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Hardin. 

Eu me pergunto se algum dia as coisas vão mudar pra mim e eu vou sair desse lugar de ser sempre um filho da puta com todo mundo. As vezes faço as coisas sem intenção, sem o desejo de ser ruim, mas eu sempre chego ao mesmo local de mágoa, sempre magoando e ferindo os outros. 

Alguém como eu não deveria mesmo existir. 

Sentado no carro, o som toca Arctic Monkeys baixinho, bebi mais de 1/3 da garrafa de whisky e minha vida parece mais miserável a cada gole, pelo ou menos eu me sinto entorpecido, descansado, isso ajuda um pouco, a dor fica perdida entre sentimentos e sensações em um corpo cansado. 

Talvez eu devesse me isolar, livrar as pessoas de mim, ir pra casa agora e tirar minhas coisas, deixar Tessa em paz, como talvez eu deveria ter deixado desde o começo, mas agora tudo parece turvo e essa parte egoísta grande demais dentro de mim ainda me machuca, ainda tira meu sono. 

Pensar em viver sem ela dói demais pra que eu a deixe, para que eu a alerte de que sou um caso perdido, alguém que não a merece, que ela precise se ver livre. Afinal, quando Anna me deixou, ela me salvou no meio de tudo. Só que ainda que tenham se passado 6 meses, parece que tudo aconteceu ontem e é difícil enxergar as coisas com clareza, é difícil ficar perto dela sem me lembrar do que vivemos naquele hotel, do que vivemos durante todo esse tempo, é doloroso. 

Ainda sem conclusão sobre o que fazer com a minha vida, viro a garrafa de novo e deixo o líquido escorrer garganta a dentro, rejeitando mais uma chamada de Tessa. 

Anna. 

Ainda no colo da minha mãe, os pensamentos fluem como as águas de um rio na minha mente, me deixo levar pela correnteza e tantas coisas são concluídas, tantas coisas pensadas e ditas. 

- Mãe. - eu chamo, esperando que ela esteja pronta para que eu despeje mais uma das minhas inúmeras conclusões em cima dela. 

Ela, como sempre, solícita, gentil e pronta, me olha com curiosidade. 

- Eu não sei o que eu fiz comigo mesma, eu não sei como deixei minha vida chegar a esse lugar. - eu digo, pensativa. 

Eu não sei mesmo, horas de conversa, desabafo me levaram a conclusões nem sempre boas ou gentis, mas conclusões duras. 

- Talvez eu nunca esteja pronta pra recebê-lo de volta na minha vida. Ele foi a causa de tudo isso, de toda essa dor dentro de mim, de todos esses traumas, de todo esse medo de me envolver e me ferir com qualquer pessoa que seja, talvez Joe tenha sido o único que ficou do meu lado de fato, ainda que também tenha me ferido algumas vezes... não sei se posso comprara, não sei se meu julgamento está realmente bom agora. 

Ela assente com a cabeça, esperando que eu prossigo. 

Mais um turbilhão de pensamentos me absorve, minha vida, minha história, marcada por mágoas, dores, receios. Com todos, absolutamente todos que me envolvi, meu pai foi o primeiro e abriu as portas para comportamentos disfuncionais e também para que eu aceitasse tanto... para que eu aceitasse tudo, na verdade. 

Eu não sei o que fazer da minha vida no momento, agora tudo parece turvo e complexo, como se todas as minhas certezas não fossem mais certezas e eu tivesse sido abalada e perturbada pela tempestade Louis Todd, ele acabou com tudo. Acho que sempre vou odiá-lo. Isso é o que mais dói. 

Deixo mais lágrimas rolares, mais assuntos sem conclusão, sem saída. Mais complexidades. Sinto meus pensamentos se embaralharem e o sono vir, como um apaziguador de toda dor, acalmando minha mente... me levanto ao mundo dos sonhos, que talvez seja pior que o real. 

After AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora