36

25 4 0
                                    

Joseph.

A chuva está forte demais, ir pro rio hoje não é nem mais uma opção. Me sinto meio burro de ter cedido ao stress que Hardin me provocou, principalmente porque, por um momento, eu sei que magoei Anna, que fiz com que ela se sentisse mal, nervosa e com medo de que eu fosse deixar ela. 

Não tem a menor possibilidade de que isso aconteça. Não sinto como se pudesse deixá-la, fazer isso seria como abrir mão de uma parte grande demais de mim mesmo, com o tempo, a pessoa amada se torna mais de nós do que nós mesmos somos, e quem eu fui, quem serei, tudo é interligado com ela, com o que ela foi, com o que ela é. Eu sei que em qualquer mundo que ela exista, eu existirei junto, amando-a tanto quanto - ou mais - do que a mim mesmo. 

Ela está tomando banho, e eu sentado no sofá vendo o que assistiremos hoje, eu queria fazer algo novo, algo que pudesse surpreendê-la, que fizesse com que ela sorrisse genuinamente. Liguei pra Midge e ela atendeu rapidamente.

''O que houve?'', voz preocupada demais. ''Tudo bem. O que tem pra fazer de interessante aqui hoje?''. ''Tem show do Bon Iver mais tarde, depois acho que uma banda de rock inglesa.'' ''Parece bom, onde?''

Liguei o notebook e comprei nossos ingressos pela internet, o show seria algumas horas mais tarde e eu tinha certeza completa de que ela iria gostar da ideia, ela adora Bon Iver, nós dois adoramos. Roslyn é uma das nossas músicas. Quando ela saí do quarto e vê minha cara de ansiedade, logo percebe que estou escondendo alguma coisa dela, ela me conhece bem demais pra se deixar enganar por qualquer esboço facial que eu expresse. 

- O que tá aprontando? - sua voz era amável e ela estava com o rosto nas mãos. 

Ah... Anna, se soubesse, se pelo ou menos desconfiasse como me sinto quando segura o rosto com as mãos tão descontraída e me encara tão simplesmente, linda. 

- Nós temos um compromisso hoje. - falei, tentando soar o mais imparcial possível. 

Ela sorriu e sentou ao meu lado, segurando minha perna com as mãos. 

- Qual compromisso? 

- Uma surpresa. 

- Surpresa, é? - ela estava animada. 

- Exatamente, senhorita. 

- E como devo me vestir pra sua surpresa? 

Eu sorri e encostei a cabeça no sofá, fechando os olhos, saindo de seu campo de visão. 

- Você vai estar linda de qualquer jeito, certo? 

Ela corou e sorriu pra mim. Eu me senti sortudo, caramba. 

- Vou sim. - ela me deu um soquinho no ombro - podemos ver um filme antes desse compromisso?

Olhei pro meu relógio fingindo uma expressão de pensativo e sorrindo, depois assenti e nós assistimos Me Chame Pelo Seu Nome. 

Esse filme mexeu comigo mesmo. A profundidade em que ele acontece, o jeito íntimo e potente que ele me atingiu... ''Eu me lembro de tudo.'', a frase que Oliver diz para Elio no fim do filme, a frase que Anna me disse dias atrás e que me deu certeza de que ela sempre seria real pra mim, não importando quantos anos se passassem depois disso. 

Sentados com os joelhos se encostando, coloquei ela em minha frente enquanto Visions of Gideon ainda passava no fim do filme, e fui mais uma vez atingido por seus olhos grandes em meus olhos grandes, dois olhos grandes, azuis e castanhos, agora ficando um castanho, um azul, almas se fundindo, se mexendo, dançando, cumprindo com coreografias inesperadas e não conhecidas por ninguém mais que nós mesmos, ali, sentados, joelhos se tocando e todo o resto de nossos corpos se tocando apenas pela presença em energia deles, cheio de sua angelical aura. 

- Joseph. - sussurrei pra ela. 

Ela sorriu.

- Anna. - ela sussurrou. 

Como pode que uma mulher, uma pessoa, um ser alheio, possa tomar totalmente o ser de outra pessoa, como ela tomou o meu? 

Anna. 

Ele me olhava com seus olhos ternos e tranquilos e enchia meu corpo como uma taça que é completamente preenchida em cada centímetro por um vinho muito forte. 

Me chame pelo seu nome e eu te chamarei pelo meu. 

Nunca pensei que eu faria isso de verdade com alguém e me sentiria mesmo como se isso fosse verdade, mas é. Não posso dizer que não sinto mais medo de magoá-lo, porque sinto, sinto medo de que ele sofra por mim, mas não quero mais refletir tanto sobre isso, eu estou meio cansada de sempre pensar sobre tudo e não chegar a nenhuma conclusão exata. O que eu posso fazer é viver isso.

Me levanto um pouco e me movo até estar sentada ao seu lado, deito a cabeça em seu ombro e sinto seu cheiro, ele tem esse cheiro bom demais.

- Acho que é nossa hora de irmos nos arrumar, certo? - Joe murmura enquanto beija minha testa.

Eu sorrio e faço que sim com a cabeça e me levanto. Ao entrar no quarto e pensar no que vou vestir, por um momento rio de mim mesma ao ver como estou insegura sobre como vou me vestir hoje. 

Quando ligo o chuveiro, a água é quente e gostosa em minha pele e eu fecho os olhos, com os cabelos presos e deixo a sensação percorrer minhas costas e meu pescoço até estar totalmente relaxada. Decido que hoje não vou me prender como uma idiota, vou viver o que eu tiver de viver e aceitar minhas consequências. Eu sempre penso demais, me preocupo demais e não vivo o que eu quero mesmo viver. 

Ao sair do banheiro, coloco um som no celular pra me animar e primeiro limpo o rosto e passo uma maquiagem mais forte, os olhos mais delineados, mais escuros nas extremidades e paro meu impulso de passar um batom forte ao pensar, como uma boba, rindo e colocando a mão no rosto, que posso beijar essa noite. 

Solto os cabelos e os deixo ondulados no comprimento, visto uma calça preta de cintura alta, uma camisa curtinha mais folgada amarelo escuro com um girassol preto bordado no peito que a mãe de Joseph fez pra mim e botas pretas. Uma última conferida no espelho e eu espero mesmo que ele não tenha se arrumado muito, ou vou me sentir uma pateta. 

Quando saio do quarto e chego na sala ele está sentado no sofá.

Caramba, ele tá lindo demais.

Sua pele parece estar reluzindo a luz baixa do abajur e quando se levanta pra me olhar, vejo que está com uma calça jeans clara, uma camiseta simples marrom e uma jaqueta da cor do jeans, ele vem até mim e coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha. 

- Você tá tão bonita. - ele murmura baixinho.

Me inclino e lhe dou um abraço forte e demorado, ele faz com que eu me sinta muito bem, quando estou ao seu lado, me esqueço de todas as besteiras que aconteceram comigo todo esse tempo e me concentro só em seu rosto reluzente, como uma pele pode ser tão bonita? 

Descanso a cabeça por alguns segundos em seu peito e acalmo meu coração.

Sinto que vai ser uma grande noite

_____________________________________

Hi guys! Estou super feliz com a interação de todo mundo e com o desenvolvimento desse livro, sério, os feedbacks de vocês me motivam demais. 

Instagram pessoal: @brunavratilova




After AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora