Max abaixou o algodão branco como neve no líquido viscoso que havia no pequeno pote de alumínio em cima da cama. Seus dedos espremeram o algodão, tirando o excesso da seiva gosmenta, Max chacoalhou insignificantemente a penugem e levou com cuidado o objeto encharcado para a pele ferida a sua frente. Um toque mínimo para limpar.
— Aí, Max! — Dante reclamou enquanto o flamejante segurava a risada.
— Calma, isso nem dói tanto — Max riu mais enquanto pressionava o algodão em um dos cinco ferimentos que Dante tinha em um dos ombros.
Havia chegado no Instituto há algumas horas, Max afirmava o tempo todo para Dante que ele deveria cuidar do seu machucado demoníaco, mas Dante não dizia ser necessário, até que Max o pressionou tanto que Dante não teve outra escolha a não ser ouvi-lo e fazer a limpeza. Max se ofereceu para ajudar e foi aceito no mesmo momento.
Agora estavam no quarto, ambos em silêncio, Dante as vezes reclamando da dor e Max rindo por isso. Tiana também estava ali, ela fazia careta toda vez que Max tocava a ferida, como se ela estivesse sentindo a dor alheia. Ela só estava surpresa demais por ver pela primeira vez um machucado demoníaco.
Max trocou de algodão e fez o mesmo processo anterior de molhá-lo no líquido espesso e espremer para diminuir a quantia. Max levou o algodão para o segundo ferimento.
— O que é isso que você está passando nele? — Tiana perguntou.
— Isso? — Max apontou para o pote — Isso é seiva da Árvore da Vida. Sabe que árvore é essa?
— Não sei, não.
— É a árvore que tinha o fruto proibido de Adão e Eva, no Jardim do Éden.
A menina fez um som surpreso, arregalando os olhos já grandes para a seiva, impressionada o suficiente para não dizer nada. Max sorriu com isso e tocou mais uma vez o machucado de Dante, ouvindo-o sugar o ar entre os dentes.
— Mas o Jardim não foi destruído? — a menina perguntou interessada.
— Quem disse isso? — Max perguntou — O Jardim nunca acabou, inclusive, quando nós guardiões morremos, nossa alma vai para lá.
Não podemos esquecer que Max falava fluentemente em português, mas tinha o sotaque carregado por nunca precisar usar a língua portuguesa.
Max jogou o algodão da lata de lixo ao lado de seu corpo e pegou outra bolinha branca, umedecendo-a na seiva rosada. Max pressionou o algodão contra o terceiro ferimento, fazendo Dante se contorcer, seus olhos se satisfizeram quando viu o músculo da omoplata de Dante se mover pela tensão. Max pela primeira vez estava vendo pessoalmente a marca de Dante, era tão linda que poderia ficar o resto de sua vida a observando. Tantos detalhes, tantos traços, tanta intensidade. Max adorou a imagem.
— Por que vocês não vão para o céu? — Tiana perguntou.
— Nós matamos anjos e demônios, é muito capaz que em algum lado, seja céu ou inferno, algum anjo ou demônio teria raiva da gente por termos matado algum amigo deles — Max respondeu, seus olhos sempre focados no ferimento de Dante — Assim é mais fácil de evitar uma rebelião.
— Que complicado — Tiana resmungou.
— Eu pensava a mesma coisa — Dante disse — Depois que eu aprendi, tudo ficou mais fácil, então não se preocupe.
Max jogou outro algodão fora. Repetiu o mesmo processo para limpar o quarto ferimento de Dante.
— Você teve sorte que o demônio não pegou na marca, foi por poucos centímetros — Max comentou — Teríamos um grande problema caso isso acontecesse.
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ØRIGINAIS
FantasíaSubmundanos criados para matar anjos, seres que não são o que todos pensam. Cada um tem seu poder, cada um tem sua missão, cada um por si. Onde não há espaço para paz, pode haver um espaço para o amor. Amor de um líder para um soldado. Aparência de...