Capítulo 7 - Ezequiel - Parte 8

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Ezequiel

Na extremidade do salão, diversos homens estão comendo e bebendo em uma mesa junto à parede. No meio deles, uma mulher olha atentamente para o grupo que se aproxima. Ela tem feições delicadas, com nariz pequeno, olhos grandes e cabelos ondulados, presos por uma faixa vermelha.

- Ezequiel – ela diz, sua voz suave e com um toque de malícia. – Eu nunca achei que fosse te ver de novo.

- Eu digo o mesmo. Eu quase não acreditei quando vi o seu navio ancorado na baía.

- Não me diga que ainda está chateado? – Ela dá uma risada e bebe um gole de sua caneca.

- O que você está fazendo aqui, Bone? – Ezequiel pergunta. – Eu jurei que te mataria se te encontrasse de novo.

- Acho melhor você deixar isso para outra hora – ela diz, sorrindo. – Olhe em volta. A situação não está favorável para você. Mas não se preocupe, eu e meus homens não vamos ficar aqui por muito tempo.

- Eu não quero saber quanto tempo você vai ficar. Quero saber por que você veio. Eu não sou o único que quer a sua cabeça.

- Muitos ratos no mar – Bone diz, levantando-se. Ela se aproxima e fixa seu olhar em Hugo. – Ratos muito parecidos com o seu novo amigo. Qual é o nome dele? Eu acho que nunca fomos apresentados.

- Não te interessa.

- Hugo – Hugo diz, sem hesitar. – E eu já deixei a Guarda dos Mares há anos, se é disso que você está falando.

- Quieto! – Ezequiel diz entre dentes trincados.

- Deixe o seu homem falar – Bone diz, colocando uma mão no braço de Ezequiel. – Não me importa que ele tenha sido da Guarda dos Mares. O passado é passado.

- Bone era uma corsária das Ilhas do Esquecer – Ezequiel explica. – Mas hoje em dia, ela é apenas uma pirata comum.

- Você perdeu a sua licença de corsária? – Hugo pergunta.

- Sim. Algumas pessoas não gostavam das minhas práticas – Bone diz. – Mas não tem problema. Eu não preciso da autorização de ninguém para roubar e saquear. – A pirata acena para um de seus homens. – Falando em roubar, por que vocês não me ajudam com um problema?

Ezequiel aperta os lábios e junta as sobrancelhas.

- Você é capaz de resolver os seus problemas sem a minha ajuda.

- Se você quiser ficar aqui na Baía das Focas, esse problema também é seu.

Um dos piratas de Bone puxa um homem ensanguentado e quase inconsciente pela gola de sua camisa. As pessoas que lotam o salão abrem caminho para que ele passe. Ele joga o homem moribundo no chão.

- Quem é esse? – Ezequiel pergunta.

- O nome dele eu não sei – Bone diz, pausando para cuspir no homem espraiado no chão. – O que eu sei é que ele matou homens de Lorde Zek e roubou um carregamento de trigo... e o pior de tudo, fugiu para cá.

- Lorde Zek... isso não é bom.

- Sim. E logo agora... se os boatos forem verdadeiros, Lorde Zek está reforçando a sua guarda e vai receber a visita de alguns amigos bem importantes.

- Os boatos são verdadeiros – Ezequiel diz. – Nós cruzamos com uma frota da Guarda dos Mares a caminho de Agadir junto com navios da Terra do Amanhã e da Terra do Verde. – Ele pensa por um momento, coçando a sua barba. – Se ele roubou um nobre da Ilha Nordeste, por que ele ainda está vivo? Mande a cabeça dele para Lorde Zek e tudo estará resolvido.

- Eu vou matá-lo, mas não adianta mandar a cabeça dele para ninguém.

- Por quê?

- Olhe em volta, Ezequiel. Você viu a baía e os navios que estão ancorados lá. Lorde Zek logo terá mais soldados da Guarda dos Mares e de famílias Imperiais sob o seu comando. Ele está com a faca e o queijo na mão. Lorde Zek vai querer aproveitar a oportunidade para atacar a Baía das Focas, mas ele vai precisar de uma boa desculpa para deslocar soldados para cá nesse momento tão conturbado.

- E você acha que ele vai atacar por terra ou mar? – Ezequiel pergunta.

Bone sorri e coloca a mão no rosto de Hugo.

- Por que você não responde ao seu capitão? – ela diz.

- Ambos – Hugo diz sem hesitar. – Se eles quiserem mesmo nos matar, eles atacarão por terra e por mar.

- Então não vamos perder tempo e vamos fugir hoje mesmo – Ezequiel diz.

- Fugir para onde? – Bone diz. – Deixe que Lorde Zek ataque. Não vê que isso é uma oportunidade? Ele não vai se preocupar conosco se pensar que estamos mortos.

- Isso quer dizer que você tem um plano?

- Eu sempre tenho um plano, querido Ezequiel. E acho que você vai gostar desse.

Das Cinzas da Era PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora