Alicia
Me afogava, me perdia, me debatia, minha garganta tinha gosto de sangue, e eu estava no escuro sem saber em que direção seguir. Caí de joelhos, implorei pela morte, minha boca estava seca, conseguia sentir a textura de minha língua se partindo, sem nem mais sentir o gosto ferroso na boca. Uma mão tocou meu ombro, ríspida e dolorosamente.
Abri os olhos e puxei ar, me mexendo na cama. Um pesadelo. Mais um pesadelo.
Me ajeitei na cama, mantendo as cobertas em volta de mim, meu corpo ainda estava dolorido, mas ouvindo o silêncio da casa, passei as pernas para fora, me apoiando nas paredes até o banheiro. Tive que me apoiar na pia quando a lembrança da noite me acertou com tudo. Will sobre mim, sem eu me lembrar de como havia ido parar sob a água fria. Seus dedos dentro de mim, a pressão em meu pescoço enquanto ele me continha. Seus olhos estavam diferentes, diferentes do que eu me lembrava de ver, não eram os olhos de um assassino como ele dizia ser. Ele salvara minha vida, outra vez.
Me sentei no vaso. Chorei com a dor, agarrando meu tronco para me encolher. A ardência passou logo, os ferimentos tinham que cicatrizar, mas meu próprio corpo se mostrava incapaz de consertar qualquer coisa. Estava fraca, mais fraca do que pensei estar.
Me levantei depois de constatar que não havia mais sangue. Sorri aliviada, lavei as mãos e o rosto, caminhei devagar de volta ao quarto, notando além das minhas roupas, meu livro sobre elas, e um prato daquele caldo, cuidadosamente coberto com um recipiente plástico. Sorri me sentando na cama novamente, peguei a comida, que mesmo fria, era deliciosa. Eu quase podia sentir minhas forças voltando a cada colherada.
Quando terminei, me levantei e levei o prato até a cozinha, finalmente reparando no restante da casa. Era modesta como a do maldito ao lado. Tinha menos móveis, e as paredes estavam descascadas. Na pequena sala, junto a cozinha havia uma poltrona e uma pequena mesa com alguns papéis. Na cozinha, uma mesa com quatro cadeiras, um balcão com algumas portas para os poucos utensílios, e o fogão ao lado da pia, com a geladeira ao fundo, do lado esquerdo.
Respirei fundo, havia vários utensílios e pratos na pia, não consegui simplesmente colocar o prato lá e voltar para a cama. Já estava me sentindo bem, podia tentar compensar a ajuda. Ignorei a fraqueza e consegui ensaboar toda a louça, a água fria me fez estremecer, mas consegui terminar. Estava apoiada na mesa, secando as mãos com um guardanapo, quando a porta da frente foi destrancada e aberta com raiva extrema. Inconscientemente me encolhi, dando passos para o canto da cozinha.
⸻ O que está fazendo em pé? ⸻ sua voz era uma ameaça por si só. Mas os olhos vermelhos e a respiração ofegante, fizeram todos os meus instintos gritarem para mim.
⸻ Eu... E-Eu estou melhor... ⸻ gaguejei.
Com um chute, ele fechou a porta e avançou na minha direção me agarrando pelo braço, e me arrastando para o quarto. Tentei firmar meus passos, mas nos últimos, fui literalmente arrastada.
Fui jogada na cama, e ele se abaixou para falar perto do meu rosto ⸻ Fique na cama até que possa correr de mim!
⸻ Will. ⸻ ofeguei. Mas ele já pegava as cobertas ao lado para me cobrir até a altura da cintura.
⸻ Cale a boca! Vou fazer mais comida para você.
⸻ Will. ⸻ dessa vez saiu com mais convicção, fazendo-o parar e olhar para mim. ⸻ O que aconteceu? Vão punir você?
Ele riu, meio distraído ⸻ Com algo pior que a morte.
Me sentei, apoiando os braços na coberta grossa ⸻ Você disse que precisava de mim. Como eu posso ajudar?
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Algoz
Romance(+18) Will é um soldado rebelde com um passado sombrio e repleto de traumas. Junto a seu grupo, ele é recrutado para a América do Sul, onde se instaurou uma guerra civil. Capturado em uma armadilha, ele se vê refém, em uma vila isolada do mundo ond...