Dante

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Nunca havia entrado naquele lugar, mas naquele momento se fez necessário. Dante estava no carro com Max sentado ao lado, preso firmemente no cinto de segurança. O corpo dele balançava fácil, já que estava desmaiado sobre o banco, a pele estava suja de sangue, poeira e suor, havia feridas e sangue de outra pessoa.

Ele estava destruído.

Dante não queria olhar para ele naquele momento, mas sabia que o certo seria aproveitar ao máximo enquanto ele estivesse dormindo, já que quando acordasse seria apenas o Valentim, o humano que veio da França e nunca soube o que é a Asas do Submundo.

Aquilo doía no fundo do peito de Dante.

Eles entraram no conjunto de apartamentos que abrigavam apenas os guardiões que perderam seus dons. Dante foi calmo na hora de estacionar o carro na garagem subterrânea, apesar de ter a visão embaçada por causa das lágrimas.

A todo momento Dante foi delicado, pegou Max em seus braços como se estivesse acolhendo um recém nascido frágil. Levou, com toda a calma do mundo, o ex-namorado para dentro do apartamento que pertencia a ele naquele momento, um apartamento que ficava do décimo oitavo andar.

Por consideração a todos os riscos de vida que os guardiões sofrem todos os dias, os Institutos de todo o mundo são responsáveis por proporcionar todo o conforto que eles merecem, deixando-os com um belo apartamento caso algo de extrema ruindade acontecesse.

Era por isso que onde Max viveria seria eternamente sofisticado e moderno.

No quarto principal havia um banheiro com uma banheira polida e nunca sequer usada. Dante deixou o corpo de Max sentado sobre a privada, ligou a banheira e tirou as roupas dele enquanto esperava a água encher.

— Por que você foi fazer isso, senhor Max? — Dante sussurrou enquanto tirava a camisa de Max — Estava tudo bem, era só me chamar para te ajudar com isso.

Dante terminou de tirar tudo de Max e o colocou dentro da banheira, garantindo que a cabeça dele ficou confortável escorada na borda. Dante se sentou no chão ao lado da banheira e  pegou uma bucha de tule, passando o sabão líquido e limpando toda a pele pálida de Max, marcada pela coloração roxa, vermelha e às vezes verde.

Dante cuidou de Max como se estivesse fazendo carinho, observando tudo com o semblante tranquilo, porém triste e um pouco devastado.

Havia passado por tanta coisa em um só dia, tantas emoções, altos e baixos, lágrimas, desespero. Dante tinha certeza de que quanto se deitasse da cama de sua nova casa, sentiria a tristeza mais profunda que já havia enfrentado.

Perdeu sua família biológica, perdeu muitos amigos ao longo de sua carreira, perdeu Nicolás, quase perdeu Tiana e agora não tinha mais um Max em sua vida. Dante estava quase se acostumando com a tradição de perder toda a amizade que construía, além de sua família e os entes mais próximos, assim como Max, Tiana e Nicolás.

Quando Dante terminou de banhar Max, as feridas que tinha no corpo do ex-guardião já havia se curado, Dante tinha tirado o sangue escuro e lavou com todo o cuidado o cabelo comprido, tendo cuidado com tudo o que fazia. 

Vestir alguém desmaiado é a parte mais difícil, por isso Dante apenas colocou uma camisa preta em Max e deixou o resto do corpo com uma cueca comum, pensou que seria mais casual ele dormir assim. Deitou-o sobre a cama e cobriu o corpo dele com uma coberta que havia dobrada perfeitamente sobre o pé da cama. Ele continuou desmaiado, o rosto sem nenhuma marca, sem cravo ou espinha, avermelhado pelo recente banho.

Dante sabia que isso iria mudar.

— Eu não acredito que você foi corajoso a esse nível — Dante sussurrou enquanto passava as pontas dos dedos sobre a bochecha lisa de Max — Você se sacrificou pela Tiana, eu serei eternamente grato por isso.

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