After Anna

29

Hardin.

Conforme os dias passavam gradativos, eu me sentia miserável. Ken, Vance, até mesmo Landon, todos se preocupavam com meu estado e vinham frequentemente bater um papo, e eu já não chorava mais, estava, afinal, superando. Mesmo que seja devagar e aos poucos, é uma superação.

Eu, sem dúvida, sinto sua falta, eu a amo. Mas acredito que a maior parte do meu sofrimento vem de saber que fui estúpido e insuficiente, que trai sua confiança e seus sentimentos. Eu sou mesmo assim, certo? Quando uma pessoa boa e que genuinamente me ama - esse amor que vem sem pedir nada em troca - eu consigo estragar tudo logo.

Foi assim primeiro com Theresa, ela era boa, me amava mais que tudo e cuidava de mim, e eu a feri, machuquei seus sentimentos e fui indigno de seu amor. Talvez eu tenha sido apenas um tolo por pensar que com Anna seria diferente. Ela ainda não voltou pras redes sociais e sua ficha na faculdade ainda está trancada. Penso se irei vê-la algum dia. Irei? 

Começo a sair de casa, lavar minhas roupas. Pensar que posso ser feliz só e não um merda. 

Estou sentado no sofá de couro quando ouço batidas na porta. Todas as vezes que alguém bate a minha porta eu tenho no fundo do peito uma pequena esperança de que seja ela.

Caminho até a porta e sem sequer olhar no olho mágico ou perguntar quem é, abro a porta. Tessa está parada em minha frente, os cabelos curtos, na altura dos ombros, de vestido florido, com olhos de preocupação. 

- Hardin? - seu tom faz parecer uma pergunta.

- Oi... O que faz aqui? - pergunto, impactado com a surpresa de sua presença.

Ela faz um sinal perguntando se pode entrar e eu abro caminho, ela observa o apartamento escuro e se senta no sofá de couro. Isso é estranho, mas também me sinto aliviado, feliz.

Me sento ao seu lado e ela suspira. 

- Landon. Me disse o que houve. - ela murmura com hesitação.

- Sou só eu sendo esse merda, nenhuma novidade. - minha voz sai amarga demais. 

- Você não é, Hardin. - ela fala com piedade.

- Tessa. O que você veio fazer aqui? - minha pergunta sai mais impessoal do que eu gostaria. 

Ela coloca os cabelos atrás da orelha e sorri com o canto dos lábios, constrangida.

- Eu só, bom, me preocupei com você e... melhor eu ir embora. 

Ela se levanta e eu vou logo atrás. Não sei se consigo ou se mesmo quero lidar com sua presença agora. Não quero magoá-la, porém, estar perto dela me lembra o que perdi. 

Quando está na porta, a pouco de sair, ela se vira e olha pra mim com os mesmos olhos de compaixão. Se aproxima de mim e passa delicadamente os bracinhos em volta de minha cintura. Caralho, o que está havendo aqui?

- Ah, Hardin... - ela sussurra.

Não consigo reagir a sua presença e mantenho os braços suspensos ao redor do corpo, enquanto Tessa só se aproxima mais de mim. Ela levanta a cabeça até apoiar o queixo em meu peito, merda. Quero dizer a ela que saia, mas não consigo. 

Ela levanta os braços e toca meu rosto, continuo sem reação.

Ela toca seus lábios carnudos nos meus e eu sou tomado por uma onda de choque.

O que está havendo aqui?

Anna.

O tempo passava rápido, eu escrevia, mandava pra Vance, corrigia. Lia, chorava, tinha pesadelos. O tempo passava pelos meus olhos e eu simplesmente não podia mensurar se tinham passado dias, horas ou meses. Acho que o que ele me fez conseguiu despertar em mim coisas ruins, e hoje sinto que o buraco em meu peito não está lá apenas porque ele me deixou, mas se apoderou de minhas inseguranças todas.