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Hardin. 

Existe uma frase muito boa, um questionamento que eu li por tabela de um dos livros de Tessa.

''Como vamos sair desse labirinto de sofrimento?''

Eu me questionei isso por muito tempo. Desde que vi essa frase, se tornou um mantra na minha mente, como eu sairei disso, desse labirinto, dessa encruzilhada de sofrimento infeliz e cansativo que me toma o peito, a mente e a própria vida? 

Eu passei todos os meus anos sendo um merda, exausto e cansado de tudo, descontando meu ódio nas coisas e nas pessoas que sequer mereciam receber meu ódio. Não que isso exista, quando se odeia alguém, seu ódio se torna tudo que você tem, tudo o que é, sua forma de sobreviver é exclusivamente por meio de seu ódio exaustivo e cansativo. 

Eu sei porque vivi 24 anos da minha vida imerso, inundado em ódio. 

Não posso dizer que o perdão de Anna mudou totalmente minha vida, que ele bastou para que eu deixasse meus hábitos ruins e vivesse de suco verde e tofu. Mas me mudou, me encheu de esperança em algum lugar. Por isso, conforme os dias se passavam e... ela não aparecia, eu fui tomando coragem, eu arrumei nosso apartamento, eu me organizei, eu me esforcei e quis, com esperança, que tudo desse mesmo certo. 

Um mês depois de tudo, eu me senti pronto, preparado pra viver minha vida, para procurar também quem era o grande amor dela, da minha vida. 

Ela estava com um vestido salmão, os olhos azuis grandes se chocaram ao me ver, com suas sapatilhas horrorosas de sempre, que eu senti falta de ver ao lado das minhas botas surradas no closet. 

- Oi Tessa. - eu murmurei, olhando em seus olhos. 

Ela deu um sorrisinho gentil. 

- Oi Hardin. - ela tão somente me respondeu.

- Você ainda quer se casar comigo? - eu perguntei, sem desvios e delongas.

Talvez porque eu ensaiei mil vezes no espelho ou porque estivesse ansioso demais pela resposta, talvez os dois, mas eu quis, quis como louco, dizer aquelas palavras. 

E o olhar dela, em resposta, brilhou e se abriu. Ela assentiu com a cabeça, nos abraçamos. Foi o dia mais feliz da minha vida. 

Porque agora eu vivia a minha felicidade por completo, sem a âncora do medo puxando a porra do meu pé em rumo a um lugar distante e bizarro, e então eu estava finalmente bem, vivo e tranquilo, porque a minha mágoa tinha ido embora, porque eu estava feliz comigo mesmo, porque ela me abraçou e... nossa, ela ficava tão gostosa naquele vestido.

Anna. 

Quatro meses depois e na produção do meu segundo livro, o interfone do apartamento tocou, eu estava concentrada demais no meu livro e sequer olhei, Joseph caminhou até mim segundos depois com um envelope de papel duro, branco com flores brancas. 

Eu passei os dedos pelo papel grosso e perfumado quase com certeza do que aquilo seria. Olhei nos olhos grandes e castanhos de Joseph, que estava curioso pra saber. Eu desfiz o lacre e puxei o conteúdo, um papel com a mesma textura do envelope, amarelado, com flores brancas que eu achei muito bregas, mas ainda assim um pouco fofas, na verdade. 

Se lia: 

''Srta. Todd e Mr. McCurty, 

Vocês estão sendo convidados para a cerimônia de casamento entre Hardin Scott e Theresa Young.''

Joe deu uma risadinha baixa e me olhou, curioso pra saber o que eu diria em resposta. Eu assobiei tranquila e guardei o convite no envelope de origem. 

- Nós vamos? - eu fez uma pergunta num tom afirmativo demais para que ele soubesse o que eu queria daquilo. 

- Vamos. - ele disse, olhando meus olhos. 

Depois saiu, de volta pra suas ocupações, enquanto eu sorria sozinha comigo e com uma lembrança muito antiga, como se mal existisse mais na minha mente. Eu, um pouco mais velha, sentada em uma poltrona com um notebook no colo, chorando e escrevendo exatamente como seria um convite de casamento. 

E era o de Hardin e Tessa. 


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⏰ Última atualização: Dec 22, 2020 ⏰

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