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Joe.

Ela acabou dormindo no meu colo enquanto os episódios da série passavam. Com a cabeça deitada em meu ombro e o braço em volta de minha cintura, minhas mãos traçam círculos em seu pescoço. Estou tão completo que me sinto culpado. Porque penso se ela se sente completa, e eu poderia morrer para que se sentisse.

Seus olhos tem grandes olheiras ao redor, seu rosto está pálido e cansado. Ela está destruída.

Quando ela desapareceu, foi como se uma parte grande da minha vida tivesse ido embora com ela, porque, mesmo que não estivéssemos mais juntos, eu queria seu bem e sua felicidade mais do que qualquer coisa que eu já houvesse desejado antes.

Quando liguei pra Midge na manhã de terça, ela atendeu no terceiro toque. Me contou o que ele fez com ela. Minhas mãos se fecharam e eu quis socar seu rosto até que ele sumisse do mundo. Eu sei que também não fui um santo com ela. Mas eu a amo tanto. E eu sempre procurei estar ao seu lado quando o otário a deixou.

Prometi a mim mesmo que nunca mais iria aceitá-la quando ele socou minha cara naquele hotel, fomos para o seu alojamento e eu tive minha ultima chance de beijar e acariciar todas as partes do seu corpo. Ela se entregou pra mim, me lembrando que eu nunca havia deixado de ser entregue pra ela. Mas, ao saber todos os dias por sua mãe o que ela estava fazendo a si mesma. Eu queria ter ido no primeiro dia.

Ao ver seu rosto vermelho e surpreso por me ver em sua porta eu me derreti todo por dentro, queria gritar: eu sou seu, me pegue, me beije, me tome pra você, mesmo que por mais uma unica vez, mesmo que depois eu não seja mais ninguém. Eu me recolhi a mim mesmo porque se eu me doasse novamente, eu sumiria de mim mesmo quando ela me deixasse porque ele apareceu com um anel de brilhantes.

Mas ela sorria tão genuinamente ao meu lado, enquanto eu estava dizendo amenidades sobre Drake, ela estava abraçada nos joelhos com os olhos brilhando, tão linda e sorridente, que o corpo balançava como se estivesse em uma rede. Nesses momentos eu me esqueço de tudo e foco apenas em sua felicidade e na energia transcendental que ela tem pra mim. No amor genuíno que sinto por ela. Porque não importa com quem ela estivesse, eu estaria lá.

Ela sorria com os olhos, os lábios, os dentes, os músculos, a língua, os pelos do braço. Ela estava ali e ela era sem dúvidas a luz da minha vida. Me pergunto de onde tirei essa expressão, mas é isso que ela é, seus cabelos loiros são os raios de sol esvoaçando e queimando tudo ao seu redor, seu sorriso reluzente, sua voz calma e suave que é o som mais bonito.

Ela está com a cabeça em meu peito dormindo recostada e eu quero acordá-la. Puxar seus braços e tocar seu corpo, beijá-la para que ela possa ver o quanto preciso disso, o quando a desejo e o quanto sempre desejei. Ela é linda, mesmo diferente, mesmo ainda abalada, ela é linda.

E eu não me importo se não me quiser. Não mais. Não vim até aqui para que ela visse seu salvador e me agarrasse e beijasse meus lábios. Eu vim porque sua energia fraca me atingia como um dia sem sol, eu vim até aqui porque eu não suportaria vê-la definhar sem tentar até as ultimas consequências fazê-la feliz. Nem que eu lhe apresente rapazes, garotas. Nem que aceite ouvi-la falar sobre outro cara.

Porque o amor que sinto por ela não me permite querê-la pra mim acima de tudo, mas desejar com todo meu ser que ela seja feliz, e se não for ao meu lado, eu serei feliz por sua felicidade.

Eu me apaixonei por ela tão suavemente, quando a vi com apenas 15 anos, correndo pelo jardim de minha casa, quando ela caiu e bateu o joelho na pedra preta que ficava próximo a porta e eu limpei seu ferimento. Quando ela me chamou pra correr de manhã e nós corremos lado a lado e estávamos juntos, um silêncio tranquilo e confortável. Quando toquei sua mão pela primeira vez da forma que um homem toca a mão da mulher que ama. Quando meus lábios tocaram os seus naquele baile de primavera e ela estava com aquele vestido amarelo ovo horroroso. Mas ela ainda era a mais linda porque seu rosto reluzia.

Quando as coisas desandaram, quando eu a vi fugindo de mim, quando beijei Molly em busca de seus lábios, e sucessivamente, tantos lábios em busca do gosto doce do seu protetor labial. E como eu a quis, sempre quis. Em todos os corpos, quando desejei baixinho em meu quarto que ela não acabasse comigo como parecia que iria. Quando acordei anos mais velho em Wisconsin e a vi chorando no elevador. Eu não sabia o que aquilo era, mas talvez fosse o destino.

O destino covarde que me deu uma das melhores noites da minha vida, quando ela me chamou de Hardin e eu ignorei totalmente, quando prometi que ela sempre poderia ser quem era. E esse mesmo destino covarde fez essa bagunça temporal, como se uma criança boba e desastrada tivesse puxado o pano do espaço-tempo com força fazendo que as dimensões se dobrassem e estivéssemos aqui hoje.

Quando ela acordou naquele dia ensolarado na cafeteria me perguntando quem ela era, eu respondi porque entendia o que acontecia. Quando a vi saindo do carro de Hardin Scott e perdi a cabeça porque eu sabia, naquele exato momento, que ela não tinha seu amor mais 100% meu.

E como sofri, todas as vezes que a vi confusa, desesperada e nervosa em busca de perguntas que eu não podia responder porque tive medo que isso pudesse destruir tudo.

E dizer a ela que a amo, que também estou confuso, que não sei qual minha vida real, que a amo, que a amo, que a amo, que amar tanto me consome as vezes e eu só queria não querê-la tanto.

Quando ela fincou suas unhas azuis nas minhas costas e chamou meu nome e não o de outra pessoa. Mas como ela foi embora semanas depois.

Queria berrar na cara dela como senti saudades do natal em sua casa, de Midge e suas comidas, de suas tias bobas rindo a noite toda. Queria gritar.

E quando vi que meus pedidos ao destino, ao cosmos, aos deuses para mantê-la próxima a mim só tinham a levado para caminhos o mais distante possíveis do meu corpo e da minha alma, eu comecei a aceitar. Quando ela ligava menos a cada semana, quando mal respondia as minhas mensagens. E em um momento eu deixei de ligar, deixei de procurar por ela e vivi minha vida. Sempre com seu nome e seu rosto na mente. Mesmo com Catarina, mesmo com qualquer outra, me lembrei dela.

E quis descobrir se ela também não sentia minha falta. Se a bagunça no espaço-tempo tirou suas memórias. Se ela nunca chorou por mim, se nunca chamou meu nome quando não podia me ter. Queria saber mas nunca tive coragem de perguntar, não até agora, com ela deitada em meu ombro dormindo tão bonita.

- Eu te amo. - sussurrei tão baixo que tive certeza que ela não podia ouvir.

Continuei desenhando círculos em seu pescoço macio quando ela abriu lentamente os olhos verdes menta e olhou pra mim com tanta voracidade que eu pensei que fosse sumir. Queria que ela pudesse ver em meus olhos como me consumia, como puxava meu fôlego, minha força, meu éter.

Ela levantou a pequena mão lentamente e pousou do outro lado do meu rosto. Meu rosto todo queimava como se fosse carbonizar, e eu quis carbonizar a mim mesmo e sumir, e morrer.

- Joe... - ela murmurou meu nome enquanto me olhava.

E como senti falta do meu nome saindo da abertura de seus lábios. Não respondi nada, porque sabia que não era preciso.

- Eu me lembro de tudo. - ela sussurrou em meu ouvido.

Eu amo essa mulher e quero ser seu melhor amigo, seu consolo, seu amor, seu amante. Quero que ela me queira com o desejo nu que a quero, cru, cheio de carne e humanidade, como deve ser.

Sorri com todos os muitos dentes pra fora e ela sorriu junto. E eu não me sentia mais só.

- Obrigada por vir me salvar. - ela sussurrou com a mesma intensidade.

Assenti com a cabeça porque foi tudo que consegui com meu corpo paralisado.

Ela se levantou devagar do chão mas eu não consegui fazer o mesmo, estava tão envolvido, tão preenchido.

- Até amanhã. - ouvi sua voz sumindo nos corredores.

Deitei com braços e pernas no chão e sorri pro céu.

''Serei o que precisar.'' - disse a mim mesmo, querendo secretamente que ela pudesse me ouvir.

After AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora