Capítulo 7 - Ezequiel - Parte 5

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Ezequiel

Ezequiel observa, consternado, a frota que corta os mares à distância. Ele pede por uma luneta, sem tirar os olhos do horizonte. Ele confirma o seu medo. A frota pertence aos Lordes dos Mares, mas não é só isso. Alguns navios carregam em suas bandeiras a águia da Família Pravus, a árvore da Família Petros e o javali da Família Euge.

- Porcaria! – Ezequiel brada. – Era justamente isso que eu queria evitar! Essa é a frota que os homens estavam falando em Agadir.

- Não se preocupe – Gil diz. – Eles não vão desviar o curso deles só por nossa causa. Vamos mudar rumo a oeste e nos aproximar da costa de novo. Eles vão nos deixar em paz.

- Tomara que você esteja certo.

Foi uma boa ideia ir para a Baía das Focas, afinal, Ezequiel pensa. Se eles tivessem virado suas velas para as Ilhas do Esquecer, teriam cruzado o caminho da frota inimiga.

O Morte Modesta muda o seu rumo em direção ao oeste, aproximando-se da costa, enquanto a frota dos Lordes dos Mares continua o seu caminho em direção ao sul. A julgar pela rota, eles estão navegando em direção a Agadir.

Hugo aparece no convés, seu cabelo bagunçado e rosto amassado de sono. Com a mão sobre o punho da sua espada, ele caminha em direção a Ezequiel.

- O que está acontecendo aqui? – ele pergunta. Quando ele olha para horizonte e percebe a frota de navios que ruma para o sul, ele cerra os olhos. – São famílias da Terra do Amanhã?

- Sim – Ezequiel responde. – Essa é a frota que Gil ouviu falar.

- Parece que eles estão indo para Agadir. O que vão fazer lá?

- Não sei. Planejar a guerra, provavelmente.

- É, parece que você estava certo – Hugo diz, franzindo a testa. – Nós saímos de Agadir na hora certa.

- Hoje à noite, o porto será como as ruas da cidade em dias de chuva – Ezequiel diz. – Todos os ratos sairão de suas tocas em busca de um lugar mais seguro. – Ele descansa a mão no ombro de Gil. – Você sabe o que isso significa, não é? Quando chegarmos na Baía das Focas, vamos atracar no canto mais isolado e protegido que encontrarmos. Aquele lugar vai ficar infestado de gente da pior espécie.

- Sim, Capitão.

As horas passam enquanto o Morte Modesta navega lenta e cautelosamente pelas águas rasas e traiçoeiras junto à costa. Ezequiel permanece ao lado de Gil, que maneja o leme com cuidado, como se fosse um recém-nascido. Ambos respiram aliviados quando veem a estreita entrada da Baía das Focas.

Gil maneja o navio para entrar na baía. Dezenas de embarcações, grandes e pequenas, estão ancoradas em suas águas calmas. Colunas de fumaça erguem-se do vilarejo construído em meio à densa vegetação, próximo à praia. A fumaça vem de fogueiras e fornos, indicando que a Baía das Focas está mesmo cheia de gente.

- Parece que todos pensaram a mesma coisa que você, Capitão – Gil diz. – Os boatos sobre a frota da Terra do Amanhã devem ter assustado muita gente.

- É possível – Ezequiel diz, irritado. Quanto mais gente estiver aqui, maior será a tentação da Guarda dos Mares em atacar este lugar. – Vamos ficar ancorados perto da entrada da baía. Avise a tripulação que eu vou desembarcar com o bote e ir até o vilarejo. Aqueles que quiserem podem vir comigo, mas eu quero pelo menos metade da tripulação aqui.

- Entendido – Gil diz. – Eu mesmo vou ficar também.

- Ótimo. Eu vou até lá ver como está a situação e tentar conseguir mais notícias da guerra. Onde está Hugo?

- Acho que voltou para o interior do casco.

- Eu vou buscá-lo. Preciso que ele venha comigo. Eu espero não precisar da espada dele, mas é melhor estar prevenido.

Das Cinzas da Era PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora