Capítulo 7 - Ezequiel - Parte 6

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Ezequiel

Enquanto Gil manobra o Morte Modesta para ancorar no lugar ideal na entrada da Baía das Focas, Ezequiel desce até o interior do casco para procurar por Hugo. As escadas de madeira rangem em protesto a cada passo pesado do Capitão. A luz do sol que adentra pelas pequenas escotilhas não é suficiente para aplacar a escuridão e umidade.

Alguns dos homens da tripulação estão deitados em redes e camas improvisadas, enquanto outros estão em rodas jogando cartas. Ezequiel anda vagarosamente pelo lugar, procurando por Hugo, curvando-se para não bater com a cabeça no teto. Ele cumprimenta aqueles que percebem a sua presença.

Ele encontra Hugo deitado em uma rede, abraçado com a sua espada e com um manto cobrindo o seu rosto. Ezequiel afasta o manto e cutuca o seu Chefe de Armas.

- O que foi? – Hugo diz, confuso e com os olhos ainda entreabertos. Ele se senta e coloca a sua espada sobre as suas pernas. – O que houve?

- Chegamos – Ezequiel diz. – Preciso que você venha comigo até o vilarejo.

- Para quê?

- Ver o que está acontecendo por lá. Venha comigo para o convés e você vai entender.

Os dois sobem para o convés, Ezequiel com seus passos pesados e postura curvada, e Hugo com seus bocejos e resmungos. Eles se aproximam de Gil, que observa alguns tripulantes jogarem a âncora do navio ao mar.

- Parece que todos os bandidos do Império vieram para cá – Hugo diz, observando os navios ancorados na baía.

- Parece que sim – Ezequiel diz. – E se nós formos ficar aqui, quero ter certeza que estaremos seguros. Eu conheço alguns desses navios ancorados aqui, e não gosto nem um pouco do que vejo.

Hugo reúne um grupo de quase trinta homens enquanto o sol se põe, jogando os seus últimos raios de luz por detrás da copa das árvores. Ezequiel ajuda alguns dos tripulantes a preparar os botes, parando de vez em quando para observar a baía.

Quando já está tudo pronto, o grupo se divide em dois botes, postos no mar cada um de um lado do Morte Modesta. As duas pequenas embarcações dirigem-se à praia, desviando dos navios ancorados na baía.

Muitos desses navios são familiares para Ezequiel. As suas bandeiras nunca são as mesmas, para confundir as frotas do Império e da Guarda dos Mares, porém a sua aparência pouco muda. Ezequiel conhece todos os detalhes. Ele sabe reconhecer os navios pelos seus cascos, quantidade de mastros, cor das velas, ornamentos, e às vezes até pela tripulação. Alguns dos galeões que ele vê pertencem a piratas e corsários perigosos, mas que têm mais interesse por ouro do que por sangue. Estes são fáceis de lidar, pois estão sempre dispostos a negociar. Outros, no entanto, pertencem a capitães violentos e sanguinários, dos quais Ezequiel quer distância.

Das Cinzas da Era PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora