Capítulo 2 - Abe - Parte 8

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Abe

Eles desembarcam do navio, deixando para trás a tripulação. Paco os conduz pelas ruas estreitas de Agadir, andando com passos apressados. Em outras cidades, as pessoas abririam caminho para os soldados da Guarda dos Mares, tentando se manter o mais longe possível deles. Em Agadir, no entanto, ninguém parece se importar. Os habitantes da cidade já estão acostumados com soldados, cavaleiros do Império, corsários, mercenários e afins.

À medida que se afastam do porto, o movimento diminui. Os bares já não são tão cheios e as ruas não são tão iluminadas. Paco para em frente a uma pousada com um pequeno estábulo.

- Esperem aqui fora – ele diz. – Vou pegar nossos cavalos. Nós cavalgaremos durante a noite.

- Onde Lorde Zek mora, afinal? – Ichi pergunta. – Não é na cidade?

- Neste chiqueiro? É claro que não. A mansão de Lorde Zek fica do outro lado da baía, fora da península.

Paco abre a porta e entra na pousada, deixando escapar para o lado de fora o cheiro da comida e o som de músicas e conversas. A barriga de Abe ronca em protesto. Já faz um tempo desde a última vez que ele comeu. Ele tenta ignorar a fome e descansa a mão no punho da sua espada. De certa forma, ele se sente melhor sabendo que a espada em sua cintura é capaz de tirar vidas, diferente daquelas que ele usava nos treinos.

A porta da pousada se abre novamente. Paco deixa o lugar, resmungando alguma coisa incompreensível. Ele traz consigo uma sacola.

- Tomem – ele diz, oferecendo-a aos aprendizes. – Tem comida aqui. Pão, carne ressecada e manteiga. Vamos pegar os nossos cavalos e ir embora.

Paco se dirige aos estábulos, ainda resmungando algumas coisas para si mesmo. Os cavalos não estão muito em forma, mas serão suficientes se a mansão de Lorde Zek não for muito distante. Os cinco cavalgam pelas ruas da cidade, cada vez mais vazias e menos iluminadas conforme eles se distanciam do porto. Após alguns minutos, o chão de pedra é substituído por um caminho de terra batida aberto em meio à vegetação densa. Abe ainda vê algumas casas e pequenas construções aqui e ali, mas logo todos os sinais de civilização desaparecem.

Em certo momento, eles mudam de direção, deixando a península e cavalgando para dentro da ilha. Em meio aos troncos das árvores, Abe consegue ver o mar, com suas águas calmas tingidas de um tom prateado pela luz da lua cheia. Eles estão no fundo da baía, de onde é possível ver as luzes de Agadir à distância.

Quando o céu adquire um tom rosado, anunciando o nascer do sol, eles se deparam com um muro alto, coberto de plantas trepadeiras, com um grande portão de ferro. Abe nota dois pontos de observação; um à sua esquerda, e o outro à sua direita. Não demora muito para que um soldado apareça no topo do muro. A julgar pela sua vestimenta, ele não é um membro da Guarda dos Mares.

- Paco? – ele pergunta ao avistar o espadachim, forçando a voz para poder ser ouvido do alto do muro. – Nós achávamos que você só chegaria daqui a alguns dias. Esses são os aprendizes?

- Sim.

- Só quatro?

- Abre logo o portão!

- Calma, eu vou abrir.

O portão é aberto. Do outro lado do muro, a vegetação é tão densa quanto do lado de fora.

- Eu suponho que vocês não precisem de escolta, não é? – o soldado pergunta. – É melhor eu não deixar o muro.

- Não precisa – Paco responde.

Das Cinzas da Era PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora