Mesmo antes de Lorde Satros Scliros pôr os pés em sua terra, ele já sabia da sua chegada. O povo Maca já sabia há anos.
As notícias sobre as conquistas de Lorde Scliros no grande continente nunca chegaram ao pequeno vilarejo onde moram os últimos descendentes deste povo antigo. No entanto, os Maca não precisam de nenhuma destas notícias para saber o que estava acontecendo do outro lado do oceano que separa as suas terras do grande continente.
Os escritos antigos já prenunciavam o início de uma nova era, cuja história seria escrita com sangue e sofrimento. Esta nova era, que duraria séculos, nasceria fadada a um fim trágico. Filhos trairiam pais, mulheres trairiam seus maridos e irmãos trairiam seus irmãos. Exércitos de cadáveres se enfrentariam em campos cobertos por corpos. Esta tragédia traria um novo amanhecer, que coroaria uma nova liderança capaz de manter a paz no novo mundo dos homens. A morte seria o preço a ser pago por este novo mundo.
O ancião do povo Maca ouve o seu nome ser chamado do lado de fora de sua cabana. Ele sabia que este dia chegaria. Ele já sonhou diversas vezes com este momento. Ele pega o seu cajado, com a cabeça de uma cobra talhada em sua ponta, e caminha em direção às vozes que o chamam.
O sol brilha do lado de fora e, por um momento, tudo que ele vê é um clarão. Aos poucos, a sua visão se acostuma. Ele vê o seu vilarejo tomado por uma dezena de homens vestidos em roupas de ferro e armas em suas cinturas. Um destes homens dá um passo a frente. Ele tem cabelos negros, um rosto longo e olhos escuros como a noite.
- Você é o ancião do povo Maca? - o homem pergunta. - Você fala a minha língua?
- Eu falo todas as línguas, Lorde Satros.
O homem parece surpreso em ouvir o próprio nome. Seus companheiros se entreolham, confusos.
- Pelo jeito você já ouviu falar de mim - diz Lorde Scliros.
- De certa forma, sim. - O ancião analisa o homem à sua frente por um momento. - O que o traz à nossa humilde terra, Lorde?
- Estas são terras do meu futuro Império, e não suas.
- Eu discordo - o ancião diz, com um leve sorriso. - Esta é uma terra proibida, Lorde Scliros. Apenas os merecedores podem permanecer aqui . Nós mesmos não ficaremos aqui por muito tempo. Temo que a estadia do meu povo neste mundo esteja para terminar.
- Seria uma pena.
- De qualquer forma, você não veio aqui atrás de mais terras. Você está aqui por que precisa de ajuda para conquistar o seu último objetivo. Não é?
- Sim. Então você já sabe?
- É claro. Você precisa da ajuda dos deuses para conquistar o seu último inimigo. Lorde Kraas, do Castelo do Ninho.
Lorde Scliros parece ficar agitado quando ouve o nome do seu maior adversário. Os habitantes do vilarejo, por outro lado, parecem assustados. Eles sussurram entre si, observando horrorizados a cena que se desenvolve diante dos seus olhos.
- Os muros do Ninho são impenetráveis para os homens. Somente os deuses podem realizar uma façanha tão grande.
- E eles podem me ajudar? - Lorde Scliros pergunta de forma apressada, dando um passo adiante.
O ancião sorri de forma suave e, se o homem à sua frente tivesse prestado atenção, teria notado que é um sorriso triste, cheio pesar.
- Há um deus capaz de ajudar. Ele pode fazê-lo superar o seu derradeiro obstáculo. Mas há um preço.
- Qualquer coisa!
O ancião gesticula para que Lorde Scliros se aproxime.
- Você não quer ouvir o preço?
- Não. Os deuses podem ter o que eles quiserem.
- Que assim seja - diz o ancião. - Lembre-se que o preço foi pedido. Ajoelhe-se.
Após um momento de hesitação, Lorde Scliros se ajoelha diante do ancião do povo Maca. Todas as pessoas do vilarejo observam os dois em silêncio e com apreensão.
O ancião coloca o dedo sobre a testa de Lorde Scliros, que imediatamente cai desacordado no chão. Seus homens desembainham as suas espadas, mas não há tempo para esboçarem qualquer reação. Lorde Satros Scliros logo recupera a consciência e, com alguma dificuldade, levanta-se. Ele analisa o seu entorno e seus homens parecem levar um susto com a sua aparência.
- Olhos dourados - diz o ancião. - A marca do deus da Morte. Ele atendeu ao seu chamado. Que ele o ajude em seu caminho, Lorde Scliros. Você sabe o que fazer agora.
- Sim - Lorde Scliros diz, desembainhando a espada em sua cintura. - Eu sei exatamente o que fazer agora.
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Das Cinzas da Era Perdida
FantasyUma traição põe fim à Guerra dos Dois Irmãos e arrasta o Império para um novo conflito. Novas alianças se formam na luta pelo poder, enquanto outros lutam pela sobrevivência em meio ao caos.