Will
Passei a noite olhando para aquela parede, com os braços sobre os joelhos e as costas apoiadas na poltrona. Aquele código, eu não podia ter entendido errado. Era meu nome, e um pedido de socorro. Mas de quem? E por que? Imaginei na hora que poderia ser um dos meus homens, que talvez algum deles tivesse sido capturado também.
Ergui a camisa olhando a cicatriz onde a faca havia me perfurado, entrando até o cabo. Fechei os olhos me lembrando dos dias e semanas seguintes, a infecção se espalhando enquanto a única coisa a mão para aliviar a dor eram garrafas de tequila.
Mas por outro lado, não podia ser um de meus homens, nenhum deles sabia fazer uso daquele código. E eles não ficariam quietos atrás dessa parede se soubessem que eu estava ali. Não... Era outra coisa.
Ouvi o som de vidro quebrando, olhei para a janela, em alerta, mas percebi que o barulho vinha do outro lado da parede.
Me levantei e colei meu ouvido ali, um choro de mulher e o som de algum móvel rangendo. Fechei os olhos para me concentrar no som. A mulher chorava, implorava baixinho, um sussurro quase sem forças. Depois de alguns minutos, um urro de prazer, e o estrondo de algo no chão. Me afastei da parede.
Aquele pedido de ajuda... Só podia ter sido dessa mulher. Mas que merda!
Calcei minhas botas e abri a porta. ⸻ Miguel? ⸻ chamei-o, ele estava como sempre, parado na escada, e pelo modo como esfregava as mãos, tinha acabado de assumir seu posto.
⸻ Senhor?
⸻ Sabe quem mora aqui ao lado? ⸻ sussurrei para ele da minha porta.
Ele arregalou os olhos ⸻ É uma área militar Senhor, todos aqui possuem alguma patente, os civis ficam no interior da Vila.
⸻ Estou literalmente dormindo ao lado do inimigo... ⸻ não foi uma pergunta, mas uma reflexão. ⸻ Por que me colocaram aqui?
Ele baixou os olhos, e já esperava suas desculpas, mas ele me olhou nos olhos quando disse. ⸻ Recebemos ordens de abater o senhor caso tentasse fugir.
Tive que me controlar para não gargalhar, obviamente uma mentira descarada ⸻ E seu senhor acha que me colocar no meio dos seus soldadinhos pode me impedir de fugir?
Ele ergueu o queixo, tentando mostrar sua superioridade ⸻ Com todo o respeito, o senhor ainda está aqui.
⸻ Com todo o respeito, eu teria te matado com uma faca de plástico. ⸻ dei de ombros ⸻ Quero saber o que seu senhor quer comigo, antes disso, ou de eu mata-lo, não vou embora.
Ele assentiu sem acreditar em mim, e voltei para dentro, engoli um copo de café frio, antes de pegar minha chave e sair.
⸻ Tire a tarde de folga Miguel. Vou visitar minha outra guarda particular.
Ele correu atrás de mim ⸻ Não sou seu guarda costas Senhor, sou seu vigia.
Sorri ⸻ Faz o que quiser.
Acelerei minha moto, e parti para o interior da vila. O que aquelas pessoas pensavam de mim? Um inimigo entre eles, um refém a quem eles tinham que tratar como um qualquer. Achavam mesmo que podiam me prender ali. Ri comigo mesmo, era muita presunção. A partir do momento em que fiquei em pé, decorei todas as rotas de fuga que eu podia fazer tanto de dia, quanto a noite, assim como o caminho para a casa grande na base da vila, tão protegida que parecia um outdoor de seta, apontando para a garganta do filho de uma puta lá dentro.
Parei em frente ao centro de recuperação, e entrei como sempre, sem olhar para ninguém, ainda era cedo, mas não me importei, invadi a sala dela, jogando o velho para fora, antes mesmo que ela dissesse algo.
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Algoz
Roman d'amour(+18) Will é um soldado rebelde com um passado sombrio e repleto de traumas. Junto a seu grupo, ele é recrutado para a América do Sul, onde se instaurou uma guerra civil. Capturado em uma armadilha, ele se vê refém, em uma vila isolada do mundo ond...