Criar expectativas é introduzir no relato informações que despertem a curiosidade do leitor, graças à qual ele começa a formular perguntas sobre como certo aspecto da trama irá evoluir.
Suscitar expectativas é indispensável para manter o interesse pelo relato. Se o leitor não se sente motivado por essas questões, provavelmente abandonará a leitura em pouco tempo. É indispensável, portanto, que o escritor maneje as informações de modo que o leitor progrida na leitura fazendo perguntas e encontrando respostas, elucidando questões e tropeçando em novos enigmas. Temos aqui uma regra de ouro válida para qualquer relato, pertença ou não ao gênero de suspense.
O leitor é, por definição, um ser curioso, enxerido, que tende a morder as iscas que o escritor prepara. Os problemas surgem quando o escritor não tem consciência de que está criando expectativas. É até capaz de abrir as portas para a imaginação e para a curiosidade, mas, por não perceber o que está fazendo, deixa o leitor sem respostas e este se sente frustrado, inevitavelmente.
1. Como estimular a curiosidade do leitor
Os grandes escritores dominam a arte de excitar a curiosidade do leitor desde o início do relato.
1º exemplo:
Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.
Diante dessas primeiras palavras do livro Cem anos de solidão,de Gabriel García Márquez, o leitor se pergunta, quanto mais não seja, pelos motivos que levaram o Coronel a estar naquela situação, prestes a ser fuzilado, e por que, naquela situação-limite, lembra-se precisamente de uma tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo.
2. Responder às perguntas
Às vezes o escritor não tem consciência de estar criando expectativas. Convém não esquecer que as informações incompletas deixam o leitor intrigado com alguns enigmas que ele espera ver esclarecidos em algum ponto do relato.
Exemplo:
- Você não me conhece. Você pensa que me conhece mas está enganado. Não sou tão boa como você pensa. Existem coisas na minha vida que você nem pode imaginar... - diz, num sussurro, e logo a seguir se repreende interiormente por ter falado. Olha para o teto e baixa o olhar até o aquário oval que, cheio de água e pequenos cristais coloridos, repousa sobre uma mesa de aço inoxidável, no fundo do quarto.Quando o personagem diz que "existem coisas na minha vida que você nem pode imaginar...", faz o leitor se perguntar que coisas serão essas, e quando o narrador acrescenta que o personagem se repreende interiormente por ter falado, o leitor se pergunta por que motivo o faz. O escritor deverá dar uma boa resposta a essas perguntas. Se não reparou que o texto levantou essas questões ou se deixar de elucidá-las, seu leitor acabará por se sentir enganado.
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#Destrinchando
RandomEssa é a verdade. Escrever é um ato de fé. Sem inspiração divina, vários textos inacabados, bloqueios horrorosos e cerca de 12 vezes ao dia, uma vontade de sentar, desistir e chorar. Não especificamente nessa ordem. Muitos correm atrás de cursos pa...