Capítulo 65

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M A R I A   E L I S A 🌻

— Ainda bem — Vinicius falou logo que entrou no quarto — como tá se sentindo?

— Um pouco com dor ainda e muito, muito sono — falei e logo em seguida lhe dei um selinho —.

— Eles falaram que vão te liberar mais tarde — falou sentando do meu lado —.

— Perderei um dia de aula e de trabalho — eu disse e fiz bico — Vai dormir comigo?

— Vou — Vinicius disse sorrido — quarta tenho uma entrevista de emprego, estágio em uma empresa de advocacia, amigo do meu pai.

— Já é sua —falei sorrindo — vem, deita aqui — falei dando espaço pra ele deitar e batendo na cama, Vinicius deitou e me abraçou — estava pensando em mudar pro asfalto, sei lá, mais aí eu penso nos meus amigos, ainda mais agora que a Bi vai ter o Cauê, aí prefiro ficar no morro mesmo.

— Eu acho isso tão incrível em você — Vinicius falou colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha — corre atrás do seu, e não liga pro que os outros vai achar.

— Sabe qual é o foda? — perguntei e ele colocou o queixo um pouco pra cima do meu peito pra me encarar — que vejo várias pessoas querendo fazer o mesmo, mais só porque é da favela tem que ser discriminado.

— Você tá com fome? Posso pedir pra enfermeira trazer alguma coisa — falou se levantando, e a real é que eu sabia que ele queria mudar de assunto —.

— Não, mais aceito chocolate e uma blusinha rosa bebê novinha — falei e Vinicius deu risada — Não me zoa vai.

— Tabom — falou rindo — Vou ir comprar chocolates mais já venho.

Na mesma hora uma enfermeira apareceu.

— Desculpa senhor mais não pode — a enfermeira disse e caminhou até a mim — essa injeção que vou aplicar vai dor um pouco, vai pesar um pouco seu braço, mais depois não irá sentir nada.

Concordei e Vinicius veio pro meu lado, segurou minha mão e assim que a enfermeira aplicou eu apertei demais a mão do mesmo.

— Vai doer por muito tempo? — Vinicius perguntou vendo minhas caretas —.

— Só por uns minutos — a enfermeira disse o respondendo — pronto.

— Obrigada — Vinicius falou fazendo carinho na minha bochecha  —.

A enfermeira saiu e fiquei olhando pro teto enquanto Vinicius fazia carinho em mim.

— Você acha que meu tio pensa que eu te ajudei em tudo? — perguntei, sei que ele não pode me dar nenhuma resposta concreta, mais já ajuda —.

— Não — falou saindo da cama — ele te conhece, ele sabe que você nunca trairia ele, mas o que eu quero saber, acho que todos pra falar a verdade, é quem quis te matar.

Um dos maiores medos da minha vó era essa, afetar nós que não tem nada a ver com os corres do meu tio.

— Vinicius, meu pai e meu tio é dono de morro, meu namorado era do Bope — falei e vi ele mudar a postura — Claro que vocês tem rival, e claro que usarão a pessoa que vocês amam, provavelmente aquele cara entrou no morro fingindo ser alguém, ou conhecendo alguém do morro, mas acredite e vai por mim, essa não vai ser a última vez que irão me machucar pra atingir qualquer um de vocês, entendeu?

— E se formos embora daqui? — Vinicius perguntou e me engasguei com a água que estávamos bebendo — qual foi Maria, nós dois estaremos correndo risco mais ainda, eu saí do Bope e as pessoas vão caindo matando em cima de mim, e todos vão cair em cima de você por saberem de quem você é filha, sobrinha e namorada.

— Eu não posso abandonar meu tio, meus amigos — falei o olhando fixamente e tentando regularizar minha respiração — eu nasci e fui criada aqui.

— Eu também, mais pensa também que podemos criar nossa vida sem lembranças de nada de tão ruim — falou vindo até a cama, sentou e colocou uns fios de cabelo atrás de minha orelha — por sorte a bala não foi no teu peito e sim no ombro, mas na próxima vez alguém vai estar lá pra te proteger? Além do mais podemos vir todo mês pra cá, coloco pra alugar meu apartamento, nós continuamos a faculdade lá, você conversa no seu serviço e pede transferência por ser uma empresa grande.

— Eu sou a única pessoa viva na minha família, meu tio só tem a mim — falei baixo me encostando no travesseiro —.

— Ele tem a Julia, seu pai tem uma família ao redor dele — Vinicius falou se deitando ao meu lado — sempre que der estaremos no Rio.

— Pra onde iriamos? — perguntei o abraçando —.

— Que tal São Paulo? — perguntou sorrindo e logo em seguida beijou minha testa —.

Vivendo em dois mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora