Dante

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As mãos estavam sobre a mesa, cruzadas de forma que seus dedos ficassem bem apertados para descontar o momento tenso. David e Jonny estavam sentados à sua frente, esperando até o momento que resolvesse explicar o que foi que aconteceu no pátio da mansão. Jonny ainda parecia atordoado, e David negava com a cabeça, como se não aguentasse a pressão de saber sobre a história horrível de seu namorado e de seu amigo.

— Eu vou... resumir o máximo que eu posso — Dante respirou fundo e começou: — Max, aos seis anos começou a sofrer uma série de abusos do próprio pai, depois, por causa de dívidas, foi vendido para um homem chamado William, que vendia essas crianças ilegalmente para famílias de fora. Ele gostou do Max e resolveu fazer algo pior: começou a vendê-lo como um tipo de "prostituto" para homens com muito dinheiro. Depois ele foi vendido novamente e conseguiu fugir quando recebeu poderes.

Quando Dante terminou de falar, David simplesmente virou e vomitou um canteiro de ervas-daninhas no chão de pedra, ficando com o rosto vermelho pela força que tudo saiu de seu interior. Era raro, mas quando um guardião vomitava, isso quer dizer que algo muito errado e muito forte estava acontecendo. Dante acabou sentindo a mesma vontade, mas segurou no fundo de sua alma para que nada saísse de seu corpo.

— Você... Quer dizer que meu pai era um desses? — Jonny perguntou devastado.

— Infelizmente.

Jonny jogou a cabeça para trás e respirou fundo, se levantando e saindo depressa. Aquilo era algo que pouco a pouco iria se resolver, mas até lá, as coisas serão difíceis. Era tanto estresse que Dante já sentia até dor de cabeça, mesmo sabendo que não era algo possível.

David passou a mão fortemente no rosto e olhou para Dante.

— Você sabe quantos eram?

— Não, mas conheci dois deles, além de ver esse tal William. Nojentos.

David iria comentar mais alguma coisa, porém Tiana chegou chamando a atenção de Dante. Ela estava com o rosto triste e andava desanimada, provavelmente estava magoada com alguma coisa. Dante deu atenção a ela assim que David também se retirou, atordoado e com ânsia.

— O tio Max não abriu a porta para mim quando eu fui atrás dele para brincar — ela tinha um bico enquanto falava isso — Será que ele não gosta mais de mim?

— Claro que não, minha pequena. O tio Max deve estar dormindo, ele viu alguém que o deixou muito triste e prefere dormir, tudo bem? — Dante deixou um beijo sobre a cabeça da menina e então se levantou — Eu vou fazer chocolate quente, você quer?

— Sim!

E apenas isso bastou para o sorriso animado aparecer em seu rosto redondinho e a menina saltar animada em direção a cozinha.

~~~

— Posso entrar? — Dante perguntou e ouviu uma concordância rápida.

Uma mão abriu a porta e outra segurou melhor a xícara que jazia em seus dedos. O corpo de Max estava encolhido na cama, debaixo de várias cobertas, os travesseiros recolhiam a sua cabeça e ele parecia tão relaxado, sonolento e quietinho que dava a impressão de que estava no colo de uma ninfa recebendo carinho nos longos cabelos ruivos.

Dante sentiu uma flecha contra seu peito, aquela imagem era tão agressiva que lhe deixou ferido de amores. Tinha vontade de pular sobre Max e morder sua bochecha por lhe causar tantos sentimentos como esse.

Que isso? Se recomponha; Dante pensou.

— Você está legal? — Dante perguntou.

— Estou tremendo até agora — Max foi sincero, se encolhendo mais debaixo das cobertas.

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