Abe
Eles desembarcam do navio, deixando para trás a tripulação. Paco os conduz pelas ruas estreitas de Agadir, andando com passos apressados. Em outras cidades, as pessoas abririam caminho para os soldados da Guarda dos Mares, tentando se manter o mais longe possível deles. Em Agadir, no entanto, ninguém parece se importar. Os habitantes da cidade já estão acostumados com soldados, cavaleiros do Império, corsários, mercenários e afins.
À medida que se afastam do porto, o movimento diminui. Os bares já não são tão cheios e as ruas não são tão iluminadas. Paco para em frente a uma pousada com um pequeno estábulo.
- Esperem aqui fora – ele diz. – Vou pegar nossos cavalos. Nós cavalgaremos durante a noite.
- Onde Lorde Zek mora, afinal? – Ichi pergunta. – Não é na cidade?
- Neste chiqueiro? É claro que não. A mansão de Lorde Zek fica do outro lado da baía, fora da península.
Paco abre a porta e entra na pousada, deixando escapar para o lado de fora o cheiro da comida e o som de músicas e conversas. A barriga de Abe ronca em protesto. Já faz um tempo desde a última vez que ele comeu. Ele tenta ignorar a fome e descansa a mão no punho da sua espada. De certa forma, ele se sente melhor sabendo que a espada em sua cintura é capaz de tirar vidas, diferente daquelas que ele usava nos treinos.
A porta da pousada se abre novamente. Paco deixa o lugar, resmungando alguma coisa incompreensível. Ele traz consigo uma sacola.
- Tomem – ele diz, oferecendo-a aos aprendizes. – Tem comida aqui. Pão, carne ressecada e manteiga. Vamos pegar os nossos cavalos e ir embora.
Paco se dirige aos estábulos, ainda resmungando algumas coisas para si mesmo. Os cavalos não estão muito em forma, mas serão suficientes se a mansão de Lorde Zek não for muito distante. Os cinco cavalgam pelas ruas da cidade, cada vez mais vazias e menos iluminadas conforme eles se distanciam do porto. Após alguns minutos, o chão de pedra é substituído por um caminho de terra batida aberto em meio à vegetação densa. Abe ainda vê algumas casas e pequenas construções aqui e ali, mas logo todos os sinais de civilização desaparecem.
Em certo momento, eles mudam de direção, deixando a península e cavalgando para dentro da ilha. Em meio aos troncos das árvores, Abe consegue ver o mar, com suas águas calmas tingidas de um tom prateado pela luz da lua cheia. Eles estão no fundo da baía, de onde é possível ver as luzes de Agadir à distância.
Quando o céu adquire um tom rosado, anunciando o nascer do sol, eles se deparam com um muro alto, coberto de plantas trepadeiras, com um grande portão de ferro. Abe nota dois pontos de observação; um à sua esquerda, e o outro à sua direita. Não demora muito para que um soldado apareça no topo do muro. A julgar pela sua vestimenta, ele não é um membro da Guarda dos Mares.
- Paco? – ele pergunta ao avistar o espadachim, forçando a voz para poder ser ouvido do alto do muro. – Nós achávamos que você só chegaria daqui a alguns dias. Esses são os aprendizes?
- Sim.
- Só quatro?
- Abre logo o portão!
- Calma, eu vou abrir.
O portão é aberto. Do outro lado do muro, a vegetação é tão densa quanto do lado de fora.
- Eu suponho que vocês não precisem de escolta, não é? – o soldado pergunta. – É melhor eu não deixar o muro.
- Não precisa – Paco responde.
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Das Cinzas da Era Perdida
FantasyUma traição põe fim à Guerra dos Dois Irmãos e arrasta o Império para um novo conflito. Novas alianças se formam na luta pelo poder, enquanto outros lutam pela sobrevivência em meio ao caos.