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Joe. 

Acordo com o sol de alguns passarinhos cantando e vejo que está amanhecendo devagar, ela está dormindo tranquila enlaçada em meu corpo e esse abraço me dá mais ânimo de acordar. Não sinto vontade de me soltar de seu corpo preguiçoso e começar o dia, fico tão envolvido na presença de sua pele na minha que nada mais pode tirar minha atenção.

Alguns fios loiros estão em sua bochecha, suas pálpebras estão fechadas tão levemente e seus lábios levemente entreabertos, sua mão faz a volta em minha cintura e sua cabeça está em meu peito, tudo está perfeito e eu tenho essa impressão boa de estar exatamente onde deveria, exatamente onde sempre tive que estar. 

A sensação gostosa de seu corpo no meu me faz adormecer, sem sonhos, porque o sonho é o que estou vivendo.

Anna. 

Abro os olhos e sinto que dormi mais do que deveria, quando além de descansado você se sente atropelado, sabe? Mas quando olho o relógio ao lado da cama vejo que são só 10 da manhã.

Procuro por Joe na cama e não o encontro, bate uma saudade boba de estar em sua presença, mesmo que tenhamos dormido juntos a noite toda.

 Ouço o som do chuveiro ligado e tiro a roupa, todas as peças e caminho até o banheiro pra tomar banho com ele, tenho certeza que não existe melhor forma de acordar, quando abro a porta, sinto o vapor quente em meus pés despidos e todos os pequenos pelinhos das minhas costas se arrepiam, puxo o vidro do box e ele sorri pra mim, aquele sorriso que é capaz de tirar todas as minhas certezas e me transportar pra outro lugar totalmente diferente.

- Você é tão linda. - ele murmura, beijando meu pescoço.

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Estou vestida com um shorts e moletom de linho branco e Joe está com uma camiseta fina branca e de calça moletom cinza quando tropeçamos enquanto nos beijamos na cozinha, rindo e nos abraçando, será que é essa a real definição de se sentir totalmente completo?

Ele faz massa de waffles e eu faço o café e suco pra aprontar a mesa do café, enquanto estou colocando as massas na máquina, ele está com o corpo colado no meu, os braços entrelaçados em volta de mim, beijando meu pescoço e fazendo voltas no meu quadril com a ponta dos dedos indicadores das duas mãos, me beijando cada vez mais enquanto rimos, alto e sem preocupações.

- De onde vem todas essas risadinhas felizes? - minha mãe pergunta, chegando do quarto com um rabo de cavalo desajeitado e cara de ressaca. 

Quando ela nos vê juntos, arregala os olhos e dá uma risada com a mão na boca, contendo a surpresa. Joe fica nervoso e quase tropeça nos próprios pés, ela cai na gargalhada.

- Vocês dois aos beijos nessa cozinha não é nada que eu nunca tenha visto e nada que eu não esperasse ver mais cedo ou mais tarde. - ela diz enquanto coloca café na caneca.

- Que bom que aconteceu. - Joe murmura pra ela com uma piscadela boba. 

- Sim, Joseph. Que bom que vocês caíram em si que se gostam mesmo. 

Ela diz com felicidade e me dá um beijinho na bochecha. 

Minha mãe e Joe conversam bobagens enquanto eu sirvo os waffles com mel, morangos e açúcar de confeiteiro. Eles me olham com um brilho nos olhos, os dois, como se eu tivesse retornado a vida, quando faço piadas bobas do cabelo de minha mãe ou quando ela conta do encontro que teve noite passada e eu me sento tranquilamente na perna de Joe e ouço com atenção. 

Quando Joe sai pra pegar o jornal e eu estou lavando a louça minha mãe coloca a cabeça no meu ombro por trás e suspira. 

- Estou feliz que você esteja de volta. 

- Eu também. 

E o que era só uma cabeça encostada no ombro se torna um abraço.

- Ele é como sol e você um girassol, quando ele chega, você se levanta. - ela murmura enquanto me observa sorrindo quando Joe vem caminhando até nós. 

- Acho que ele é mesmo, como uma luz grande demais pra mim.

Joe se aproxima e percebe que estamos conversando.

- Bom, meninas, hoje vamos almoçar fora, ok? Vou treinar um pouco na garagem.

- Ok. - dizemos um uníssono. 

Quando Joe sai, minha mãe me olha com aquela cara de quem precisa muito conversar e eu só sorrio e me sento na bancada com a cara de quem diz: pode dizer.

- Eu tô tão feliz que você e o Joseph tenham se resolvido. Ele é como um filho pra mim mas o mais importante é ver você tão feliz, tão completa - ela me abraça - por um momento eu pensei que fosse te perder, filha.

Essas palavras tão despidas de vergonha fazem lágrimas teimosas e bobas brotarem em meu rosto.

- Você nunca vai me perder.

- Eu espero que não. 

Limpo as lágrimas e vejo uma alegria que a semanas não via em seu rosto e isso me faz muito feliz, mesmo sem perceber, quando eu estava no fundo do poço, ela esteve lá e experimentou disso comigo, minha mãe sempre esteve comigo.

- E seu encontro de ontem? - tento desviar o foco pra que ela possa falar mais dela e não só ouvir de mim.

- Meu deus filha - ela ri e coloca a mão na boca - eu só ia na boate com as meninas quando um monumento de homem esbarrou em mim na rua e me segurou pelas costas, eu quase perdi os sentidos. 

Ouço minha mãe falar alegre de como o desconhecido se tornou conhecido e como ela está totalmente animada sobre ele, e faz anos que não a via tão animada com qualquer pessoa como vejo agora, isso também me deixa muito feliz, me coloca no chão de novo e me mostra que eu tenho inúmeros motivos pra resistir a tristeza, aos meus traumas e problemas, ela está aqui comigo.

Quando já estamos mais rindo que chorando, decido dizer que quero ir embora e recomeçar minha vida.

- Bom, acho que já está na hora de voltar pra faculdade, mãe. 

Ela abre um grande sorriso, como quem vê que eu estou mesmo bem e que não existe nada com o que se preocupar, não agora. 

- Eu concordo. - ela diz, colocando a mão em meu ombro. 

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Midge.

Vamos até o um restaurante no pé da montanha onde serve comida caseira e quentinha, o lugar é quase todo feito de madeira e eu estou muito feliz por estar aqui, o desconhecido conhecido, como disse Anna, me mandou muitas mensagens hoje falando sobre ontem e sobre o amanhã.

Desde que Edgar virou as costas pra mim, eu não me lembro de me empolgar tanto com alguém, Anna sempre diz que devo correr atrás do que eu quero e não vou deixar de fazer isso.

Pedimos uma salada de tomate, alface, manga e maças, ensopado de carne, arroz, ervilhas cozidas e purê de batatas. Tudo está uma delicia, eu só colocaria mensos sal no purê e mais tempero nas ervilhas, estão parecendo meio gosmentas. Eu e minha mania de avaliar a comida pelo que eu cozinharia.

Anna e Joseph estão sentados lado a lado, vejo como eles se olham, como tocam os dedos as vezes sem perceber apenas pela necessidade corporal de estar perto, ver minha filha feliz a esse ponto, de pequenos atos imperceptíveis e talvez involuntários fazer com que ela seja feliz assim transforma meu coração, eles se amam e sem dúvida merecem esse amor. Faço uma pequena prece pra que nada interfira nessa felicidade que eles compartilham.

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Manhã de terça, o sol está mais exposto, a neve começa a dar trégua, mas ainda é impossível sair de casa sem no mínimo 3 camisas e um agasalho quente. Preparei sanduíches de creme de frango e salada e pretzels pra eles levarem pra comer na viagem, com certeza minha comida fresquinha e gostosa é melhor e mais nutritiva do que qualquer fast food porcaria que eles vão comer no caminho de casa. 

Eles estão vestidos e alegres quando deixam a casa, conforme o carro vai ganhando estrada eu vou fazendo minhas preces pra que eles cheguem bem, sobretudo, pra que eles sejam felizes pra onde estão indo.

After AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora