49 "Soldado Demônio"

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Will

Subi para o quarto ciente de que todos ainda riam de minha "conversa" com Alicia, por mais que eu estivesse aliviado por ter esclarecido as coisas, nada me daria paz antes de falar sobre as minhas percepções sobre toda a situação em que estávamos. Encurralado! Era assim que eu me sentia diante daquilo, em um cerco se fechando ao redor de mim, esmagando e levando tudo. Ouvir aquilo de Juan não me ajudou em nada também.

****

Durante o jantar que seguia mais silencioso que o normal, deixei que os garotos contassem sua história. Não era diferente de nenhuma dos outros ali, vagaram  pelo território, até se juntarem a aquele grupo e eu os encontrar. Ou como gostavam de dizer, os resgatar.

— Sua reputação o precede senhor. — um deles falou, me fazendo, pela primeira vez prestar atenção a conversa — Ouvimos boatos de que o "soldado demônio" tinha vindo da Europa para exterminar todos daqui. Muitos falam do Senhor. Ouvimos por onde passávamos.

Dei de ombros, revirando os olhos e voltando a comer — Soldado demônio? Parece muito fantasioso para o meu gosto.

Alicia sorriu — As pessoas sempre gostam de aumentar as histórias.

Gael riu me cutucando com o cotovelo, mais interessado que qualquer um. — Isso é demais, sabia que seria famoso Will. — ele se virou para os garotos — O que mais falam sobre ele?

O menino arregalou os olhos — Disseram que ele matou todos da família dele em seu país, e que era capaz de matar uma pessoa sem que ela conseguisse ver seus movimentos. E eu vi ele fazer! Foi muito...

Me apoiei na mesa, e me levantei deixando o garoto quase encolhido. — Desculpe não ter interesse em ouvir meus feitos brilhantes, mas continuem, fiquem a vontade.

Passei por eles, indo em direção ao escritório, me sentei na grande cadeira de Guardião olhando as paredes brancas sem nada, e o pequeno buraco na madeira lisa da mesa onde minha faca atravessara Ader.

Peguei uma das minhas menores facas, de um conjunto dado por Gael antes da viagem, e fiquei passando-a de um dedo para outro, sentindo o metal frio deslizar pela pele. 

O soldado demônio...

Fechei os olhos "Você sempre foi um demônio! Mas nunca será um soldado! Você é podre! E tudo o que você toca, morre, ela vai morrer também, todos eles vão!"

Me esforcei para calar a voz dele. E pela primeira vez, foi fácil, talvez por eu estar ficando bom em ignorá-lo, ou talvez por eu estar seguindo um caminho diferente.

Peguei um papel de dentro da gaveta antes trancada de Guardião e uma de suas canetas, ajeitando meu braço esquerdo para conseguir escrever.

As palavras eram corridas, desajeitadas, mas em um inglês polido e lapidado como se fosse escrito por alguém realmente letrado. Não era meu caso. Tudo o que sabia tinha vindo de Artur, o velho maldito nunca permitiu que eu frequentasse a escola depois que ficamos sob sua guarda.

Ergui os olhos, vendo Alicia parada na porta. Dobrei o papel, enfiando-o na gaveta.

— Você está bem? — seus olhos eram preocupados.

Assenti — Estou. Eu só... Tenho estratégias demais na cabeça.

Ela fechou a porta caminhando para mim e se recostou na mesa ao meu lado.

— Você os assustou lá na mesa, acho que estão tremendo até agora.

Baixei a cabeça, estava cansado, estava irritado pelo cansaço emocional. Passei um dos braços por trás de suas coxas trazendo-a para perto de mim.

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