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Hardin. 

O sol está surgindo no horizonte quando eu levo Anna até o estacionamento.

Eu nunca pensei que ela pudesse fazer isso, me perdoar, me libertar, fechar a porra desse ciclo que me consumiu por tanto tempo, me sinto leve como nunca. 

Mas sei que ela não se sente assim. Ficou claro como ela ainda sente falta de Joe. Aquele esnobe metido do caralho... ela o ama, e ele a ama da mesma forma, talvez seja o certo a se fazer, eles, juntos. Essa ideia finalmente passa pela minha mente sem me dar arrepios de nojo. 

Não que eu goste dele, pelo contrário, acho que ele não passa de um metido que se acha grandes merdas, mas se ela o ama, o que mais pode ser feito? Se eu causei essa merda, por que não seria eu o responsável por consertar isso? 

Deito na cama e consigo finalmente descansar, ter meu corpo tranquilo, depois de duas semanas de insônia, eu sinto que uma grande parte de minha vida está resoluta, nós nos perdoamos, fizemos as pazes e somos... amigos? Acho forte demais. Mas é bom, a existência dessa possibilidade me conforta, pois eu a amo. 

-

Abro os olhos com o sol ardendo a pele ferida do meu rosto, me levanto rapidamente, impressionado por um sonho sem sonhos, só tranquilidade muscular e psíquica. Porra, parece que o perdão liberta mesmo as pessoas, certo?

Tomo um banho e visto jeans e uma camiseta preta, jogada em cima do sofá. Tomo café e como alguma torradas antes de jogar a jaqueta preta sobre os ombros e sair pela porta, sabendo onde devo ir. 

Joe. 

O dia parece melhor depois da corrida, e do banho após a corrida, meu corpo estava tão cansado que eu poderia definitivamente desmaiar ali no sofá mesmo, mas me forcei a tomar banho e ir para a cama, meus olhos se fecharam em automático pelo cansaço da madrugada. 

Acordar foi difícil, talvez não acordar em si, mas me levantar da cama com os músculos das coxas em frangalhos, eu podia quase ver em minha mente as micro lesões ocasionadas pela corrida sobrecarregada. 

Levantei com incômodo e tomei um banho quente para deixar o corpo relaxado, meus músculos estavam mesmo destruídos, era difícil ficar de pé. 

Peguei o livro que parei pela metade e me sentei na varanda, bebendo uma garrafa de água. 

Minutos depois de eu me sentar, ouvi o som de um motor entrando na propriedade, me alarmei e abaixei o livro, um carro preto, antigo, baixo, e perfeitamente bem conservado. 

Hardin Scott saiu dele com seu olho roxo e sua jaqueta preta de couro. 

Minhas mãos se fecharam em forma de soco assim que pus meus olhos nele. Mas sua expressão era intrigante, apaziguadora talvez, ele saiu do carro e caminhou até perto de mim. Eu me coloquei de pé, agora já não me importando com a dor em minhas pernas. 

- Olá, Joseph. - ele diz, e seu tom é perfeitamente tranquilo e controlado. 

- O que você está fazendo aqui? - digo, com a voz áspera. 

Ele torce o nariz para a minha provocação. 

- Eu não vim aqui brigar, se essa é a sua pergunta de fato. - ele diz, coçando o pescoço.

Meu corpo se acalma mais, mas ainda alerta. 

- Então qual o motivo? - pergunto, incrédulo. 

- Eu preciso conversar com você. - ele diz, com um tom sério. 

Eu me afasto e ele se aproxima, se sentando no banco onde eu estava, me sento a distância, com a mandíbula travada. 

- É sobre a Anna. - ele diz. 

Seu nome me causa um arrepio na espinha. 

- Diga. 

Ele respira fundo e começa a bater com os dedos no joelho, nervoso. 

- Eu não a beijei. - ele diz.

Eu fico boquiaberto e meu corpo esquenta, então, ele mentiu? E estamos afastados por sua mentira? Fecho minhas mãos em punhos, ele olha rapidamente para elas e depois pra mim.

- Eu tentei, mas ela me rejeitou, ficou com ódio de mim pela tentativa, porque, segundo ela, eu não considerei que ela tinha você. - ele diz, com os olhos baixos. 

- Essa é sua tentativa de conversa? Porque estou a cada momento mais inclinado a deixar seu outro olho roxo. - digo, mordendo o lábio inferior de raiva. 

Ele revira os olhos. 

- Não, porra, o que eu quero dizer é que - ele respira fundo como se repensasse o que tem a dizer - nós tivemos a nossa história, eu fodi tudo, e eu me senti um merda por meses, entende? Usei a Theresa, não que não a ame, mas isso não vem ao caso, eu só me culpei por tudo, e ela me perdoou, Anna. - ele diz, com o rosto pensativo.

- Então vocês já se viram e resolveram o probleminha de casal? Que ótimo, boa vida aos dois, agora você pode ir embora. - eu digo, controlando meu ódio. 

- Você está entendendo tudo errado, cara - ele diz - ela me perdoou, e que bom, porque eu se não fosse por seu perdão, eu estaria vivendo infeliz até agora, mas não significa que somos um casal, estamos quilômetros longe disso, eu e ela... nossa chance, passou. - ele diz. 

Consigo respirar de verdade depois de minutos. 

- E...?

- Ela ama você, muito. Ela está infeliz com a sua ausência mas se mantém imóvel porque tem medo de ser ruim pra você, mas, vamos lá, ela não pode ser ruim pra ninguém. 

Meu corpo se aquece. 

- E eu a amo. - assumo. 

Ele revira os olhos.

- Escuta aqui, nós nunca vamos ser amigos e bater as mãos ou beber juntos, mas Anna é uma pessoa na minha vida, e você é a pessoa mais importante na vida dela, Joseph. Vá atrás dela enquanto pode, e sobre eu e você, nós podemos nos aturar. 

Eu analiso suas expressões ainda com raiva. 

- Eu não gosto de você, cara. - assumo. 

- E nem eu de você. Aturar, eu aceito meus limites e você não perde a mulher da sua vida, isso é tudo. 

Eu faço que sim com a cabeça e ele dá um sorriso leve sem dentes, se levanta e caminha de volta até o carro. Antes de entrar e dar partida ele apoia o cotovelo no teto do carro, ainda de pé e se vira pra mim novamente. 

- Foi mal, aliás. - ele diz, cheio de orgulho. 

Quando eu perco seu carro de vista, deixo lágrimas finas e cálidas correrem pelo meu rosto, pego meu celular, abro o aplicativo de mensagens, que depois de semanas fechado, trava e me irrita, então decido ligar. 

Ela atende no primeiro toque, sua voz me emociona. 

''Joe?''

''Oi, Anna.''

Sua voz está embargada. 

''Você pode me encontrar na praia, em... 20 minutos?''

''Claro.''

Então eu desligo, e corro pra me trocar. 

E procurar meu destino. 

After AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora