57.

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Manu.

Cheguei na delegacia e todo mundo me olhava.

Uns me olhavam com dó e eu odeio isso.

Sou forte pra caralho e nada vai me abalar, meu Deus é maior que tudo isso aqui.

Me jogaram em uma sala ainda algemada e pediram pra eu esperar ali.

Fiquei mais de 15 minutos de pé naquela porra até o delegado entrar.

O seu nome era Marcos, tava escrito no crachá que tinha na blusa.

Ele era muito feio, velho barrigudo, barbudo. Aí credo.

Marcos: Olá Emanueli, até que enfim te conheci - esticou a mão pra mim e eu fiquei so olhando - Aé, esqueci que tu tá algemada - debochou rindo.

Continuei calada, de pé, encostada na parede com a maior cara de tédio.

Marcos: Quero saber o nome de todos que te ajuda no tráfico. - disse sério.

Manu: Tu fala demais né. Chatão mané.

Marcos: Colabora Emanueli, tô aqui pra te ajudar. - disse sem paciência.

Manu: Tenho direito a uma ligação, certo? - ele concordou com a cabeça - Pois bem, quero utilizar agora.

Marcos: Ligação só para advogados - olhou nos meus olhos.

Manu: É oque irei fazer, agiliza isso aí. - debochei.

Ele pediu pra mim acompanhar ele, fui né.

Por onde passava naqueles corredores, ouvia piada do meu pai morto e minha filha crescer sem a mãe do lado.

O ser humano é podre, e é por isso que eu odeio a polícia. Raça imunda!

Sentei na cadeira, tiraram a algema e o advogado ficou do meu lado me encarando.

Manu: Oque eu vou falar com o meu advogado é em particular, da licença por favor. - pedi discando o número.

Marcos: Cinco minutos! - saiu da sala.

Ligação 📲

Marianne: Alô? - era de perceber a sua voz de choro.

Manu: Mae? - perguntei em um sussurro.

Marianne: Manu? Você tá bem filha? - começou a chorar.

Manu: Sim, estou bem. Contrata um advogado pra mim, o melhor do Brasil. Tenho dinheiro suficiente na minha conta, pega de lá.

Marianne: O minha menina, o tanto que eu te alertei pra sair dessa vida, agora tô sem você e sem o seu pai - chorava de soluçar - Amanhã é o velório e enterro dele - formou um nó na minha garganta.

Manu: antes dele morrer, ele mandou dizer que ama você e a Luz. Falando nisso, ela está bem? De um beijo em meu pai, peça perdão pra ele olhando ao céu por eu não ter conseguido salva-lo. - uma lágrima caiu do meu olho.

Marianne: Pare de se culpar filha! A Luz tá bem, está te chamando muito. Vai ser difícil pra mim amanhã ver seu pai no caixão.

Manu: Não tenho muito tempo mãe... - respirei fundo - O telefone daqui da delegacia é grampeado, certeza que estão me escutando - dei risada fraca - Troque de número, chame o advogado e de um beijo no meu afilhado e minha filha. Só mais uma pergunta mãe... E o JH?

Marianne: Ok, vou fazer tudo isso. - suspirou - Pra ser sincera jh não está nem aí, não veio aqui vê a filha e ja pegou o comando do morro.

Manu: Filho da puta - sussurrei - Ta bom então, te amo - delegado entrou na sala - Tchau, fica com Deus.

Ligação 📴

Respirei fundo antes de olhar pra quele véio feio.

Marcos: Eu jurava que você ia ligar pro advogado - ironizou olhando suas unhas.

Manu: Por que não atrapalhou enquanto eu tava na ligação então? - encarei ele - É verdade, tu queria escutar oque eu ia dizer a minha mãe - dei risada e neguei com a cabeça.

Marcos: Vem vamos, tu vai descer pro presídio já - disse bravo. - Mão pra tras.

Obedeci. Saindo da delegacia pra entrar no micro ônibus onde levam as presas ao CDP, tinha milhares de repórteres e fotógrafos em cima de mim.

Olhei para os repórteres e disse bem alto.

Manu: Vão tomar no cu, Zé povinhos do caraio.

Abaixei a cabeça e fui seguindo o policial.

Me jogaram dentro do micro ônibus, onde tinha várias presas e colocaram minhas algemas junto com outra detenta.

Era assim que todas nós estavamos, uma grudada na outra.

Fecharam aquilo deixando a gente no escuro.

Todas em silêncio até uma falar cmg.

Xxxx: Escutei por fora que você é dona de morro - tentei identificar quem falou, mas era impossível no escuro. Não tinha nem ventilação.

Manu: É verdade. - disse por fim.

Ninguém falou mais nada e eu agradeço por isso.

Ficamos muitas horas ali dentro, não chegava nunca.

O caminho todo vinha a cena do meu pai morrendo na minha frente.

Com certeza o PH viu a cena tbm. Eu sei que posso confiar nele.

E é isso que vou fazer.

Aquele baile funk Onde histórias criam vida. Descubra agora