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Marianne.

Não tem decepção maior pra uma mãe, do que vê sua filha algemada.

Porra, dói na alma!

Mas com fé em Deus hoje ela sai desse inferno.

Nunca fui a favor do tráfico, mas cresci em favela.

Quando fiquei grávida dos gêmeos eu saí de lá sem olhar pra trás, mas eu sentia falta.

Depois que descobri que um feto tinha morrido na minha barriga e só sobrou um.

O meu mundo acabou ali. Pois eu já fazia planos com os meus dois bebês.

Nasceu só a minha Manuzinha, e sabia que ela daria um trabalho danado pra mim. Aquela ali contava como cinco crianças de tão atentada que era.

Deus deu a oportunidade do pai dela se desculpar por tudo, mostrar que era outro homem e ser um paizão da porra pra minha filha. Mesmo depois de grande.

Eu me amarrava demais vê o amor que aqueles dois sentia um pelo outro.

Todos os dias a Manu estava grudada no pescoço do pai. Depois que ela tentou se suicidar, o Matador dava toda atenção do mundo apenas para filha e para bárbara que ele considerava como filha também.

Eu nunca quis ela no mundo do tráfico, eu nunca quis ela como dona de um morro. Mas era como o matador me dizia:

"Amor, a escolha nunca vai ser nossa. Não posso privar ela de ser a herdeira por que é a lei do comando. Se o filho quiser ser dono do morro no futuro, a minha obrigação é apoiar ela na decisão. Se não quiser ser, eu apoiaria do mesmo jeito! O perigo que ela corre nunca vai ser um problema, só por ela ser minha filha o perigo já é maior. Dona de um morro, ela vai saber como se defender. Eu amo vocês duas e jamais deixaria vocês correrem perigo. Eu dou minha vida por vocês, principalmente pela minha netinha."

Parece que ele está falando pra mim aqui agora, pois é bem nítido eu escutar a sua voz no meu ouvido.

Meu marido, que saudade de você amor. Jamais te esquecerei.

Tudo oque passei com você foi verdadeiro, até mesmo no passado quando eu era imatura demais pra assimilar as coisas da vida.

Sai dos pensamentos com uma voz fofinha cantando toda hora no meu colo.

Luz: Eu palado no bailão, ela com popoxão, o popoxão no xão - cantou animada.

Marianne: Quem tá te ensinando a cantar funk em dona Luz? - dei risada.

Luz: Foi o titio, vovó. Bliga com ele puquê a múxica não sai da cabeça agola. - gargalhei com o jeito que ela falou.

Vou matar o PH por tá escutando funk perto da Luz, esses dois quando se juntam são terríveis.

⏰⏰⏰

Foram longas quatro horas ali naquela cadeira que deixou minha bunda quadrada e com a Luz cantando o tempo todo no meu ouvido.

Até que eu vi o advogado da minha filha vir na minha direção.

Meu coração disparou e pelo olhar dele, ela foi condenada...

Celso: Tudo bem Marianne? - apertou a minha mão em comprimento.

Mari: Dependendo da sua resposta posso ficar bem mal - suspirei - E ai, condenada a quantos anos?

Celso: 15 anos e 6 meses na lei de 3/5. Já estou recorrendo pra baixar a pena - respirou fundo desapontado com o resultado. - Sou um ótimo advogado, irei tirar a sua filha de lá Senhora Marianne.

Concordei e nem falei mais nada, Luz estava dormindo no meu colo.

Sai de perto e fiquei lá fora quando vi Manu passar de cabeça baixa sendo levada pelos policiais. Mas levantou o olhar assim que viu meus pés ali, concordei com a cabeça pois estaria na hora do jogo começar.

Eu não queria a minha filha foragida, mas porra, 15 anos na lei de 3/5 é muita coisa. Ela tem que cumprir 3/5 da pena e eu não quero passar anos visitando a minha filha em cadeia.

Sai correndo dali com a minha neta no colo, abri a porta do meu carro coloquei ela na cadeirinha e fui pro banco do motorista. Peguei meu radinho que estava ali no carro e já acionei o PK e o PH.

Mari: Presta atenção que vou falar só uma vez, ela foi condenada e já tá saindo do fórum. Fiquem atentos que vocês vão pegar ela no meio da estrada abandonada.

Não esperei a resposta deles, desliguei o rádio e fui em direção ao morro.

Seja oque Deus quiser e que a minha filha volte pra casa viva, amém senhor!

Aquele baile funk Onde histórias criam vida. Descubra agora