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Hardin.

Alguns minutos depois do meu surto de estresse, saio do carro derrotado e vou até a Vance com o olhar baixo e esperando não encontrar mais ela por aí, seria... demais, seria demais. 

Ela estava linda e contente com ele por perto, e embora eu o deteste, é impossível não ver que ele gosta mesmo dela, o que ele fez por ela eu não sei se conseguiria fazer, considerando o imbecil que eu sou. 

Subo e elevador e espero Vance na recepção porque ele está em reunião, ouço musica no fone e troco mensagens com Tessa sobre o almoço, quando ouço algumas risadinhas e vejo que tem gente saindo do escritório eu me levanto e coloco os cabelos pra trás com uma das mãos. 

Mas, tirando minha pouca estabilidade, quem sai do escritório de Vance é Anna. Com o mesmo sorriso alegre no rosto e com a mesma calça que a deixa tão gostosa. 

Seu sorriso de fecha quando ela me vê e abaixa os olhos, está triste? ou só com raiva? Eu esqueço o que vim fazer aqui e deixo o manuscrito na mesa da secretária, que já me conhece e sigo Anna pelo corredor, que está andando rápido pra evitar conversar comigo. 

- Ei. - murmuro baixo pra evitar mais olhares.

Mas ela me ignora.

Não vou deixar ela ir embora sem falar com ela. Eu sinceramente não faço ideia do que dizer, mas quero ao menos um oi seu, saber se ela está... bem?

Seguro seu braço antes que ela chegue ao elevador e minhas mãos percebem o choque de tocar sua pele e de seu cheiro bem perto.

Ela se vira pra mim e delicadamente se desvincilha de meu toque. 

Cara. Isso é como levar um soco no estômago. 

- Anna. - minha voz sai baixa como um sussurro.

- Oi, Hardin. - sua voz é mais calma o que eu pensei que fosse ser. 

- Por que você estava fugindo de mim? 

- Eu não estava. Só estou esperando o Joe lá embaixo e não achei que tivéssemos mesmo algo a dizer. - a calma e tranquilidade da sua voz me impressiona e me irrita um pouco.

- Eu... acho que na verdade nós temos sim o que conversar.

Ela abre um meio sorriso.

- O quê? 

- Talvez o fato de você ter sumido por meses sem me dar uma notícia sua. - minha voz expressa toda a minha mágoa, mesmo que eu não tivesse de fato a intenção de expressar.

Aqui estou eu de novo, Hardin Scott que odeia estar vulnerável.

- Você me traiu, Hardin - sua voz sai sem sinais de mágoa e ela fala enquanto amarra o cabelo num coque, como se tivesse falando qualquer coisa - eu acho que quando eu vi a Molly com a cara enfiada no seu pau ficou claro que nosso relacionamento tinha acabado. - quando ela termina, coloca uma mecha teimosa atrás da orelha. 

Ela está tranquila demais. Algo em mim, aquela parte ruim e nojenta, quer que ela saia dessa pose, quer magoar ela.

- E você superou rápido o suficiente para já estar enfiada na boca do idiota do Joseph? - falo com toda minha ironia. 

- E você na boca da Theresa - sua voz é suave - ah... Hardin, eu não quero discutir com você. 

- É diferente e...

- Olha, aconteceu, acabou e nós não precisamos falar sobre isso agora, ok?

Ela vira as costas e sai andando, como se nada disso tivesse sido nada pra ela, como se não tivesse a provocado nem aberto um pequeno buraco nela como abriu em mim, como é que ela está mantendo isso?

Vou atrás dela, simplesmente vejo que minhas pernas vão até ela sem que eu as mande conscientemente, seguro a porta do elevador e ela revira os olhos e me deixa entrar. 

Uma descida de 20 andares são pouco pro que eu quero dizer.

- Anna... Eu, eu sinto muito. - é tudo que consigo dizer

Ela me olha e abre aquele sorrisinho consolador de sempre.

- Agora não é mais nada pra mim, Hardin. - vejo que ela está sendo sincera.

- Como pode não ser mais nada? Sinceramente eu não consigo entender.

- Tem certas coisas que é preciso deixar ir, eu não podia passar minha vida presa naquele apartamento, com meu corpo em um lugar e minha mente ainda no apartamento do Jace. Eu só... deixei ir. 

O elevador abre.

Joseph está de costas esperando ela na porta.

Ela sorri pra mim, um sorriso sincero. 

Me dá um beijo leve na bochecha.

- A gente se vê, Scott. - ela murmura.

E sem que eu consiga mover meu corpo, vejo as portas do elevador abrirem lentamente e antes que se fechem, vejo Anna beijando Joseph na porta. 

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Alguns minutos se passam antes que eu consiga dar partida no carro, fico sentado. Imóvel.

Meu celular toca, vejo o nome de Tessa na tela, mas não consigo me mover e atender a ligação, não consigo agir nem reagir a nada.  Meu corpo está paralisado e cansado e quando consigo mover a mão, é só pra pegar uma velha carteira de cigarros mentolados no porta-luvas e acende um, deixando a fumaça entrar e sair, observando seu movimento fluido. 

Ela está... bem. 

Mais do que bem, parece que nada disso é nada pra ela, ou não significa mais nada. É foda como coisas que nos prendem podem não prender ao outro assim. 

Eu não sei se sou uma boa pessoa, afinal. Não que as minhas ações não provem isso, mas, se eu fosse, por que seria castigado com isso... guardar tudo como a porra de um gravador? Com essa memória que não acaba? 

Tessa tem sido paciente comigo, ela é uma boa pessoa, é inegável. Ela usou o ex-noivo e voltou pra mim e fez merda comigo também, mas não é tão ruim como eu, não é mesmo. Ela está me dando suporte e cuidando de mim e fingindo que não vê que eu ainda sofro o que fiz. 

Quando eu vou conseguir que isso tudo saia de dentro de mim?

Atendo a sétima ligação da Tessa.

- Onde você tá? - sua voz está tranquila de um jeito forçado.

- Sentado no carro. 

- Que voz é essa? O que houve? - ela deixou a preocupação transparecer na voz. 

- Eu... preciso respirar só, acordei mal. 

- Ah. - agora ela está desanimada. 

- Chego em uma hora no máximo, ok? Eu te amo. - uso o máximo de calma que tenho.

Ela suspira, parecendo mais aliviada. 

- Tá bem. 

Desliga a ligação. 

Dirijo até o restaurante que ela mais gosto e peço tudo que ela disse que queria, guardo a caixa com cuidado no banco de trás e vou pra casa o mais devagar que consigo, buscando deixar todos os sentimentos não resolvidos no vento que entra e sai do carro.

Como se ele entrasse, tirasse as coisas ruins de mim e levasse embora. 

Mas, 15 minutos depois, quando entro no apartamento, sinto o peso ainda dentro de mim. Tessa sai do quarto com minha camiseta e vê a caixa na bancada, sorri e me abraça com os pequenos braços ao redor de minha cintura.

Como se soubesse exatamente tudo o que eu venho sentindo e sofrendo, ela me aperta e respira fundo puxando meu cheiro do meu peito e beija meus braços. 

Sem que eu perceba como aconteceu, estamos sentados no sofá e eu choro em seu colo, ela só passa as mãos pelos meus cabelos e sussurra que tudo vai ficar bem. Eu sinceramente não tenho certeza se vai. 

Mas deixo tudo que tem dentro de mim sair com as lágrimas e me apego ao fato de que alguém não desistiu de mim.

Ela.

Theresa Young. 

Aqui, sempre aqui. 

After AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora