Capítulo 4 - Kyra - Parte 8

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Kyra

Os primeiros raios de sol adentram a casa de Figo pelas frestas nas cortinas. Kyra não conseguiu dormir a noite inteira, pensando em seu irmão. Ela prepara comida para o dejejum, e Figo logo se junta a ela.

- Não conseguiu dormir, não é? – ele pergunta.

- Não.

Ele caminha até a janela e abre as cortinas. Apesar de haver nuvens no céu, os raios de sol iluminam o mundo coberto de neve do lado de fora.

- A tempestade passou – diz Figo. – É hora de partir.

- Então você vai hoje? – Kyra pergunta.

- Era para eu ter ido ontem, mas a tempestade me impediu. Se eu e meus homens conseguirmos partir ainda de manhã, à noite já teremos cruzado o vale em direção às planícies da Terra do Amanhã. O clima vai ser bem menos severo por lá.

- Se eu for com vocês---

- Você vai voltar para o Forte da Tempestade – Figo diz, segurando Kyra pelo braço. – Prometa-me. – Ele a olha nos olhos, mas ela não o responde. – Kyra, prometa-me que você vai voltar para o Forte.

- Está bem – ela diz, puxando seu braço. – Eu prometo.

Figo come apressado, e logo se apronta para ir embora. Quando Tito, Lilly, Setta e os irmãos Meinhard acordam, ele já está de saída.

- Não esqueça de sua promessa – ele diz a Kyra antes de ir embora. – Tranque as portas e apague a fogueira antes de ir embora. Eu vejo você em alguns dias. Quando eu voltar, estarei com seu irmão ao meu lado.

Kyra acena com a cabeça, mas não diz nada. Antes de Figo partir, no entanto, ela o chama.

- O que foi?

- Tome cuidado, por favor.

Ele dá um sorriso, e fecha a porta ao sair. Os seis comem em silêncio, sentados à mesa, enquanto ouvem Figo cavalgando em direção ao salão comum, onde ele reunirá algumas dezenas de soldados para acompanhá-lo.

Kyra termina de comer e se levanta.

- Vai ficar tudo bem – Lilly diz. – Ele vai voltar com o seu irmão. Você conhece o Figo. Ele vai conseguir.

- Eu sei que ele vai – Kyra diz. – E eu vou estar lá para ajudá-lo.

- Kyra, deixa de ser teimosa! – diz Wallis. – Você não ouviu o Figo? Ele disse uma centena de vezes que você não pode ir. Você prometeu, Kyra!

- Eu nunca quebrei uma promessa, mas para tudo tem uma primeira vez.

- Ele não vai deixar – diz Tito. – Não seja tola.

- Ele não vai ter escolha. Quando ele souber, já terei ido longe demais.

- Do que você está falando? – pergunta Setta.

- Eu posso nunca ter ido até o Ninho, mas eu já cruzei o vale centenas de vezes – Kyra diz. – Eu conheço o caminho e todos os atalhos como a palma da minha mão. Figo vai seguir a Estrada Nevada, mas o Rio Fino segue o mesmo caminho, cruzando o bosque. Quando eu me juntar ao Figo e sua tropa, já teremos cruzado o vale. Ele não vai me mandar voltar sozinha e arriscar que eu fique presa em uma tempestade.

- Você é a pessoa mais cabeça-dura que eu já conheci – diz Woloras. – Você é tão cabeça-dura quanto o Wallis é burro.

- Você que é burro! – Wallis protesta.

Kyra veste o seu manto e pega comida na dispensa.

- Vocês podem voltar para o Forte, se quiserem. Tentem não contar nada para o meu pai pelo menos até amanhã de noite. Vai demorar até ele perceber a minha ausência, de qualquer forma.

- Nada disso! – Tito diz, levantando-se. – Eu não vou deixar você ir sozinha!

- Por quê? – Kyra pergunta, botando a mão na cintura. - Você vai me proteger? Esqueceu que eu luto melhor que você?

- Não importa. Eu vou com você.

- Eu também – diz Wallis.

- E eu! – diz Woloras.

Os irmãos gêmeos olham para Lilly e Setta, esperando que elas se juntem ao coro. As duas permanecem caladas. É compreensível, pensa Kyra. Tendo em vista que elas quase morreram por minha causa ontem.

- Vocês têm certeza que querem vir comigo?

- Sim! – os três respondem.

- Vai ser perigoso. Muito perigoso.

- Pode ser que sim – diz Tito. – Mas quando vamos ter outra oportunidade de conhecer o Ninho? Se tivermos sorte, talvez até vejamos seu irmão lutando.

- Tomara que não chegue a isso – diz Kyra. – Quanto a vocês duas, é melhor que voltem ao Forte. Aproveitem que a tempestade passou. Vocês estarão seguras lá. Tranquem-se no meu quarto. Não saiam de lá até amanhã. Se meu pai não as ver, ele não vai se lembrar de perguntar por mim.

As duas acenam com a cabeça, com medo estampado em seus rostos. A possibilidade de ser interrogada por Lorde Tranos amedronta até a própria Kyra.

- Então vamos. Nosso caminho é mais longo. Não podemos perder nem um minuto.

- Vocês acham que os Eruditos vão falar sobre nós quando escrevem os livros de história? – Wallis pergunta.

- Se escreverem, tomara que seja para contar a história de como nós resgatamos Dom Julius – diz Tito.

- Tomara – diz Kyra.

Das Cinzas da Era PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora