Ezequiel
Na extremidade do salão, diversos homens estão comendo e bebendo em uma mesa junto à parede. No meio deles, uma mulher olha atentamente para o grupo que se aproxima. Ela tem feições delicadas, com nariz pequeno, olhos grandes e cabelos ondulados, presos por uma faixa vermelha.
- Ezequiel – ela diz, sua voz suave e com um toque de malícia. – Eu nunca achei que fosse te ver de novo.
- Eu digo o mesmo. Eu quase não acreditei quando vi o seu navio ancorado na baía.
- Não me diga que ainda está chateado? – Ela dá uma risada e bebe um gole de sua caneca.
- O que você está fazendo aqui, Bone? – Ezequiel pergunta. – Eu jurei que te mataria se te encontrasse de novo.
- Acho melhor você deixar isso para outra hora – ela diz, sorrindo. – Olhe em volta. A situação não está favorável para você. Mas não se preocupe, eu e meus homens não vamos ficar aqui por muito tempo.
- Eu não quero saber quanto tempo você vai ficar. Quero saber por que você veio. Eu não sou o único que quer a sua cabeça.
- Muitos ratos no mar – Bone diz, levantando-se. Ela se aproxima e fixa seu olhar em Hugo. – Ratos muito parecidos com o seu novo amigo. Qual é o nome dele? Eu acho que nunca fomos apresentados.
- Não te interessa.
- Hugo – Hugo diz, sem hesitar. – E eu já deixei a Guarda dos Mares há anos, se é disso que você está falando.
- Quieto! – Ezequiel diz entre dentes trincados.
- Deixe o seu homem falar – Bone diz, colocando uma mão no braço de Ezequiel. – Não me importa que ele tenha sido da Guarda dos Mares. O passado é passado.
- Bone era uma corsária das Ilhas do Esquecer – Ezequiel explica. – Mas hoje em dia, ela é apenas uma pirata comum.
- Você perdeu a sua licença de corsária? – Hugo pergunta.
- Sim. Algumas pessoas não gostavam das minhas práticas – Bone diz. – Mas não tem problema. Eu não preciso da autorização de ninguém para roubar e saquear. – A pirata acena para um de seus homens. – Falando em roubar, por que vocês não me ajudam com um problema?
Ezequiel aperta os lábios e junta as sobrancelhas.
- Você é capaz de resolver os seus problemas sem a minha ajuda.
- Se você quiser ficar aqui na Baía das Focas, esse problema também é seu.
Um dos piratas de Bone puxa um homem ensanguentado e quase inconsciente pela gola de sua camisa. As pessoas que lotam o salão abrem caminho para que ele passe. Ele joga o homem moribundo no chão.
- Quem é esse? – Ezequiel pergunta.
- O nome dele eu não sei – Bone diz, pausando para cuspir no homem espraiado no chão. – O que eu sei é que ele matou homens de Lorde Zek e roubou um carregamento de trigo... e o pior de tudo, fugiu para cá.
- Lorde Zek... isso não é bom.
- Sim. E logo agora... se os boatos forem verdadeiros, Lorde Zek está reforçando a sua guarda e vai receber a visita de alguns amigos bem importantes.
- Os boatos são verdadeiros – Ezequiel diz. – Nós cruzamos com uma frota da Guarda dos Mares a caminho de Agadir junto com navios da Terra do Amanhã e da Terra do Verde. – Ele pensa por um momento, coçando a sua barba. – Se ele roubou um nobre da Ilha Nordeste, por que ele ainda está vivo? Mande a cabeça dele para Lorde Zek e tudo estará resolvido.
- Eu vou matá-lo, mas não adianta mandar a cabeça dele para ninguém.
- Por quê?
- Olhe em volta, Ezequiel. Você viu a baía e os navios que estão ancorados lá. Lorde Zek logo terá mais soldados da Guarda dos Mares e de famílias Imperiais sob o seu comando. Ele está com a faca e o queijo na mão. Lorde Zek vai querer aproveitar a oportunidade para atacar a Baía das Focas, mas ele vai precisar de uma boa desculpa para deslocar soldados para cá nesse momento tão conturbado.
- E você acha que ele vai atacar por terra ou mar? – Ezequiel pergunta.
Bone sorri e coloca a mão no rosto de Hugo.
- Por que você não responde ao seu capitão? – ela diz.
- Ambos – Hugo diz sem hesitar. – Se eles quiserem mesmo nos matar, eles atacarão por terra e por mar.
- Então não vamos perder tempo e vamos fugir hoje mesmo – Ezequiel diz.
- Fugir para onde? – Bone diz. – Deixe que Lorde Zek ataque. Não vê que isso é uma oportunidade? Ele não vai se preocupar conosco se pensar que estamos mortos.
- Isso quer dizer que você tem um plano?
- Eu sempre tenho um plano, querido Ezequiel. E acho que você vai gostar desse.
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Das Cinzas da Era Perdida
FantasyUma traição põe fim à Guerra dos Dois Irmãos e arrasta o Império para um novo conflito. Novas alianças se formam na luta pelo poder, enquanto outros lutam pela sobrevivência em meio ao caos.