10 Cara a Cara

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Will

Tomei um prato do caldo, e passei a noite sentado no chão, não havia som algum do lado de fora além das botas de Miguel, vez ou outra passando lentamente em frente a minha porta. Imaginei que por conta do incidente reportado, ele teria de cumprir os dois turnos. Sabia que aquilo poderia me matar, ou me levar direto até o "Guardião" Se tudo desmoronasse naquele momento, eu aceitaria, mas não era essa a minha ideia.

Olhei para a porta do quarto entreaberta, e ela dormia, a febre havia cedido durante a noite, e pela manhã, sua temperatura já era considerada normal.

Assim que o sol clareou a fresta abaixo da porta, ouvi pares e mais pares de botas nas escadas. A porta foi aberta com um empurrão, e sorri ao ouvir pelo menos dois homens recuarem e vomitarem do lado de fora. Carnificina. Monstro, Desprezível. Eram as únicas palavras que se ouvia do lado de fora. Ótimo.

Esperei pacientemente que os sons desaparecessem, quando saí, nenhum homem estava lá, a porta estava lacrada e nem mesmo Miguel estava perto da porta.

Deixei um prato feito ao lado da cama dela, e depois de checar mais uma vez sua temperatura, peguei os livros da biblioteca e tranquei a porta, desci as escadas chegando a minha moto.

Diferente dos outros dias, não havia movimentação alguma nas ruas, os pequenos comércios estavam fechados, ou esperando que eu saísse, para abri-los.

Acelerei, e tinha destino certo. O Centro. Pelo o visto a notícia já havia se espalhado por todos os lugares, porque quando cheguei a porta do centro, vi portas se fechando do outro lado da rua. Caminhei calmamente com os livros na mão, bati na porta e coloquei-os no chão.

⸻ Estou devolvendo os livros. Obrigado, foi muito útil. ⸻ Falei para a porta, e saí, voltando para o centro.

Entrei como todos os dias, vendo olhares medrosos para mim em todos os corredores. Abri a porta da sala da Di e por um momento, fiquei paralisado. No lugar dela, ele estava ali, sentado como se estivesse naturalmente me esperando. Saquei a faca, e ele sorriu.

⸻ Vai tentar outra vez, Algoz? Não se saiu bem no nosso último encontro.

Sorri também, fechei a porta atrás de mim, e guardei a faca. ⸻ De fato, tenho que admitir que a jogada de queimar meus homens, conseguiu me desestabilizar. 

Ele deu de ombros, cruzando as pernas e se recostando no sofá. Eu reconhecia aquilo, não era natural, era uma jogada para parecer tranquilo, mas eu via, em seu modo de piscar, na umidade na gola da camisa; ele não estava à vontade. Nem poderia.

⸻ Pensei que conseguiria te observar por mais tempo, mas admito que, nos últimos dias, ignorar você está sendo impossível.

Sorri, me sentando no sofá, bem próximo a mesa de centro, talvez dois metros dele. ⸻ Dizem que é meu talento natural.

Ele assentiu. Duas forças se encarando, era isso que parecia, e era exatamente o que ele estava pensando. As peças estavam na mesa. Ele devia ter algo realmente bom para mim, ou não arriscaria seu pescoço se sentando a minha frente.

⸻ Ameaçou a doutora, conquistou a confiança de seu vigia a ponto de arrastá-lo para o bar, e agora, estripou seu vizinho.

Sorri ⸻ O termo correto é esquartejar. Sim, esquartejei meu vizinho, mas pedi para que ele cantasse mais baixo, educadamente antes disso. Não sou assim tão selvagem.

⸻ Cantando alto? ⸻ ele ergueu as sobrancelhas com escarnio.

⸻ Tenho sono leve. E ritmos latinos me enojam. ⸻ dei de ombros.

AlgozOnde histórias criam vida. Descubra agora