Ezequiel
Os dois botes tocam as areias da praia quando o céu já está escuro e pontilhado de estrelas. As focas que dão nome à baía voltam lentamente às águas do mar, após um longo dia de sol.
- Quero que vocês se espalhem – Ezequiel diz aos seus homens. – Bebam, joguem, façam o que quiserem, mas mantenham-se atentos. Quero ouvidos e olhos bem abertos. Nós vamos nos encontrar aqui, amanhã de manhã. – Ele olha para Hugo. – Você vem comigo.
Ezequiel escolhe dois outros homens de sua tripulação para acompanhá-los. Um deles, Miguel, é alto e ostenta uma comprida barba, torso largo e braços fortes. O outro, Teles, é mais velho e um pouco mais fraco, mas é rápido com a espada.
Enquanto caminha pelo vilarejo com os seus três companheiros, Ezequiel mantém-se atento. O lugar é humilde e mal iluminado, com ruas de terra batida que fazem curvas inesperadas e casas de madeira espalhadas de forma desorganizada. Aqui e ali, algumas pousadas, bares e bordéis emitem sons de festas, brigas e sexo. Algumas pessoas vagam pelas ruas estreitas e escuras do vilarejo com rostos pouco amigáveis, mas não parecem oferecer nenhum perigo.
- Onde nós estamos indo exatamente? – Hugo pergunta.
- A Pousada do Fundo – Ezequiel responde. – É lá que os principais corsários vão para beber.
- Tem certeza?
- Eu tenho vindo aqui desde quando este lugar era apenas uma selva. Eu conheço todo mundo e todos os lugares. Confie em mim.
Os quatro cruzam o vilarejo inteiro, seguindo as curvas do emaranhado de ruas, até chegarem em uma pousada construída junto à mata. Uma pálida fumaça sai de sua chaminé e é possível ver a luz do seu interior pelas frestas das cortinas velhas e manchadas que cobrem as janelas. O som da música e das vozes pode ser ouvido do lado de fora.
Ezequiel abre a porta sem bater e é recebido por um golpe de ar quente e um cheiro desagradável. A porta principal dá acesso a um salão amplo e longo.
O salão está repleto de pessoas, sentadas nas mesas e em pé, com canecas de bebida nas mãos e espadas nas cinturas. Muitos não notam a chegada de Ezequiel e seus homens, mas aqueles que o veem ficam em silêncio e adquirem semblante sério.
- A julgar pelas expressões, você é conhecido por aqui – Hugo diz, olhando em volta.
Ezequiel responde com um resmungo. Ele caminha em direção aos fundos, sem se preocupar em desviar das diversas pessoas em seu caminho.
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Das Cinzas da Era Perdida
FantasyUma traição põe fim à Guerra dos Dois Irmãos e arrasta o Império para um novo conflito. Novas alianças se formam na luta pelo poder, enquanto outros lutam pela sobrevivência em meio ao caos.