47 Sem chão

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Will

Acordei apenas uma hora depois, o quarto, estava do mesmo jeito, o cheiro de sangue havia diminuído o suficiente para eu me sentir minimamente confortável.

Tomei um banho rápido, e me troquei olhando pela janela, observando o treinamento e os três recém-chegados, sentados no palco abaixo, tomando conhecimento de tudo. Alicia também estava no campo, com Erick a ajudando a escalar um dos muros ao fundo.

Peguei minha faca de volta, escondendo-a sob a blusa, e sai do quarto, descendo as escadas para chegar a cozinha, comi uma sobra de carne fria e sebosa sobre o fogão, lavei as mãos e caminhei até o quarto de Maria.

Dei três batidas e abri a porta, vendo-a deitada na cama, o que era incomum para os últimos dias dela, sempre tão agitados com as missões nos bordéis.
— Posso entrar? Alicia disse que queria falar comigo. —  falei calmamente.

Ela fechou mais o roupão cor creme sobre os seios, se sentando com dificuldade na cama. —  Claro querido.

Me sentei em sua cama mantendo uma distância respeitável — Você está bem? —  questionei vendo o suor acumulado sobre a raiz dos cabelos. — Você não parece bem.

Limpando a testa, ela apenas me deu um sorriso triste. — Só estou indisposta esses dias querido, nada demais.

Ergui minhas sobrancelhas para ela, percebendo que ela não estava com sua irreverência natural. Parecia preocupada.

— Sobre o que quer falar Maria? Alicia parecia nervosa... —  sondei.

—  Will... —  ela tentou, mas não conseguiu falar.

Me virei para ela segurando sua mão — Me conte, o que está te afligindo. Sabe que tem um amigo em mim, não sabe?

— É claro querido... Eu nunca vou conseguir ser grata o suficiente pelo que fez por mim, eu...

— Sabe que sem você, eu não teria chegado até aqui também, sem seus conselhos, seu apoio e também nossas trepadas. — sorri, mas ela não.

Seus olhos transbordaram —  Eu estou grávida Will...

Levei um tempo até tentar raciocinar, me adequar a palavras — Grávida...  Quer dizer... —  Cerrei os olhos.

— Quero dizer, esperando um filho...

Suspirei confuso — Tudo bem... Isso complica um pouco as coisas, mas...  Podemos cuidar disso...

Ela segurou meu rosto, chorando ainda mais — Você não entendeu querido, é seu!

As palavras me acertaram, mais potentes que socos na boca do estômago. Senti minha espinha congelar, e se eu não tivesse lutado tanto com meu queixo, ele teria caído de puro desespero. — O que? Como sabe?

Sua garganta se remexeu, engolindo em seco — No dia em que fugiu de Alicia, e me tomou no escritório, você...

Ofeguei sem saber o que dizer. Baixei a cabeça enfiando os dedos em meu cabelo. Eu tinha mesmo feito aquilo... Era tão raro, eu nunca terminava daquela forma... Nunca!

— Não tenho estado com mais ninguém desde a primeira vez com você — continuou ela —não tem chance de ser de outro. Eu sinto muito, querido.

Fechei os olhos com força para refrear a vontade de me dar um soco na cara pelo descuido. Pela burrice, pela merda astronômica. Um erro de adolescente sacana! Reprimi a vontade de urrar de ódio, sentindo minha garganta queimar.

— Que merda! —  rosnei para mim mesmo, me dando conta do pior  — Alicia já sabe então...

Isso explicava por que ela havia fugido de mim. Estava fodido, estava perdidamente fodido com ela. Eu já sabia o que ela devia estar pensando...

AlgozOnde histórias criam vida. Descubra agora