Dante

57 16 24
                                    

Ambos estavam sentados sobre a ilha que tinha em meio a cozinha gigante, os pés não tocavam o chão por causa do banco alto, ao fundo, se ficassem bem em silêncio, poderiam ouvir o som tranquilo do mar batendo suas ondas contra as pedras, os coqueiros chacoalhando, algumas aves e insetos como cigarras e grilos fazendo sua cantoria noturna.

Um lugar que Dante passaria o resto da vida sem reclamar.

— Hum... Me diz, onde aprendeu a cozinhar assim? — Max perguntou ao servir mais macarrão da travessa de vidro — Vai me dizer que ser marinheiro requer saber cozinhar bem?

— Não — Dante falou prolongando a vogal — Mas eu gosto de cozinhar, aprendi o básico com a minha mãe, mas aprimorei com alguns cursos online.

Max arqueou a sobrancelha e perguntou:

— O que mais sabe fazer além de macarrão cremoso? 

Dante olhou para Max de cima a baixo, analisando a pose debochada que ele tinha.

— Ratatouille.

— Nem ferrando, você não sabe fazer ratatouille — Max nem deixou Dante terminar de falar — Tipo, ratatouille mesmo?

— Não é tão difícil. Você nunca tentou?

Max levantou um dos ombros, incerto de sua resposta.

— Não que eu não saiba fazer — Dante riu assim que ele terminou a frase — O quê? Eu apenas não tenho paciência para cortar todos os ingredientes e mais um monte de burocracia, muitos legumes e você sabe, não é? Tem que ser tudo fininho e bem posicionado.

— Você não tem paciência? Ora essa, você não tem paciência! — Dante debochava — Max, ratatouille é a coisa mais fácil que tem para fazer.

Max riu e revirou os olhos logo depois.

— Ei! Eu tenho direito de não gostar de fazer algo!

As mãos de Dante se ergueram, em sinal de rendição. Max continuou comendo enquanto Dante se levantou e foi para um porta vinho escondido dentro de um armário, ele pegou uma das garrafas e virou para Max, abrindo um enorme sorriso.

— Em homenagem ao ratatouille que você tem preguiça de fazer, nós tomaremos um vinho francês — Max riu e girou cento e oitenta graus de um lado a outro no banco alto, divertindo-se enquanto mastigava — Catena Malbec, o que acha?

— Caro, e só tem raízes na França, mocinho.

— Ascensão na Argentina, não é?

— Vai me dizer que sabe de vinho agora? Assim não dá para competir.

Dante levantou um papel rústico, preso em uma linha de barbante rústico bem no pescoço do vinho.

— Eu li aqui. 

Max riu e Dante teve que se aproximar, levando duas taças com as bocas bem largas, próprias para vinho. Max sorriu docemente e segurou a taça para Dante servir para ele. O líquido escuro não chegou ao meio da taça, como era o certo a se fazer.

— Você sabe muito sobre etiqueta, fez curso também?

— Você sabe que temos aulas de etiqueta, principalmente para lidar com os demônios de Mamon — Dante voltou a se sentar no banco em frente ao Max — Nosso... Tio, eu acho.

— Com certeza é o nosso tio. Confesso que chamaria Belzebu de "padrinho" caso fosse criado por Lúcifer, mas como não é o caso...

— Eu com certeza tenho intimidade com Belfegor, de tanta preguiça que me dá às vezes — Dante riu junto a Max — Por que a preguiça é um pecado? Todo mundo tem preguiça às vezes.

ØRIGINAISOnde histórias criam vida. Descubra agora