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Anna.

A forma com a qual as pessoas entram e saem da vida de outras pessoas é impressionante. Se torna mais impressionante ainda quando o outro não mede as consequências e o real impacto dos seus atos na vida do outro. Talvez o impacto talvez seja mensurado e muito provavelmente a pessoa apenas não se importe com ele.

De todo modo, não estou certa de que é possível decidir quem irá ou não nos machucar, porque existem pessoas, como o meu pai, por exemplo, que possuem esse poder sobre nós mesmo sem pedir permissão, que tomam uma parte de nossa alma como se lhe fosse sua de direito, um empréstimo ou um presente. O que quer que seja, eu estou literalmente exausta dessas interrupções, e cansada sobretudo de pessoas chegarem e tomarem o que acham necessário de mim e então, e só então, partirem.

Hardin Scott, Meu pai, tantas pessoas. É assim que me sinto, é isso que dói, a sensação de não-pertencimento, como se tudo fosse alheio e eu fosse uma estranha perambulando pelo meu próprio mundo, minha própria vida.

Como minha mãe se sentiria ao vê-lo? Ela esqueceria de vez o rapaz por quem se encantou e pensaria que não existem mais chances para ela no amor e na vida porque o infeliz que foi embora levando nosso dinheiro e nossa dignidade agora dirige um audi e usa um rolex no pulso? Como se o universo tivesse esquecido de entregar a paga devida a ele por tudo que nos causou.

De toda forma, eu decidi não mais ficar com a cabeça no chão e me sentindo destruída simplesmente porque alguém me destruiu. Meses de reclusão, lágrimas e escuridão me fizeram ver que eu sou mais forte que isso e que eu tenho em quem confiar. Isso é verdade e se mostra a cada momento mais verdadeiro.

Estou com calças moletom pesadas, cor cinza, camiseta branca apertada, cabelo péssimo e o rosto muito provavelmente pior.

Joseph está na minha frente, ele está com uma caneca de café fumegante em cada mão, me entrega a minha, eu agradeço e sorrio, me esforçando a cada minuto pra me tornar... uma pessoa melhor, estar melhor. Ele sorri com o canto dos lábios e se senta na minha frente, colocando a mão, agora livre, no meu joelho e discretamente acariciando-o.

- Como você se sente? - ele pergunta, ainda acariciando meu joelho.

- Usada. - assumo.

Ele torce o nariz e continua fazendo carinho no meu joelho.

- Como assim? - ele pergunta, parecendo de fato preocupado.

- Eu fico cheia dessa sensação que existem pessoas que acreditam que podem apenas entrar na minha vida, pegarem o que quiserem e me usarem e vai ficar por isso mesmo. Ele... meu pai, ele foi embora e agora volta, me chamando de minha querida e fazendo a cena toda de pai orgulhoso. - digo, coçando a cabeça.

Ele assente, como quem diz ''tudo bem, eu sei como se sente e eu estou aqui'' e segura minha mão, me puxando pra perto.

- E... minha mãe, amor, como... ele pensou nela? Em como ela reagiria? - digo, sentindo mais forte a cada momento um sentimento de fúria.

Ele pega cuidadosamente nossas canecas intocadas e as coloca na mesinha de madeira ao lado e me aninha em seu colo, colocando minha cabeça em seu peito quente e macio, onde eu descanso tão facilmente e sem amarras ou dificuldades.

- Ei - ele sussurra com os lábios em meu cabelo - sua mãe é uma das mulheres mais fortes desse mundo, juntamente com você, meu amor. Ele pode abalar suas estruturas e, se permanecer aparecendo, com certeza vai abalar sua mãe, mas vocês são tão fortes, e sempre terão a mim aqui, sempre. - ele diz, me acalentando e beijando minha testa.

Joseph.

Com seu corpo nos braços e sua respiração quente em meu pescoço, é fácil carregá-la até a cama. Suas lágrimas são tão dolorosas pra mim, eu queria que ela nunca precisava chorar com tristeza, de forma a estar tão ferida e machucada.

After AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora