

Seu olhar ficou ainda mais sério⸻ Vou seguir você Will, porque você foi o único a me ouvir.

Suspirei derrotado ⸻ Vai ficar comigo até que eu deixe esse lugar, terá minha proteção, mas não vou leva-la comigo quando partir.

Ela baixou os olhos, e Miguel entrou pela porta, parando repentinamente, constatando a proximidade entre mim e Alicia.

⸻ O que estão fazendo?

Apontei para seu pescoço ⸻ Tentando remenda-la.

Ele se aproximou, para olhar mais de perto ⸻ É um corte bem feio.

Quase gargalhei ⸻ Não reconheceria um corte bem feio, nem se ele fosse feito em você Miguel. Isso foi só um arranhão.

Até mesmo Alicia riu.

Me levantei indo até a porta, e vi Gael chegando, rindo como sempre, um palhaço disfarçado de oficial. Fechei a porta, e desci as escadas ao seu encontro.

Ele me abraçou, dando tapinhas em meu ombro direito ⸻ Parabéns pela lábia, irmão. Não vi muitos conseguirem negociar tão facilmente com o Guardião, ele costuma ser implacável.

Sorri ⸻ Sabe que eu também. Nossa conversa me ajudou bastante nisso. E obrigado por distraí-lo para mim, por um único momento, achei que tivesse que te matar.

Ele deu de ombros ⸻ Foi uma boa estratégia levar a garota nos braços. Quase me convenceu de que estava ali por engano.

⸻ Um assassino com as mãos ocupadas, não oferece risco, não é verdade?

Ele riu como se soubesse desde o começo sobre tudo  ⸻ Vamos, sua nova casa, vai ficar ao lado da minha.

Suspirei ⸻ Agradeceria se tivesse água quente.

Me virei para voltar para as escadas e chamar os dois. Depois de uma última olhada, saímos, deixando o velho chalé para trás. Carreguei Alicia pelas escadas novamente, sabendo de seus passos dolorosos, e seguimos de moto até o outro lado da Vila. Alicia se apertou em mim, para escapar do vento, mas ergueu a cabeça quando paramos em frente a um conjunto de casas, não de madeira, mas de alvenaria, apesar de serem todas coladas umas as outras, pareciam bem maiores que as do lado oposto.

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