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Alicia

Uma semana havia se passado desde toda aquela confusão com Erick, durante esses dias, eu conseguia sentir a urgência que Will sentia em finalmente sair e mapear os arredores para fortificar as defesas da Vila. Ele estava sob pressão, e mesmo a noite, enquanto conversávamos, líamos juntos, e claro, ele também seguia com o nosso treinamento particular, eu ainda conseguia ver por baixo da máscara de calmaria. Ele tinha urgência em descobrir os planos de Iori. Os planos para acabar com a Vila. Mas eu também sabia que ele já havia pensando em varias possibilidades de fuga se algo desse errado. Ele era esse tipo de pessoa, um espelho para mim, um modelo a ser seguido, e sabia que era o mesmo para todos os outros que ele ensinava. O que no começo parecia tortura, se tornou um exercício de lealdade e estratégia, Will moldava soldados, como se fossemos de barro, e até mesmo Erick começava a se acostumar com a rotina. Formei dupla com ele, e tinha que admitir que quando olhava-o de perto, a semelhança era gritante.

Ele se mexeu ao meu lado, e me virei para olhá-lo. Se seu rosto já era impressionantemente lindo com toda a sua pose de mau, dormindo, ele era a visão de um anjo guerreiro. A melhor e a pior pessoa do mundo em um mesmo corpo. A morte e a vida entremeados nele. Sorri porque eu não conseguia me render a ideia de que, de todos os lugares por onde ele já havia passado, de todas as mulheres lindas que ele provavelmente já havia conhecido, ele estava ali, na cama comigo, com uma ninguém que ele pegou praticamente do lixo. Estava ali só por mim, e não me deixaria.

— Queria saber por que gosta tanto de me olhar. — sussurrou ele, ainda de olhos fechados, me fazendo estremecer, com a rouquidão gostosa de sua voz. — Posso ser bonito, mas prefiro acreditar que veja mais que isso em mim. — ele sorriu, abrindo os olhos e se virando para o meu lado.

Segurei sua mão — É até difícil me lembrar que você é lindo quando está acordado. — sorri — Passo tempo demais tentando te acompanhar.

Seus dedos apertaram os meus — Eu não me esqueço que você é linda nem por um segundo, nem quando te castigo no campo.

Por um momento me questionei sobre o quão calmo ele parecia estar, pelo menos naquele dia. Olhei para os pontos em seu braço. — Acho que Gael precisa tirar seus pontos.

Ele riu,  levantando a sobrancelha — Aproveite o momento, se sabe fazer, deve saber tirar.

Fiz careta — É, eu sei como tirar.

Seu lábio se levantou de um lado só, naquele sorriso que fazia meu estômago doer. Bufei, e me levantei indo até o banheiro, para a caixa onde Gael deixava a medicação dele e outras coisas de curativos, peguei uma pinça e uma tesoura e voltei para a cama.

Peguei seu braço apoiando-o no travesseiro sobre minhas coxas — Será que algum dia a gente vai ser normal? Quer dizer, tem uma relação que não envolva sangue, pontos, eu costurar você, e essas coisas?

Ele sorriu admirando meu trabalho em seu braço — Eu acho que sim, eu quase nunca me machucou assim, você sabe que esse episódio foi um erro.

— Ah, claro que foi. — ironizei.

Terminei o pulso e passei para seu ombro, ficar perto dele daquele jeito era tão difícil, ele parecia tão aberto, tão tranquilo naquela manhã.

Enquanto cortava as linhas ele não parava de me olhar. — Você gosta disso. — sorriu ele — Seus olhos brilham consertando coisas.

Soltei o ar sorrindo — Não vou negar que isso é mais agradável para mim do que ter matado aquele porco. Passei dias pensando nele depois que me fez comer naquela maldita festa.

Ele quase gargalhou — Vai se acostumar. Mas se quiser fazer isso, podia aprender com Gael.

Baixei os olhos para não olhar para ele, e terminei os últimos pontos — Acha que vamos ficar aqui? Que tudo vai...

AlgozOnde histórias criam vida. Descubra agora