Hardin.
Estamos a 40 minutos na estrada e Anna já desabou em sono. Está aninhada numa coberta preta, abraçada nas pernas e com a cabeça pendida para o lado. Está frio pra cacete, gostaria de ter ouvido o que ela disse e ter comprado mais alguns casacos. Se o mapa estiver certo, em uns 15 minutos estaremos passando por uma cidadezinha com shopping, pretendo passar lá e comprar mais alguns casacos, o frio não parece que vai dar trégua tão cedo.
Mas eu adoro esse clima frio, o aquecedor está ligado mas as janelas todas estão abertas até um certo ponto que permita sentir o ar frio se misturando. Mais uma coisa que eu e Anna temos em comum.
As árvores secas e cobertas de neve passavam rápido pelo vidro, a estrada era escura e estava escorregadia, me fazendo ir mais devagar do que eu realmente planejava. O vento era forte, frio, mas fresco, o cheiro de neve e chuva inundavam o carro e era melhor do que qualquer perfume. O céu era claro, azul vivo, com nuvens escuras e grandes tentando esconder sua cor, tudo era um grande misto de cinza, azul, preto e branco. Eu gostava.
Quando fiz o contorno que dava de volta pra estrada pra entrar na cidadezinha, Anna sentiu a curva e abriu os olhos devagar, olhando pra minhas mãos, que tremiam no volante, ela deu um sorrisinho de canto e continuou me olhando, delicadamente.
- Onde estamos indo? - sua voz era quase um sussurro.
- Bom, parei aqui porque na placa dizia ter um shopping.
- Tá com fome?
Podia ver em seus olhos a pretensão de quem queria que eu assumisse que deveria ter comprado casacos antes.
- Entre outras coisas.
Ela me olhou por mais alguns segundos antes de cobrir a cabeça com a manta. Foquei na estrada e segui as placas que davam pro shopping. As casas eram simples, muitas farmácias, escolas. Poucas pessoas na rua. O shopping era pequeno, como uma galeria, tinha um estacionamento cheio e placas que diziam as lojas que tinham, estacionei numa vaga livre perto da porta principal e encostei a cabeça no assento. Estava cansado.
Anna não se moveu, eu pensei em deixá-la no carro, com receio de acordá-la, mas concluí que se ela acordasse sozinha num carro a situação pioraria pra mim. Puxei levemente a manta até ver seu rosto, os olhos fechados de leve, a touca desarrumada caindo pelos lados e fios de cabelo no rosto bagunçando tudo, sorri ao vê-la.
Passei a ponta dos dedos gelados em sua bochecha, ela torceu os lábios e abriu os olhos devagar, com uma expressão tranquila.
- Chegamos no shopping.
- Hmmm, vamos lá então, senhor nãoprecisodeagasalhosnoinverno.
Eu torci o nariz e ela sorriu, desci com carro e abri a porta pra ela, que deu um sorriso divertido, veio até mim e me abraçou, o vento frio demais açoitava minhas pernas e imaginava estar fazendo o mesmo nas dela. Ambos torcemos os narizes de frio e caminhamos rápido até a porta.
O calor do aquecedor relaxou nossos ombros. Em vez de segurar minha mão, Anna estava abraçada em meu braço, apoiando a cabeça em meu ombro, com sono.
- Você está mesmo com sono, né?
- Demais - ela disse, bocejando.
- Vamos só achar um McDonald's pra comprar comida e vamos em alguma loja pra comprar casacos e mantas.
- Hmm, vamos sim amor.
Ela estava com tanto sono que nem brincou sobre o que eu disse das roupas, só caminhava pesadamente abraçada em meu ombro.
Caminhamos pelo chão bege e paredes brancas, passando pelas lojas sem prestar atenção nos nomes e nas pessoas, caminhei instintivamente até os cheiros e chegamos a praça de alimentação.
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After Anna
Hayran KurguAnna Todd é uma diretora e escritora que vê sua vida virar do avesso quando acorda no mundo de livros que ela mesma escreveu, onde ''conhece'' o bad boy Hardin Scott e convive com o misterioso, mas familiar Joseph. Contada pela perspectiva de inúmer...