Dom Eduardo
Os dois dirigem-se ao grande salão, onde ocorrerá a recepção ao comboio Imperial. Ao chegarem, encontram o salão repleto de nobres. Lordes, Ladies, Barões e Baronesas bebem, conversam e trocam gentilezas uns com os outros ao redor das várias mesas espalhadas pelo local. O salão foi decorado com estandartes das Famílias da Terra do Amanhã, todas elas vassalas do Ninho.
Na parede mais afastada, logo acima do estrado, estão pendurados dois estandartes da família Scliros exatamente iguais, com apenas um detalhe diferente: em um deles, a cobra é verde; no outro, ela é roxa e negra. A presença de dois brasões diferentes da família Imperial deixa Dom Eduardo inquieto.
Todos os presentes viram-se quase ao mesmo tempo quando o Príncipe entra no salão. Dom Eduardo nota que o Imperador Jonas, Lorde Lucas e os Lordes Petros e Baliol não estão presentes, o que significa que eles chegaram muito cedo.
Os dois caminham até o estrado, onde o Príncipe terá um assento de honra.
- Dom Eduardo – alguém diz, colocando a mão no ombro do cavaleiro. Ele se vira para ver quem é.
Apesar de nunca o ter visto sem armadura e capacete, Dom Eduardo o reconhece imediatamente. Trata-se de Dom Pacros, um dos cavaleiros jurados à Família Petros. Durante a Guerra dos Dois Irmãos, ele se tornou uma lenda. Além da sua considerável estatura, sua habilidade e velocidade com a espada lhe renderam a reputação de um dos cavaleiros mais letais de todo o Império.
A estatura de Dom Pacros é intimidadora, mas seu rosto também é amedrontador. Ele tem traços faciais fortes, com um nariz achatado, que aparenta ter sido quebrado diversas vezes, orelhas e bocas grandes, e uma barba longa e desgrenhada. O que deixa Dom Eduardo mais inquieto, no entanto, são os seus olhos, que esboçavam satisfação perturbadora sempre que ele matava um oponente.
- Dom Pacros – Dom Eduardo diz, acenando com a cabeça. – Faz tempo desde a última vez que nos encontramos.
- Eu achei que você estivesse morto. Fiquei um pouco decepcionado, pois achei que eu tiraria a sua vida. – Ele sorri casualmente. – Mas depois soube que você estava ensinando o Príncipe a usar a espada. – Ele olha para João com um sorriso malicioso. – Como ele é?
- Muito bom – Dom Eduardo diz. – Ele será um dos melhores.
- É mesmo? – Dom Pacros diz, num tom quase de deboche.
Príncipe João, com olhar contrariado, aperta o punho de sua espada. Dom Pacros nota o gesto, e aparenta achá-lo engraçado.
- Com licença, Dom Pacros – Dom Eduardo diz. – Nós temos que achar o lugar do Príncipe.
Os dois afastam-se do cavaleiro, andando em direção ao estrado. Príncipe João olha de relance sobre os ombros para Dom Pacros, desconfiado. Apesar de jovem, ele sempre soube fazer bom julgamento das pessoas.
Dom Eduardo conduz o Príncipe para a cadeira onde, tradicionalmente, o herdeiro do trono sentaria. Ao centro da longa mesa posta sobre o estrado, sentará o Imperador. Ao seu lado direito, sentará seu irmão, Lorde Lucas. À sua esquerda, sentarão o anfitrião, Lorde Baliol, e Lorde Petros. O pequeno Príncipe deverá sentar-se ao lado direito de seu tio, Lorde Lucas.
- Cadê o meu pai e meu tio? – o Príncipe pergunta ao se sentar.
- Não sei – diz Dom Eduardo. Na verdade, ele também gostaria de saber onde estão, visto que eles estão atrasados. – Mas eles estarão aqui em breve. Se precisar de mim, basta acenar. Eu estarei naquela mesa ali, bem perto.
- Por que você não pode ficar aqui no estrado? Eu não quero ficar sozinho na frente de todas essas pessoas. Olha, todo mundo está olhando para cá.
- Os lugares no estrado são de grande honra. Não é lugar para um cavaleiro plebeu como eu. Você sabe disso. – Dom Eduardo olha para o salão e vê que o Príncipe tem razão. Todos os nobres lançam olhares curiosos para o estrado de vez em quando. Mesmo sabendo que essas pessoas não estão olhando para ele, Dom Eduardo fica desconfortável e sente empatia pelo Príncipe. – O Imperador estará aqui em breve. Em poucas horas isso tudo terá acabado e você poderá ficar em paz no seu quarto.
Dom Eduardo sente pena do menino. Mal sabe ele que estas pessoas estranhas, membros de famílias nobres da Terra do Amanhã, serão seus vassalos até o final da sua vida. Dom Eduardo ainda não sabe onde o Príncipe irá morar, mas o Imperador deixou bem claro para os líderes da Terra do Amanhã que o menino representará a Família Imperial nestas terras.
O pequeno Príncipe aguarda sozinho no estrado, claramente incomodado com a atenção indesejada e o burburinho inoportuno vindo da nobreza presente no salão. O seu desconforto não dura muito, pois o Imperador chega alguns minutos depois, acompanhado de seu irmão, Lorde Lucas, dos Lordes Francisco Baliol e Emílio Petros, além de uma dezena de cavaleiros e outros nobres de famílias poderosas.
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Das Cinzas da Era Perdida
FantasyUma traição põe fim à Guerra dos Dois Irmãos e arrasta o Império para um novo conflito. Novas alianças se formam na luta pelo poder, enquanto outros lutam pela sobrevivência em meio ao caos.