11 Das antigas

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Will

Parei a moto quando vi um grupo de guardas parados diante dos portões, havia guaritas a cada cinquenta metros ao longo do muro que cercava a vila, os soldados no chão pareceram perdidos, olhando para mim com joelhos tremendo. Um deles deu dois passos a frente empunhando o fuzil.

⸻ Deve retornar, Senhor.

Olhei para o lado, vi um agricultor com seus quase sessenta anos, que arava a terra vagarosamente. Uma visão infeliz na sociedade perfeita de um tirano disfarçado de Deus. Me aproximei, ainda na mira do guarda, peguei o homem pelo pescoço puxando-o comigo.

⸻ Abra o portão soldado. Esse homem deseja a liberdade. ⸻ falei calmamente.

O soldado encarou o homem que fez que não com a cabeça. Amedrontado.

⸻ Abra a porra do portão! ⸻ gritei.

⸻ Senhor, se não soltar o homem e recuar, terei que abatê-lo.

⸻ Faça isso! Empurrei o homem para o lado e abri os braços. Atire, covarde!

Eu podia ouvir seu coração, seu dedo desejando deslizar pelo gatilho, o modo como engolia em seco, fazendo o pomo de adão subir e descer, seu medo estampado nos olhos, a ideia de ver alguém desejar sair.

Fechei os olhos, e ouvi o som de uma arma sendo atirada no chão, logo depois, uma mão em punho acertou meu rosto me jogando para trás com a força, libertando o idoso de mim.

Abri os olhos para ver o segundo golpe acertando próximo ao meu olho esquerdo.

Agarrei o homem pela camisa, jogando-o no chão com fúria, me colocando sobre ele, e desferi três socos seguidos com minha mão esquerda.

⸻ Merda! Will! ⸻ o homem esbravejou, mas continuei socando sua cara sem piedade.

⸻ Will! ⸻ ele me empurrou, usando os pés, e só quando me afastei, vi o soldado me olhando sem entender nada. Olhei para o homem no chão. E arregalei os olhos. ⸻ Gael?

Ele riu, me estendendo a mão para que eu o ajudasse a levantar ⸻ Seu grande filho da puta! ⸻ Riu ele ao me dar um abraço.

Só quando ele se colocou em pé o reconheci de verdade, seu corpo era duas vezes o meu, era mais velho, estava muito mais bronzeado do que eu me lembrava. Dois anos antes, havia deixado um soldado diferente para trás. Agora, ele era uma montanha de músculos, um gigante bronzeado de olhos verdes como esmeraldas hipnotizantes. ⸻ Achei que estivesse no Iraque!

⸻ Eu estava, ⸻ disse ele ofegante e sorrindo, em seu polido inglês puramente britânico. ⸻ Recebi uma mensagem de Artur, ele solicitou reforços três meses atrás. Mas quando cheguei, encontrei o acampamento queimado, algumas pessoas saqueavam o lugar, e então vaguei por dias, esperando encontrar o paradeiro de alguém.

⸻ Como chegou aqui? ⸻ falei confuso, olhando para a farda igual a dos demais guardas.

Ele suspirou e fez sinal para os outros, que voltassem a seus postos, não sabia que ele tinha domínio de outras línguas, mas pelo modo como ordenou aos soldados, imaginei que dominasse pelo menos o espanhol. ⸻ Vamos beber, tenho muito a te contar.

Assenti, e ele apoiou sua mão estretégicamente em meu ombro direito, me arrastando até um boteco colado ao muro, era o reduto dos soldados fora de turno, alguns nem pareciam ir embora, imaginei que eles alternassem turnos de balcão e muralha. Me sentei no canto, perto dos fundos, ele pegou duas doses e se sentou ao meu lado, mas percebi os olhares ao redor, antes de fazer isso.

⸻ Por que está aqui? ⸻ falei baixo, encarando-o.

⸻ Antes, era para procurar algum sobrevivente, mas agora... ⸻ ele baixou os olhos ⸻ Perdi Ângela no deserto, Will. Um maldito bombardeio enquanto eu fazia a ronda..

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