Dante

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Demorou para passar a dor, demorou muito, Dante teve que fazer muitos sacrifícios para esquecer o Max, trabalhou dobrado, treinou mais e esperou, esperou muito, deixou que o tempo varresse a dor e a deixasse apenas como uma boa lembrança. Demorou muito para isso acontecer, se duvidar, ainda não tinha acontecido.

Havia vezes que acordava no meio da madrugada e olhava pelo alto da sacada, observando o mar e lembrando que poderia estar abraçando Max, trocando farpas como dois amantes, rindo baixinho para não acordar Tiana no quarto ao lado. Ele ainda sentia saudade, não gostava de lembrar por causa disso, mas não queria esquecer também.

A casa do Nicolás estava sendo o lar do Dante e Tiana definitivamente, a decoração mudou ao longo do tempo, as cores ficaram mais vivas e, apesar de ser apenas duas pessoas, Dante intitulava sua família como feliz. Tiana evoluiu muito, cresceu maravilhosamente bem, bonita, inteligente, uma boa lutadora, além de ser um prodígio na arte de localizar celestiais na Central.

David mudou bastante, construiu mais massa muscular, continuou namorando com o Jonny — que futuramente tornou-se o braço direito do Dante dentro do Instituto —, David se tornou um líder maravilhoso, animado e foi reconhecido como o que tinha mais engajamento entre os aprendizes. 

Não só os aprendizes dele.

O tempo realmente havia passado, passado muito. David percebeu a mudança do Dante, a forma que se afastava de qualquer tipo de relacionamento afetivo, como apenas dava devida atenção as amizades e a forma que cuidava da Tiana, o Instituto e a administração das navegações, já que se tornou o novo capitão.

Ele empurrou algumas pessoas para Dante, mas nada que desse certo durante muito tempo. A mais recente, sendo uma mulher transferida do Egito, ela ficou extremamente revoltada quando descobriu que o Dante tinha um papel importante na história que aconteceu em Los Angeles, ela não queria aceitar que o namorado era o ex de Maximiliano Adams, o Príncipe da Luxúria.

Dante acabou terminando com ela por causa da insistente cobrança, ela dizia que o Dante tinha que esquecer o passado e focar totalmente nela. Dante concordava em partes, mas não era como se pudesse esquecer de tudo como se não tivesse significância alguma. Tinha sim, tinha muito. Por isso Dante preferiu ficar sozinho, com seus próprios demônios.

Devia confessar que nos primeiros meses a preocupação foi grande, assim como a saudade, o que levou Dante a dar uma pequena espiada em Max, observando-o de longe quando passava pela rua onde ficava o condomínio dos que perdiam a marca. Sempre sorria dentro do carro, vendo que ele continuava lindo, mesmo tendo cortado o cabelo. Dante observou durante algumas semanas, e quando viu que estava tudo bem, nunca mais voltou.

Ficou sem vê-lo dali em diante.

Mas houve aquele dia, o tão nervoso dia. Dante viu, e Max estava olhando para ele no mesmo segundo. O coração doeu quando deu a batida, acelerando logo depois, as mãos tremeram e traspiraram. Não conseguia digerir aquele momento, aquele olhar que tanto sentia saudades e falta. 

— Você viu? — Tiana sussurrou, mais nervosa ainda — É ele, tio Dante, é ele!

Dante concordou com a cabeça, respirando mais rápido. Estava realmente nervoso. Olhou novamente para onde estaria Max, vendo que ele mexia no celular, distraído com o aparelho. Dante voltou os olhos para a sobrinha e respirou fundo, tendo a impressão de que o ar não estava chegando onde deveria.

— Posso ir lá falar com ele? — Tiana perguntou.

— O quê? Não! É proibido falar com quem perdeu a marca.

— Por quê? Isso é injusto! Ele estava olhando, se fosse para ele lembrar já teria feito isso.

— Tiana...

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