Alicia
Me sentei sozinha no palco, onde ele costumava se sentar depois dos jantares todos os dias, já passava das dez da noite, eu não imaginava que ele pudesse demorar tanto, o desespero me consumia com a ideia de ele não voltar, de ele estar ferido em algum lugar, ou de eles estarem mortos. Balancei a cabeça negativamente, não podia me deixar desesperar. Will era o Algoz, nada de mal poderia acontecer, sem que ele previsse. Ele voltaria, os três voltariam!
— É estranho sem ele por aqui, não é? — Gael se sentou ao meu lado.
Assenti — Eu não me acostumo mais a ficar longe dele. Parece que eu tenho um buraco no peito. — confessei — Você acha que eles estão bem?
— Claro. — ele sorriu cruzando as pernas — Will me salvou mais vezes do que costumo contar, apesar de ele estar em seu modo afável ultimamente, ele ainda é ele mesmo Alicia.
— Tenho um pressentimento ruim, não sei se é minha paranoia, ou não, mas... por via das dúvidas, é melhor ficarmos de olho no que podemos.
— Está falando do Ader? Ele não é tão burro, sabe que fora daqui ele estará morto. Ele vai ficar na dele.
— Viu como Will o olhou hoje? Aposto que ele viu algo que nós ainda não percebemos.
Ele se soltou no chão, de costas, apoiando a cabeça com os braços. — As vezes me pergunto se não teria sido melhor deixar Will ir embora com você daqui. — sua voz saiu tão baixa que percebi que ele falava mais consigo mesmo do que comigo. — Ele tinha a chance de sair dessa confusão, talvez você já o tivesse dobrado... no entanto, colaborei para ele permanecer aqui, só pensando em mim mesmo... — suspirou quase bufando — Eu sou um traste.
Cerrei os olhos para ele sorrindo — Está se culpando por ter votado para ele ficar, mas não por quase o matar? — ironizei.
Ele gargalhou — Pois é, mas eu nunca quis mata-lo Alicia, o estado dele... foi um acidente, perdi a cabeça, e ele sabia que aconteceria.
Assenti suspirando, porque eu sabia que era verdade. — Sim, ele sabia... — falei baixo e me levantei, encerrando a conversa.
Fui até o quarto, vendo nossa cama ainda desarrumada, e todo o medo retornou, fazendo minha espinha gelar. Eu podia tentar ser racional, mas o medo sempre acabava falando mais alto.
Fechei os olhos quase implorando "Onde você está?"
Suspirei e me sentei de frente para a janela, na esperança de vê-lo chegando.
Já passava da meia noite, e ainda nem sinal de ele voltar, fechei os olhos por uns segundos, e quando os abri, vi Ader pelo reflexo da janela, entrando pela porta atrás de mim. Me levantei com um salto, me virando.
— O que está fazendo aqui? — falei ríspida, e com autoridade, mesmo ele tendo o dobro do meu tamanho.
O maldito riu, com a mesma cara de nojo que costumava encarar Will. — Seu querido Algoz deve ter ficado pelo caminho — sorriu ele com desprezo — O que já facilitaria muito a minha vida. Mas como sei que aquele desgraçado não morre fácil... vou dar a ele motivos para ir embora e nos deixar em paz.
Baixei os olhos rapidamente para suas mãos indo de encontro ao coldre atado a perna. Voltei meu olhar para seu rosto, e antes que ele pensasse em se aproximar, deslizei para o lado, correndo para ele, agarrando e torcendo seu braço, impedindo sua mão de chegar a faca.
— Vou te dar a chance de sair daqui, e Gael será piedoso com você.... — avisei, segurando seu braço
Ele gargalhou alto, e aproveitei o momento para pular em suas costas, envolvendo seu pescoço com os braços, em um "mata-leão" como Will havia me ensinado, e me feito repetir inúmeras vezes na semana que passara, e como Will mesmo havia me explicado, as mãos dele desistiram da faca e agarraram meus braços tentando afrouxar o aperto. Infelizmente, ele era grande demais, e eu não tinha forças para estrangulá-lo, então fiz a única coisa a meu alcance. Mordi seu pescoço, afundando os dentes com vontade, sentindo o gosto de sangue em minha boca. Ele urrou de dor e raiva, então o soltei pegando minha faca, e cravei-a em suas costas, abaixo das costelas, mais rápido do que eu mesmo achei possível.
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Algoz
Romance(+18) Will é um soldado rebelde com um passado sombrio e repleto de traumas. Junto a seu grupo, ele é recrutado para a América do Sul, onde se instaurou uma guerra civil. Capturado em uma armadilha, ele se vê refém, em uma vila isolada do mundo ond...