Maximiliano

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¤ Ninho do Desastre.

Sua bota preta era a fonte de sua principal atenção, seus braços envolta do corpo era reconfortante de modo que Max nunca permitiu ninguém ser. A areia compacta que cobria o chão da arena se mostrava mais escura naquele momento, talvez resultados de seus pensamentos nublados e sua agitação tempestuosa. Só queria poder explodir o mundo todo como se cada vida ali não importasse nada.

E não importava.

Max enfim tomou coragem e levantou o rosto para encarar seus aprendizes de uma vez por todas. Eles estavam desanimados e ele sabia o motivo; todos eles sabiam.

— É verdade que você não será mais nosso mestre? — Erick perguntou.

Max cedeu a cabeça, concordando. Alguns aprendizes suspiraram tristes, outros se mexeram desconfortáveis.

— Não podemos contar mais com você? Quem será nosso mestre agora? — uma menina perguntou.

— Vocês vão poder contar comigo quando precisarem, eu deixei de seu líder, porém ainda sou um soldado — disse Max — Quanto ao novo mestre, bem... É uma mulher transferida, ela já chegou e está apenas esperando eu terminar de falar com vocês para se apresentar.

Os aprendizes se aproximaram mais, tensos enquanto cochichavam uns com os outros. Fred, o gêmeo de Erick, foi até Max e abruptamente o abraçou. Com carinho e demonstrando saudade sem ao menos ficar distante de Max. O flamejante encolheu o corpo sentindo o coração vibrar com o susto que levou, o ar que entrava em seu corpo ficou preso na garganta enquanto em sua cabeça milhões de palavras passavam por segundos. Max teve que usar todo o seu autocontrole para não empurrar o aprendiz e queimá-lo por reflexo.

Max sabia que estava na hora de esquecer o passado e montar um futuro, porém as marcas que aquilo deixou nele jamais poderia ser apagada sozinhas, não com Max.

— Vamos sentir a sua falta, Max — disse Fred — Você é incrível, não se esqueça disso.

Max, travado, lutou com todas as suas forças para conseguir rodear os braços envolta do menino para retribuir o carinho de despedida. Foram segundos de aceitação que Max nunca pensou em conseguir sobreviver. Ele estava aliviado, era o que ele precisava para saber que conseguiria, com toda a certeza, enfrentar o demônio que o assombrava desde pequeno.

— Vocês foram importantes para mim, tanto os mais velhos, quanto os mais novos — disse Max — Eu passei muito tempo instruindo vocês, mas eu aprendi muito mais com a presença e a experiência de trabalhar com vocês. Eu amo o que eu faço, e amo saber que cada dia que passa vocês se tornam pessoas melhores e capazes de realizar tudo o que for necessário... — fez uma pausa para guardar suas emoções — E eu quero pedir para vocês não tratarem isso aqui agora, como uma despedida, isso não é um adeus, eu ainda vou voltar, mais cedo ou mais tarde, eu vou voltar. Eu quero ver vocês na Cerimônia de Iniciação, seja eu estando lá como mestre ou não. Eu tenho orgulho de vocês, eu sei que são capazes, sei que vão conseguir tudo o que quiser, vocês são meus aprendizes, afinal.

Max sorriu decretando tudo o que disse. Alguns alunos derramavam lágrimas tímidas, outros tentavam se manter firmes, porém desabavam aos poucos. Eram mais de vinte alunos ali, todos eles gostavam de Max e seu jeito exigente, ele era querido por todos mesmo sendo incontentável na maioria das vezes.

Os alunos foram até Max e o cercaram em uma abraço coletivo. Max respirou fundo e se abriu a isso sentindo os olhos queimarem por lágrimas e desespero. Ele não iria chorar, não faz isso a mais de vinte anos, não iria fazer agora.

— Esperaremos por você Max, vamos esperar o quanto precisar — Mary, uma das aprendizes, disse com o total convicção recebendo apoio de todos os outros.

ØRIGINAISOnde histórias criam vida. Descubra agora