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Joseph.

- Você quer comer alguma coisa antes? 

- Se você não estiver com muita fome, prefiro comer depois, estou muito ansiosa. - ela disse com uma voz alegre.

Eu quem estou ansioso. Concordo com ela e passamos o caminho até o endereço que Midge enviou por mensagem conversando, ela tenta arrancar informações de mim sobre para onde estamos indo mas é inútil, acho que ela começa a reconhecer o caminho aos poucos, porque sorri e me olha com sua cara de sabichona e morde o lábio inferior. 

- Estamos indo a algum show? - ela pergunta com alguma ironia na voz. 

- Estamos. 

Anna. 

Eu já entendi que vamos a algum tipo de show, só me pergunto que show é esse, de quem é então percebo como estou animada. Alguns minutos de detetive, em vão, porque ele sempre diz que estamos perto e não preciso estar tão curiosa. Parece que não me conhece.

Joe olha o relógio e vejo certa preocupação em seus olhos. 

- Tá preocupado? - pergunto.

Ele disfarça o rosto com um sorrisinho.

- Acho que chegaremos uma ou duas músicas atrasados. - ele diz, coçando a testa.

- Não me importo, eu tô contigo, então...

Por mais que eu tente soar despreocupada, vejo que isso acende uma chama no fundo de seus olhos, percebo que gosto disso. Gosto de estar com ele e não posso negar que as coisas entre nós estão boas demais. Eu tenho me aberto cada dia mais para experiência de estar ao seu lado. Eu o quero cada vez mais perto e o desejo é tão aparente em mim. 

Dois minutos depois chegamos ao pub Rouge, as paredes são escuras e está bem frio, e garoando, não consigo reconhecer o som fraco que sai de dentro, já que existem portas pesadas de vidro pra evitar que o ar frio demais entre, tem pessoas na calçada, tentando comprar ingressos, outras bebendo e fumando, conversando. Quando desço do carro, Joe segura minha mão. Acho que é a primeira vez em muito tempo que ele faz isso. Ele sempre toca meus dedos de leve, passa a mão por meus ombros, mas não abre minhas mãos como se abre uma flor do campo e toca em seu íntimo, entrelaçando seus dedos nos meus até chegar a depressão dos dedos e passa o polegar suavemente em meu pulso.

Todo meu corpo estremece e arrepia diante de seu toque, como uma flor que desabrocha tão suave ao toque de calor humano. Meu corpo está, depois de muito tempo, totalmente aquecido, como se nunca tivesse havido buraco em meu peito, como se nunca tivesse havido marca, frio ou dor, como uma clareira onde o sol invade e deixa a grama quentinha mesmo sob o orvalho. 

Eu olho em seus olhos por um momento e ele retribui o olhar com outro ainda mais amoroso e carinhoso, sorrindo com o canto da boca, continua o movimento circular do dedo em meu pulso e eu me sinto mais uma vez aquecida, as torrentes de calor humano, que não queimam, que são bons.

''Temos de amar o que é bom pra nós, Anna.'', a voz de minha mãe ainda ecoa em minha cabeça e eu finalmente entendo totalmente seu significado. Apenas quando nos amamos podemos amar o que é bom pra nós. E eu me amo, e amo Joseph.

Desde que o amo, comecei a amar o mundo inteiro. 

Enquanto caminhamos a passos largos, atravessando a rua estreita e fugindo do frio, eu me sinto inteiramente aquecida. Gosto como nossos pés saem no mesmo compasso, gosto de sentir que estou fazendo a coisa certa pra mim.

''A coisa certa.''

Quando estamos cada vez mais próximos do pub a ponto de ler o pequeno panfleto colado na parede chapiscada, consigo ler ''Bon Iver, pela segunda vez, depois de 2 anos.''

After AnnaOnde histórias criam vida. Descubra agora