46 A volta

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Will

Os portões se abriram, e soldados curiosos olhavam animados para dentro do carro. O dia já havia nascido há algum tempo, e esfreguei o rosto para me manter devidamente acordado. Não me permiti fechar os olhos durante o caminho, e exceto pelas respirações pesadas e os roncos dos garotos e de Miguel, não se ouvia nada durante todo o caminho.

Leon parou o carro nos portões da fortaleza, e desci estranhando a não movimentação no campo. Os garotos desceram, e pedi a Miguel que os levasse para um dos quartos vagos a fim de se limparem e depois se alimentarem. A casa estava silenciosa, e nem havia sinal de alguém ter feito o café da manhã.

Passei pela porta correndo, subi para o quarto já com o coração na boca, tropeçando em meus próprios pés subindo as escadas com Leon atrás de mim. Abri o quarto, vendo a poça de sangue no chão e a faca dela sobre a cama, só então, notei o rastro de pequenas gotas de sangue saindo pela porta e as segui como um cão farejador.

— Alicia! — gritei quase sem sentir meu corpo — Onde está Alicia?

Cheguei ao térreo, e ela me encontrou, jogando seus braços ao meu redor, chorando, com expressão de alívio. Meu corpo inteiro relaxou ao seu toque. Foi como respirar uma lufada de ar do inferno e retornar em segundos. Amparei sua cabeça em meu peito, fechando os olhos para abrandar o medo trepidante em mim. Até mesmo minha respiração não havia se acalmado ainda.

— O que aconteceu no quarto? — falei ofegante.

Ela se ergueu na ponta dos pés me beijando, segurando meu rosto, tão desesperada quanto eu.— Ader... — sussurrou ela dando de ombros.

Meus músculos tremeram. Baixei o olhar para o chão vendo as gotas de sangue seguirem pelo corredor.

— Ele te machucou? — perguntei ainda tremendo, segurando seu rosto, mas descendo meu olhar por cada centímetro dela.

Ela negou com a cabeça — Me defendi, ele tentou me matar...

Assenti soltando o ar, e me soltei dela seguindo os respingos até a porta do escritório quase não sentindo o chão. Precisava olhar para o corpo do maldito, me certificar que não houvesse a mínima possibilidade de ele ainda respirar.

Não pensei muito para abrir a porta, quase derrubando-a. Olhei para o corpo grande sobre a mesa, com a cabeça apoiada sobre tecidos enrolados, e Gael costurava seu pescoço.

Arregalei os olhos. O maldito estava vivo! Como ele ainda estava vivo?! Meus olhos se arregalaram de fúria plena.

Caminhei batendo os pés, e trincando os dentes para dentro do escritório, parando em frente ao corpo, vendo sua respiração difícil.

Agarrei seu cabelo fazendo-o gemer com a dor. — Vá para o inferno que é o seu lugar, maldito! — Peguei minha faca, e com um único movimento, cravei-a  em seu peito, atravassando-o até sentir a madeira da mesa estalar.  Seus olhos se arregalaram, e um quase gemido escapou de seus lábios, morrendo aos poucos em sua garganta. Torci a faca para me apropriar de sua dor, da raiva que me deixava, conforme seu sangue se esvaía e seus olhos se apagavam.

Gael jogou a agulha que segurava, soltando os ombros, derrotado — É sério Will? Estou costurando esse infeliz há meia hora!

Arranquei a faca do peito do desgraçado e a apontei para seu pescoço — Devia estar cuidando dela, e não gastando linha e tempo com essa escória! Tire esse verme da minha casa, agora! — rosnei.

Limpei o sangue de minha faca na calça do agora defunto Ader, e me retirei dali. Finalmente vendo todos acordados, e os novatos com cara de famintos, me olhando assustados.

AlgozOnde histórias criam vida. Descubra agora