Dante

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Uma semana havia se passado, dia oito de maio. Era o quinto mês que Dante estava no Instituto de Los Angeles, ele já sabia o que vinha a seguir, sabia também que deveria avisar Max, porém ainda faltava longos dias para acabar maio, não havia necessidade de se precipitar por agora.

A manhã estava completamente normal, não demorou para cortar às três da tarde, deixando um calor insuportável por toda a cidade. Dante se hidratava o tempo todo com água enquanto estudava sobre simbologia dos demônios, algo que havia deixado pela metade. Max estava ocupado com seus aprendizes, treinando-os como sempre. Nada fora do comum, realmente.

Jonny havia saído para uma missão com a Emilly Dinner, David estava com Mathew e provavelmente demoraria para voltar, Tiana estava com o professor Bryan aprendendo inglês, então tudo o que sobrou para Dante foi a academia, os livros e a internet. Também não achava ruim, dava para se contentar com isso.

O seu livro e caderno estava sobre a mesa do refeitório, Dante escrevia um mapa conceitual sobre os símbolos, cada tópico com uma língua diferente para não perder o hábito. Era uma confusão gigantesca que apenas ele entendia, começava no português, depois passava para o inglês, pegava um tom sensual e escrevia em espanhol, depois ficava chique e escrevia em francês, com um sotaque forte na cabeça escrevia as palavras em italiano, assustadoramente escrevia com o japonês fluente, e terminava com o latim e o hebraico, assim fazia uma tremenda lista com várias línguas diferentes.

Adorava fazer isso.

Olhava para o pentagrama na tela do tablet e escrevia o que ele significava para diferentes religiões, cada uma com um idioma dessemelhante. Depois estudava mais a fundo sobre os símbolos nos livros datados a mais de cem anos e transcrevia aquilo que havia entendido, assim conseguia o máximo de informações o possível. Era um verdadeiro prestigiado por ter o dom maravilhoso de ser um guardião e ter uma capacidade de aprendizado mais elevada do que a maioria dos humanos.

Wicca. Dante escreveu no caderno, pronto para colocar a definição. Seus olhos subiram para a garrafa em frente aos seus livros e mais atrás, na visão tridimensional, Dante pôde ver Max escorado em um dos vários pilares do refeitório. Seus braços estavam cruzados e seu coturno estava para trás, com a sola pregada contra a mesma construção que suas costas estavam. Típica posição que ele fica quando está relaxado e pensativo.

Ele poderia estar sozinho, mas não, estava conversando com Kriger, o líder da eletricidade. Dante franziu levemente a sobrancelha e rodou a caneta prata entre seus dedos decorados com anéis da mesma cor. Por que eles estavam naquele canto mais isolado e conversando com tanta descrição?

Dante até pensou em mandar algum inseto ouvir a conversa para ele, mas se conteu por saber que aquilo era extremamente errado, era invadir espaço do seu colega de trabalho e amigo.

Colega de trabalho e amigo, era exatamente assim que deveria ver o flamejante, e ao lembrar-se disto, Dante abaixou o olhar e voltou a escrever. Colocou culpa na falta de prática após errar o uso do verbo em francês, depois culpou mais ainda quando escreveu "end" e não "and" em inglês. Erros bobos causados pelos pensamentos ciumentos de Dante.

Mas será que não é nada demais? Max nunca falou com aquele homem antes; Dante se perguntou. Será que ele está incomodando-o? Eu deveria ir lá? Ele provavelmente vai achar que eu sou maluco, então vou ficar aqui mesmo. Dante pensava tanto que nem percebeu quando começou a clicar na caneta para ela abrir e fechar a ponta, compulsivamente levado à sala escura da incerteza.

Ir lá ou ficar aqui? Dante sabia que Max sentia mais interesse nele por causa da sexualidade, mas e se ele estivesse pensando em tentar com outra pessoa? Max era extremamente teimoso, não duvidaria que ele estivesse indo contra os próprios desejos. Aquele orgulhoso!

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