Capítulo 8 - Alfredo - Parte 2

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Alfredo

Os dois dirigem-se à cozinha da Torre da Guerra. Alfredo nota, pelas janelas, que já é manhã.

- Arranje-nos pão, manteiga, queijo e vinho – Dom Aldo diz para um dos serviçais. – E seja rápido.

O cavaleiro senta-se à mesa e respira fundo. Ele esfrega a testa. Alfredo não havia notado na escuridão do calabouço, mas Dom Aldo parece exausto. Ele está pálido e exibe olheiras fundas e escuras debaixo de seus olhos. Ele não tem se barbeado nos últimos dias. A barba por fazer confere ao cavaleiro um aspecto sujo.

A comida é posta na mesa e Alfredo começa a comer imediatamente. Ele estava morrendo de fome. Dom Aldo bebe bastante vinho, mas praticamente não come.

- Você tem que comer algo, Dom Aldo – ele diz, de boca cheia. – Daqui a pouco, você vai desmaiar.

O cavaleiro apoia seus cotovelos na mesa e cobre o rosto com as mãos. Seus cabelos castanhos escorrem pelos seus dedos, brilhando com oleosidade. Alfredo tenta imaginar quando foi a última vez que Dom Aldo tomou um banho.

- Isso é inútil – diz o cavaleiro.

- O que é inútil? – Alfredo pergunta, enquanto passa manteiga em um pedaço de pão.

- Esses interrogatórios. Não foi nenhum dos soldados que fez isso.

Alfredo deixa cair o pedaço de pão que estava segurando. Seu coração acelera e um calafrio desce pela sua espinha. Por favor, não confesse, ele pensa. Não para mim. Procure Lorde Dario, ou mesmo o seu pai. Não me envolva nisso!

- O que... – Alfredo diz, medindo suas palavras. – O que você quer dizer?

Dom Aldo tira as mãos do rosto. Ele corta um pedaço de queijo e pega um pedaço de pão. Ele dá uma mordida e olha em volta, como se estivesse inspecionando a cozinha.

- Ei, você – ele diz, chamando o serviçal que está lavando a louça suja. – Some daqui.

Sem hesitar, o serviçal se retira apressadamente. Alfredo sente seu estômago se contorcer, e teme que possa vomitar tudo o que acabou de comer. Não me diga que é a minha vez de ser interrogado, ele pensa. Por favor, não.

Dom Aldo levanta-se da cadeira e fecha a porta da cozinha. Ele volta para seu assento.

- Acho que o Príncipe foi assassinado por um dos Lordes do Punho – ele diz em um sussurro. – Não há outra explicação. Nenhum dos soldados poderia ter feito aquilo. Foi muito bem planejado, sem nenhum rastro. Só alguém com acesso privilegiado aos aposentos do Imperador poderia ter feito o que fez.

Alfredo sente a comida em sua garganta. Ele esforça-se para não vomitar em cima da mesa. Além de desagradável, seria uma reação deveras suspeita.

- Mas se foi alguém com acesso privilegiado... – ele diz, escolhendo cada palavra com cuidado. – Isso quer dizer que só pode ter sido uma meia dúzia de pessoas.

- Sim – o cavaleiro concorda, esfregando a testa vigorosamente.

- Inclusive...

- Inclusive meu pai – ele completa.

Inclusive você, Alfredo pensa. Ele é esperto o suficiente para não externar seus pensamentos.

Dom Aldo levanta-se decididamente. Ele coloca um grande pedaço de pão na boca e mastiga com pressa, bebendo um gole de vinho para ajudar a engolir.

- Vamos – ele diz.

- Vamos para onde? – Alfredo pergunta. Ele não quer voltar para o calabouço.

- Se nós vamos investigar os Lordes, nós temos que ser discretos. Vamos começar pelo mais fácil. Eu conheço o meu pai como ninguém. Eu vou saber se estiver mentindo.

- Nós vamos interrogar Lorde Feros? – Alfredo pergunta. Voltar ao calabouço não parece tão ruim agora.

- Nós não vamos interrogar meu pai. Você enlouqueceu? Nós só vamos conversar com ele, despretensiosamente, e eu vou tentar pescar algum detalhe que possa ser útil. Se ele for inocente, eu vou saber. Confie em mim.

Alfredo não confia emDom Aldo, mas ele não ousa contestá-lo. 

Das Cinzas da Era PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora