Dante

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— Eu juro, nunca vi uma pessoa tão fria como ele, foi incrivelmente horrível ver aquilo — disse Dante.

— Isso é porque você não viu quando ele matou uma mulher grávida e seu filho perfurando a barriga — disse David sentado na cama de Dante.

O soldado virou para ele com os olhos esbugalhados. Se já era péssimo pensar em Max matando uma criança, pior ainda era imaginar ele matando uma mulher grávida e seu filho.

— Era um demônio disfarçado — disse David.

Dante relaxou ao ouvir isso. Por um momento seu cérebro parou de xingar Max e sua personalidade fria.

— Bem, um demônio disfarçado que ele não tinha certeza que era um demônio disfarçado — disse David. Dante enrijeceu novamente e fitou David alarmado. Rindo David continuou — Max diz que tem um instinto para demônios, algo que ele não sabe explicar com exatidão. Confia nele, ele sabe o que faz.

Dante passou os próximos dez segundos matutando as palavras de David. Matar uma criança e sua mãe com toda aquela certeza era uma coisa muito suspeita e que com Max deveria, mais do que imediatamente, pesquisar.

Dante se sentou na cama junto com David e ficou quieto lembrando do choro fininho da criança, depois seu grito grosso e carregado de sofrimento. Ele sentiu sua coluna esfriar com o arrepio.

— Você não está pensando que Max é totalmente frio e sem coração, está? — David perguntou com delicadeza.

Dante olhou para ele vento seu olhar curioso e muito hesitante. O soldado suspirou desviando o olhar para conseguir proferir as palavras com clareza.

— Eu tenho consciência de que o que ele fez foi certo, mas ainda sim me incomoda o fato dele não ter ao menos... vacilado na hora de... cravar aquela espada no peito do menino — disse Dante mostrando horror em seu rosto nas últimas palavras.

David se remexeu na cama procurando mais proximidade com Dante. David bateu seus dedos sobre a coxa de modo ansioso e respirou fundo, Dante não deixou de reparar nisso. David parecia um bom amigo, mostrava isso no fato de estar ali defendendo as atitudes de Max e ao mesmo tempo consolando Dante das próximas lembranças que ele terá em sua mente.

— Max nunca me disse, mas ele teve um passado muito conturbado, ele não é do tipo que se abre com facilidade com as pessoas, quando ele faz isso, é apenas para explicar um pequeno momento, sempre deixando lacunas e rios de possibilidades para criarmos teoria — David disse com a voz baixa, havia apenas os dois naquele cômodo — Talvez quem sabe de tudo que ele passou seja o General Raider, o mestre de Max.

Dante procurou em sua mente onde havia ouvido aquele nome. Lembrou apenas de Nicolás falando sobre seus amigos e suas conquistas juntos para esbanjar sua experiência aos marinheiros. Raider era seu amigo de missão na época que ele era apenas um soldado como Dante.

— O que isso tem a ver com o que estamos falando? — Dante perguntou.

David inclinou seu corpo para trás encostando-o contra a cabeceira da cama de Dante. Ele cruzou os braços e manteve seus olhos em sua coxa, naquele momento não havia traços do menino iluminado que irritava o amigo líder e constrangia o mais novo entre eles, existia apenas um adolescente entrando em fase adulta pensando sobre alguém que demonstrava gostar muito. Soava muito responsável.

— Quero dizer que muito provavelmente Max faz esse tipo de coisa pois já sofreu o suficiente para não se importar com mais ninguém — disse David — Não que ele seja hipócrita, mas acho que o que quer que ele tenha passado, não é o suficiente para se comparar ao sofrimento de outra pessoa.

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